sexta-feira, 9 de maio de 2008

SEGUNDO CAPÍTULO

Segunda Parte

“Se você quiser saber o seu futuro examine suas ações no presente”





P. Sua Santidade, por que devemos praticar os ensinamentos budistas?



R. Gostaria de responder a esta pergunta descrevendo os três tipos de pessoa que pratica o budismo.
Falando de maneira genérica, desde o pequeno inseto até o mais inteligente ser humano tem o seguinte ponto em comum: todos desejam ser felizes e todos desejam evitar o sofrimento. A maioria dos seres humanos não compreende qual é a causa do sofrimento, ou o que causa a felicidade. Os ensinamentos budistas e a sua prática poderão responder a estas questões.





P. Quais as causas do sofrimento e da felicidade?



R. O Ratnavali, de Nagarjuna, diz: “Toda ação que nasce do desejo, aversão e ignorância produz sofrimento; toda ação que nasce da ausência de desejo, aversão e ignorância produz felicidade”.



Ora, como eu estava dizendo, existem três tipos de pessoa. Como todos os outros seres, a pessoa mais baixa deseja ser feliz e
não deseja nem o sofrimento nem o nascimento nos reinos inferiores de existência, e por isso ela pratica o budismo para criar as causas de renascimento no reino humano ou nos reinos celestiais dos deuses. Ela não tem o poder ou a coragem de deixar completamente o Mundo da Existência. Ela apenas deseja a melhor parte do Mundo da Existência, ela deseja evitar a pior parte, e é por isso que ela pratica a religião budista: para conseguir um renascimento mais elevado.



Agora a espécie de pessoa mediana compreende que a totalidade do Mundo da Existência. não importa onde ela renasça, é sofrimento pela sua própria natureza, assim como o fogo é quente pela sua própria natureza. Ela deseja livrar-se de tudo e atingir o Nirvana, o estado que está completamente além do sofrimento.



A pessoa mais elevada compreende que, assim como ela não deseja o sofrimento, e deseja a felicidade, da mesma forma todos os seres vivos têm os mesmos medos e os mesmos desejos. Ela sabe que, desde que vimos renascendo repetidamente desde um tempo sem princípio no Mundo da Existência, não existe um único ser consciente que não tenha sido nossa mãe ou pai em algum tempo. E como nós estamos tão pertos de todos os seres sencientes, a pessoa elevada é aquela que pratica Budismo a fim de retirar todos esses incontáveis seres do sofrimento.





P. Como devemos praticar?



R. O início de toda prática budista consiste em duas coisas importantes: meditação das Quatro Recordações e Tomada de
Refúgio.



As Quatro Recordações são 1, sobre a dificuldade de conseguir um nascimento humano, 2, a impermanência de todas as coisas samsáricas, 3, o sofrimento do Mundo da Existência e 4, a lei do Carma, a qual significa Causa-e-Resultado.



Falando de maneira genérica, (1) é muito difícil nascer como ser humano. Nós pensamos que há muitos seres humanos, mas se
nós comparamos com o número dos outros seres compreendemos quão poucos nós somos. Por exemplo, em cada um de nossos corpos existem milhões de germens, micróbios, vírus e assim por diante. Estatisticamente as chances de atingir a vida humana são muito poucas. Em certos casos existem muitos lugares de renascimento que não são bons para um ser, como por exemplo onde ele não será capaz de encontrar os ensinamentos do Buda. Existem Oito Desfavoráveis Lugares de nascimento: 1, nos reinos dos infernos, 2, dos espíritos ávidos e 3, dos animais. 4, dos bárbaros, 5, lugares onde os ensinamentos religiosos são incorretos, 6, onde não existe Buda, 7, certos reinos dos deuses e 8, o reino das pessoas mudas. Mesmo que consigamos um nascimento humano, existem Dez Condições Necessárias: 1, é necessário nascer num lugar em que o Buda tenha vindo, 2, um lugar no qual o Buda realmente pregou a religião, 3, um lugar no qual o ensinamento ainda viva, 4, onde os mestres são compassivos o bastante para ensinar, 5, e onde existam seguidores budistas como monges e praticantes leigos. Também existem cinco circunstâncias externas necessárias para si próprio: a pessoa não deve ter cometido nenhuma das cinco faltas ilimitadas[23], porque isto poderia criar grande obstrução.


Esta dificuldade é explicitada também de outras maneiras. A causa do nascimento humano é a realização de atos virtuosos e a
guarda da conduta moral correta; portanto, como só poucas pessoas estão atentas para isto, o nascimento humano tem uma
causa muito rara. De acordo com a natureza, é muito mais fácil nascer de qualquer jeito. A dificuldade é ilustrada com um
exemplo: imagine uma tartaruga cega vivendo no oceano. Flutuando na superfície do oceano está uma roda de um carro de boi.
A tartaruga vem à superfície apenas uma vez a cada Século. Pois bem, há maior chance de a tartaruga colocar sua cabeça no
buraco da roda do que nós termos um nascimento cm forma humana.



A Recordação da Impermanência (2) é que o Buda disse, “Os três reinos da existência são como nuvens no outono; o nascimento e a morte são como os movimentos de um dançarino; a vida dos seres é como uma cascata, como um flash de luz no céu; não pára nem um só momento e logo que começa vai inevitavelmente para sua conclusão”. Tudo é mutável: exteriormente mudam as estações, à primavera se sucede o verão, o outono, o inverno. A criança cresce no adulto e o adulto se torna velho; os cabelos de pretos se tornam brancos, a pele enruga, a vida decai. Isto não é assim? Todas as coisas mudam constantemente. Não existe um único lugar onde alguém pode escapar da impermanência. E como tudo muda constantemente, nós nunca sabemos quando o fim vai acontecer. Uma pessoa pode estar com a saúde perfeita hoje e já amanhã morrer. Nós sabemos duas coisas acerca da morte: Que é certo ela vir, e que não temos nenhuma idéia de quando ela virá. Isso pode
acontecer a qualquer momento, e existem muitas coisas, interna e externamente, que podem ser sua causa. Portanto, se você quiser praticar Budismo, você tem de compreender que tem de começar imediatamente. Você nunca pode estar seguro de amanhã poder fazer qualquer coisa.




P. Como isto nos ajuda? A prática do Budismo vai-nos fazer menos impermanentes?



R. Não nos vai fazer menos impermanentes, mas vai-nos dar a certeza de que, em nossas próximas vidas, teremos menos sofrimentos. A prática do Dharma, da religião, significa resumidamente evitar as ações não virtuosas e realizar as ações
virtuosas. Quando você se conduz desta maneira é óbvio que você será feliz no futuro.





P. Isto significa que, se nós esperamos menos desta vida, nós também sofreremos menos?



R. (3) Como eu disse antes, não importa onde você esteja no Mundo da Existência, você estará sofrendo; sofrimento de três tipos: sofrimento do sofrimento, sofrimento da mudança e sofrimento da existência condicionada. O sofrimento do sofrimento aparece quando você tem uma dor de cabeça ou alguma coisa como tal. É o simples sofrimento que qualquer um aceita e pensa que é sofrimento. O sofrimento da mudança é o sofrimento envolvido na percepção da mudança. Você está com os amigos hoje, mas tem que partir; quando você vai, encontra inimigos. Nada é estável, e vendo isto nós experimentamos o sofrimento da mudança. O sofrimento da existência condicionada significa a insatisfatoriedade da atividade mundana. Nós fazemos muitas coisas no mundo, mas nunca estamos realmente satisfeitos. Existem sempre mais coisas a fazer, que nós não podemos fazer e isto nos causa uma frustração que é sofrimento.



No mais baixo dos Seis Reinos estão os Reinos Infernais, com excessivos calor e frio, e os “infernos vizinhos” que são também
estados de grande sofrimento, e que duram por um período de tempo incrivelmente longo. A causa desses estados de sofrimento é o ódio. Depois existe o Reino dos Espíritos Ávidos que estão torturados por comida e bebida que eles não conseguem engolir, isto é o resultado do desejo e da avareza. O Reino Animal é bem conhecido por nós e nascer ali é causado pela ignorância. O Reino Humano, também, nós conhecemos. O quinto Reino é dos Semideuses que estão constantemente engajados na guerra contra os deuses devido à inveja e que por isso vão naturalmente sofrer em suas futuras vidas. Os Deuses parecem realmente confortáveis. Eles desfrutam de grandes prazeres e de uma vida imensamente longa, mas cedo ou tarde experimentam a velhice e a morte. Como eles nada fizeram e apenas desfrutaram, eles não criaram o mérito para conseguir um
renascimento elevado e vão cair nos estados de grande sofrimento. Os três Reinos Inferiores experimentam exclusivamente o
sofrimento do sofrimento; os humanos experimentam todos três, mas principalmente os dois primeiros; enquanto que os deuses
sofrem fundamentalmente os últimos dois tipos de sofrimento.



A última das Quatro Recordações é o Carma, a Lei de Causa e Efeito. De um ponto de vista Budista, todas as coisas que temos hoje e todas as coisas que fazemos têm uma causa no passado. De fato é dito que, se você deseja saber o que você foi no passado, deve ver a sua situação presente; se você é rico ou pobre, feio ou belo, isto é resultado das ações passadas. Assim o futuro, se será feliz ou de outra maneira vai depender do que você está fazendo hoje. Todas as coisas que você faz hoje vão produzir um resultado no futuro. Se a raiz de uma árvore é medicinal, as flores, as folhas, a casca , tudo que nasce da árvore será medicinal. E como isto, todo ato que nasça fora do desejo, aversão e ignorância vai produzir felicidade. Se a raiz da árvore é venenosa, então todas as coisas que nascem da árvore vão ser venenosas, assim como as ações do desejo, da
aversão e da ignorância produzem sofrimento.





P. Existe uma prática baseada na Lei de Causa e Efeito?



R. A Lei de Causa e Efeito, Carma, é um dos principais ensinamentos do Budismo. Significa que você teria sempre de
praticar coisas virtuosas, já que as ações não-virtuosas vão sempre produzir sofrimento nesta vida assim como na próxima. Se
você não deseja sofrer deveria evitar sua causa; se não existe a causa, não vai haver o resultado, assim com se a raiz da árvore
é removida não haverá mais fruto. Se deseja felicidade deve ter muito cuidado com a causa da felicidade, assim como se
deseja que a árvore cresça deve ter cuidado com sua raiz. Se a raiz é defeituosa, a árvore não medrará.



Assim, antes de começar qualquer meditação deve contemplar estas Quatro Recordações muito cuidadosamente e após isso deve Tomar Refúgio. Tomar Refúgio marca a diferença entre Budistas e Não-budistas: significa que você renuncia, que você se asila.





P. De que maneira renuncia?



R. Você renuncia de si mesmo. Como eu disse, a Existência Mundana é cheia de sofrimento. Existem muitos sofrimentos
óbvios e também muitos que são menos óbvios e os quais as pessoas comuns não percebem. Desejamos estar livres desses sofrimentos, mas presentemente não temos total conhecimento ou total poder para fazer isto, assim não existe quase nada que possamos fazer por nós mesmos acerca disto no presente. Ora, quando você empreende uma ação importante, busca ajuda de uma pessoa poderosa: se você está doente consulta um médico, e se você tem um problema com a justiça, procura um advogado. Assim. quando você deseja proteger-se do sofrimento da Existência Mundana, tem de tomar Refúgio na Jóia Tríplice, que é o verdadeiro auxílio para este empreendimento. A Jóia Tríplice consiste no Buda que é o Guia, no Dharma ( ou
Religião) que é o nosso Caminho, e na Sangha que significa aqueles companheiros espirituais. Desta maneira, o Refúgio Final é apenas o Buda: o Dharma ou Ensinamento tem duas partes: o Ensinamento e a Realização. O Ensinamento é o Tripitaka (discursos de Sutras, Adhidharma e Vinaya), mas isto é apenas um barco que você usa para cruzar o rio: quando chega do outro lado, simplesmente deixa isto para trás. A Realização também tem duas partes: a Verdade da Cessação, e a Verdade do Caminho. A primeira destas é vazia, shunyata, portanto não pode ser um Refúgio final. Assim como a Sangha, mesmos os seus mais elevados membros ainda estão no Caminho, portanto não podem ser um Refúgio final. De forma que, realmente, o Refúgio está apenas no Buda, mas nós tomamos Refúgio no Buda, no Dharma e na Sangha.





P. Isto significa que o Buda é permanente?



R. Sim, sim. O Buda é evidentemente permanente. O Dharmakaya, “o Corpo Verdadeiro”, está além de permanência e
impermanência; e o Sambhogakaya, “o Corpo de Bênção”, também existe. O Nirmanakaya, “o Corpo Aparente”, é a forma que o Buda toma nesta Terra, e tem a aparência de impermanência, ainda que esteja sempre presente em todo lugar, mesmo aqui.





P. O que é a real prática de tomar Refúgio?



R. Tomar Refúgio é realizado de maneira diferente de acordo com intenção de três tipos de pessoa que executa isto, ainda
que as três causas medo, fé e compaixão fazem o mesmo. A real prática é a recitação da prece de Refúgio. A prece mais
simples diz, “Eu tomo Refúgio no Buda, eu tomo Refúgio no Dharma, eu tomo na Sangha”. A reza mais elaborada diz, “Eu
tomo Refúgio no Buda, Dharma, Sangha até atingir a Iluminação; pelo mérito de fazer desta maneira possam todos os seres
alcançar o estado de Buda”.



Mas a mera recitação da prece com sua voz não suficiente; isto deve ser recitado do coração. Se você desejar refugiar-se da chuva, não vai ser de nenhuma ajuda para você dizer casa, você tem que ir e pegar um guarda-chuva, e se fizer isso você estará a salvo da chuva evidentemente. Portanto é necessário tomar Refúgio muito seriamente, com a total crença e, além disso, pensar que, não importa o que aconteça, vai buscar Refúgio apenas na Jóia Tríplice e que você vai sempre permanecer sob esta proteção. Recitando a prece desta maneira e com esta intenção é a primeira prática do Budismo e uma das fundações de toda prática . Tomar Refúgio desta maneira distingue o Budista do não-Budista.



Ainda que esta recitação seja suficiente para fazer de você um budista, é comum uma pequena cerimônia realizada em frente do
guia espiritual. Ele vai pronunciar as palavras da prece que os discípulos repetirão depois dele, prometendo também eles
sustentar os ensinamentos morais do Budismo. Deste tempo em diante, você continua a recitar esta prece com grande devoção.





P. Um renascimento animal é realmente possível para um ser humano?



R. Sim, realmente. Existem muitas estórias de seres animais renascidos como humanos devido às suas boas ações e de seres humanos renascidos como animais, também, como resultado de suas ações más. Alguns animais são extremamente carinhosos, especialmente para com seus filhotes, e por trabalhar duramente eles podem criar suficientes causas de atingir um nascimento humano.





P. Por que o nascimento humano é tão importante?



R. O nascimento humano é extremamente precioso porque, através da vida humana, você pode atingir não somente o mais
alto renascimento e Nirvana, como também podemos praticar o Dharma e conseguir a Iluminação.





P. Realmente nos ajuda ficar pensando muito na impermanência? Nós sempre sabemos que somos impermanentes e
pensar muito nisto vai-nos deixar deprimidos.



R. Sim, isto ajuda. Tsongkhapa disse, “O prisioneiro tem apenas um pensamento: Quando pode ele sair desta prisão? Este pensamento nasce constantemente em sua mente. Seu pensamento sobre a impermanência deve ser assim; medite sobre a
impermanência até que este estado de mente apareça”.





P. Nós estamos mesmos na condição de prisioneiros? Freqüentemente encontramos coisas agradáveis no Mundo da
Existência.



R. Mas este prazer não é permanente, não é? Os grandes prazeres podem levar ao desastre, não é? Assim nós estamos
felizes agora, mas não sabemos o que pode acontecer na próxima hora. Pode ser o completo desastre.



Uma vez que o prazer é impermanente, que é realmente incerto, você não tem a verdadeira felicidade porque o seu prazer está
colorido pela ansiedade. De fato, você não é nunca verdadeiramente feliz porque não sabe o que vai acontecer e assim a ansiedade fica inevitável.





P. Os infernos são metáforas para estados de muito sofrimento ou eles realmente existem tais como são descritos nos Sutras Budistas?



R. Alguma coisa realmente existe, penso. Realmente é dito nos Sutras que eles realmente existem muito mais terríveis do que são descritos porque, diz-se, o Buda não os descreveu completamente. Se Ele os tivesse descrito completamente as pessoas desmaiariam.





P. Como podem ser reais?



R. São tão reais quanto a vida que vivemos hoje. Sim, muitas pessoas pensam que eles não são reais, que são como um
sonho. Mas realmente somos felizes e infelizes nos sonhos, tão real quanto nós somos quando acordamos. Esta experiência presente também não é real, mas pensamos que tudo ao nosso redor é real. O inferno é tão real quanto isto. Claro que o inferno, também , em realidade, não é real. Isto também não é real. O que é isto, então?





P. Os Budas sofrem?



R. Não, eles não sofrem. Eles estão absolutamente livres do sofrimento.





P. Eles vêem o sofrimento?



R. Eles também não vêem o sofrimento.





P. Então como eles podem ajudar as pessoas que estão sofrendo?



R. Eles não sofrem. Esta resposta marca uma das diferenças entre as Ordens Sakya e Gelugpa; os Gelugpas dizem que os
Budas vêem o sofrimento e nós dizemos que eles não vêem. O homem que acordou do sono não tem sonhos. Esta impura cena
samsárica de sofrimento é como um sonho, é como uma ilusão. Assim o homem que acordou desta ilusão não pode mais
sonhar outra vez. Mas devido à sua Bodhicitta (mente de iluminação) e sua compaixão a ajuda aos outros espontaneamente
nasce. Mas o Buda em si mesmo não mais vê o sofrimento. Para ele todas as coisas são transformadas em pura aparência.





P. O Buda está envolvido no “Carma”?



R. Ele pode conseguir o resultado cármico final, o mais alto e o melhor resultado de Carma.





P. Pode alguma coisa acontecer para nós que não seja resultado de nossas próprias ações?



R. Não, nunca.





P. Pode o Buda perceber o resultado de suas próprias ações e das dos outros?



R. Sim, por exemplo tem havido muitas profecias, mas eu não penso que o Buda veja ou perceba estes resultados. Onde existe necessidade de profecia isto apenas acontece espontaneamente.





P. Podemos modificar o resultado das ações passadas?



R. Certamente. A meditação Vajrasattua pode purificar muitas de nossas más ações, porém em todo caso a criação de boas causas e o mérito é de muita ajuda e necessidade.




[23] Matar a mãe, o pai, um Buda, derramar o sangue de um Buda e causar separação entre a Sangha.

terça-feira, 6 de maio de 2008


PRIMEIRO CAPÍTULO
P. Sua Santidade, o senhor poderia dar-nos uma idéia de sua vida?



R. Talvez eu tenha de começar contando a vocês o que aconteceu antes de meu nascimento. O título “Sakya Trizin” significa “Detentor do Trono de Sakya”, e meu avô tinha sido o último Trizin em nossa família. Para ter um filho, meus pais foram em peregrinação ao monte Kailash [você pode ver uma fotografia do monte Kailash no nosso Site], ao Nepal, a Lhasa e ao Sul do Tibet, mas não havia o menor sinal de que um filho
pudesse nascer. Eles já tinham perdido todas as esperanças quando chegaram ao Mosteiro Nalanda. um importante Mosteiro
Sakya, ao norte de Lhasa. e contaram aos abades do mosteiro sobre isso. Os chefes ficaram comovidos e muito preocupados,
porque a linhagem da nossa família, a linhagem do Palácio Dólmã [significa Tare], possuía a tradição do mais esotérico ensinamento Sakya e
além disso muitos dos chefes do Mosteiro tinham recebido esses ensinamentos de meu avo, e assim para eles a continuação da
nossa família era muito importante [1 Sua Santidade está sendo modesto. Sua família é considerada sagrada: os primeiros membros da família Khön foram,
segundo se diz, três irmãos da raça celestial chamada Lha-rig que desceram do céu de Abhasvara e se estabeleceram no pico de uma montanha de cristal do Tibet. Dois retornaram logo mas o mais jovem, Yuse, permaneceu na terra e fundou a dinastia Khön (Apud AMIPA.S.G. The opening of the lotus. Londres. Wisdon Publications. 1987. p. 138) Era muito importante não
interromper esta linhagem]. Eles disseram a meus pais para não perderem a esperança e ofereceram um dos seus melhores mestres para viajar com eles, o Lama Ngawang Lodro Rinchen. Representava grande perda para o Mosteiro,
mas ele era um Lama muito poderoso que poderia realizar todos os diferentes rituais, e em particular suas preces tinham causado o nascimento de crianças em mulheres incapazes de ter filhos antes [sua irmã Jetsun Kushola já tinha nascido]. Depois disto Lama Ngawang Lodro Rinchen viajou com meus pais,
e juntos fizeram muitos rituais e preces para que nascesse um filho. Por fim ficou claro que as preces foram atendidas, e meus pais foram para Tsedong, uma pequena e agradável cidade perto de Shigatse. Decidiu-se que ali era um bom lugar para uma criança nascer, particularmente talvez pela sua reputação como lugar de nascimento de muitos grandes mestres Sakya, como
Ngachang Chenpo Ngawang Kunga Rinchen. De fato eu nasci no mesmo quarto de Ngachang Chenpo [2 Ngagchang Kunga Rinchen (1517-1584) é o 27° mestre detentor da linhagem do Lamdré que começa com Virupa. Sua
Santidade Sakya Trizin é o 44°]. Um outro problema nasceu: a sucessão de dias inauspiciosos astrologicamente. Como meus pais queriam que eu nascesse num dia auspicioso, muitas preces foram feitas. E eu não nasci num dia ruim: nasci no primeiro dia do oitavo mês tibetano (7 de setembro, 1945), que é considerado muito bom. Diz-se que foram vistos sobre a casa arco-íris, e uma imagem de Guru Rinpochê foi oferecida a meu pai, o que eram bons sinais [3 Guru Rinpochê foi introdutor do Budismo no Tibet. “Rinpochê” quer dizer “precioso”]. Mas naturalmente eu não sabia de nada disto.





P. O que acontece quando um filho nasce na sua família sagrada?



R. A primeira coisa, logo que a criança nasce, é que a letra DHIH, a letra de Manjusri [4Manjusri é o Bodissátua da Sabedoria que tudo atravessa. Os Bodissátuas permanecem na Existência para ajudar aos seres. Manjusri é simbolizado com uma espada (que tudo atravessa) e um lótus sobre o qual está o livro da Perfeição da Sabedoria. S.S. Sakya Trizin é considerado uma emanação de Manjusri].
DHIH representa palavra e sabedoria, é escrita na língua da criança com um néctar especial feito de açafrão e muitas outras coisas.





P. Quando o Senhor foi para Sakya?



R. Isto foi depois. Conforme eu disse, que meu nascimento foi celebrado em Tsedong, e foi depois disso nossa família fez uma pequena peregrinação ao famoso santuário de Guru Rinpochê no Sul do Tibet. Depois disso nós retornamos a Sakya onde meu nascimento foi celebrado de novo de maneira mais elaborada.





P. Seus pais morreram quando o Senhor ainda era muito pequeno, não?



R. Sim. Eu não posso lembrar-me de minha mãe. Ela morreu quando eu tinha dois ou três anos, mas eu me lembro de sua irmã, minha tia. Ela foi como uma mãe, para mim. Meu pai morreu em 1950, quando eu tinha cinco anos. Disso eu me lembro muito bem.







P. Quantos anos tinha o Senhor quando os seus estudos começaram?



R. Eu tinha cinco anos. Naquele mesmo ano. Lama Ngawang Lodro Rinchen deu-me minha primeira lição sobre o alfabeto. Nós fomos a um especial altar de Manjusri em Sakya, onde ele me deu a consagração de Manjusri e Achala, e então foi trazida uma antiga cópia do alfabeto Tibetano escrita em ouro, que era usada especialmente pelos filhos de nossa família.
Lama Ngawang leu as letras em frente da Imagem de Manjusri e eu repeti depois dele. Isto era a cerimônia. Depois disto eu tive outro mestre de leitura.





P. Os seus estudos espirituais também começaram?



R. Sim. Tive de memorizar e recitar preces a Manjusri. Lembro-me claramente de tudo isto. Depois da cerimônia, tinha de soletrar sete horas por dia, seis dias por semana, por aproximadamente dois anos. Nós Tibetanos dizemos que quanto mais você pratica soletrando, mais rapidamente você estará apto a ler.





P. Onde o Senhor recebia ensinamentos religiosos nesse tempo?



R. Eu recebia consagrações freqüentemente. De fato, eu recebi de meu pai as bênçãos de Amitayus [nota 5 Buda para longa vida. Ele é uma transformação de Amitaba] para longa vida logo que nasci. Quando eu tinha quatro anos, recebi de meu pai a Consagração de Vajra Kila (Dorje Phurba)[nota 6: Divindade Nyngma que a Ordem Sakya também herdou. Sua prática elimina o ódio e as guerras, além de outras atividades]. Lembro-me
disso muito claramente. Estava sentado no colo de uma atendente pessoal muito querida, e lembro-me, também, quando meu pai deu a parte irada da consagração [nota 7: Consagração ou Wang significa ‘Iniciação’, transmissão, autorização]. Ele estava usando um chapéu e um costume de dançarino do chapéu preto e desempenhou os rituais de dança. Lembro-me mesmo de quem tocou os instrumento musicais!





P. Onde aconteceu isto?



R. No Palácio Dolma. O Palácio Dolma é um enorme palácio, com três principais santuários e muitas outras salas. Ao todo tem cerca de oitenta quartos, e todos os ensinamentos eram dados numa dessas salas de santuário [nota 8: Infelizmente, depois da invasão chinesa o Palácio Dolma foi destruído. Nada se sabe sobre os tesouros artísticos que abrigavam (quadros, estátuas etc). Quando a família Khon fugiu para o exílio, nada levou, pois não
houve tempo nem condições como se vai ler adiante].







P. O Senhor saía algumas vezes do Palácio?



R. Ah, sim, mas não freqüentemente para a cidade. Havia uma área aberta muito ampla de campos ao redor do Palácio, e o rio corria quase perto. Quando não estava estudando, eu costumava sair com um atendente para brincar junto com outras crianças.





P. Quando seus estudos religiosos começaram seriamente?



R. Comecei a estudar leitura no verão de 1950, e no outono fui para o Mosteiro Ngor onde recebi o Esotérico Caminho-Resultado (Lamdré). Meu Guru para isso foi o Lama Ngawang Lodro Shenphen Nyngpo. Abade de Khangsar, Abadia de Ngor [nota 9: o famosíssimo Lama Ngawang Lodro Shenphen Nyngpo (1876 - 1953) é o 6° detentor da linhagem Ngor (uma das sub-seitas Sakya). Foi o principal Guru de Sakya Trizin. Tinha altíssimas realizações espirituais].





P. De que maneira o Senhor se lembra dele?



R. Ele era um Lama muito sagrado, muito avançado espiritualmente, sempre muito calmo, muito lento nos movimentos, e ele fazia tudo com muita perfeição. Naquela época já era muito velho. Ele proferiu o ensinamento em seu próprio quarto para um pequeno grupo, talvez trinta ao todo. Naquele tempo eu era muito pequeno e quase não conseguia ler. Lembro-me de que eu
estava no colo de Khangsar Shabdrung, o sucessor Abade, que segurava as páginas em minha frente e assim eu podia ler as preces introdutórias cada dia. Enquanto o Abade estava ensinando a parte Mahayana pude entender bastante bem, mas não pude entender a seção Tântrica muito bem [nota 10: Mahayana e Tantraiana serão explicadas adiante]. Fiquei muito tempo com o Abade, e enquanto isso continuava a prática de soletração e leitura, lendo algumas biografias. Fiquei cerca de quatro meses em Ngor, estudando, e depois retornei a Sakya.

No ano seguinte visitei Lhasa pela primeira vez e encontrei Sua Santidade o Dalai Lama que me confirmou como “designado Sakya Trizin”. Fiquei quatro meses em Lhasa visitando muitos mosteiros ali e no Tibet Central. Nós visitamos Nalanda e também Samyé, e então retornamos através do Sul do Tibet onde visitei muitos lugares sagrados e mosteiros em peregrinação [nota 11: Lhasa é a capital do Tibet. Nalanda e Samyé são famosos mosteiros].


Durante aquelas visitas eu trabalhava duramente memorizando o Hevajratantra, que é o texto básico da prática religiosa Sakya.
Então, no início de 1952, fui entronizado numa cerimônia simples; como eu era então muito jovem a entronização total viria mais tarde. Eu tive de recitar completo o Hevajratantra em frente do colégio dos monges oficiais e mestres do mosteiro tântrico em Sakya: isto era considerado um teste de habilidade por que todos os monges tinham de passar. Eu tinha apenas seis anos, mas é com
felicidade que digo que passei recitando tudo corretamente. Depois disto, assisti à recitação mensal daquele Tantra por todos os monges do Mosteiro Tântrico: era a primeira cerimônia a que eu assistia ali. Depois deixei Sakya para assistir à entronização do Panchen Lama em Shigatse, que durou muitas semanas. Naquela viagem eu já fui com a total dignidade e acompanhamento
de um Sakya Trizin.

Retornei a Ngor no verão para receber o Ensinamento Esotérico Caminho-Resultado (Lamdré) de Khangsar Khenpo [nota 12: A palavra Khenpô significa “mestre em filosofia”, não é nome próprio. Significa Professor Khangsar], durante o qual ele teve de freqüentemente parar para dar outros Ensinamentos, como as instruções de Vajra-Yogini, o Zenpa Zidel e muitas outras importantes instruções. Ao todo. o curso durou um ano, até que eu tive de retornar a Sakya, a pedido dos chineses, para algumas palestras. No início de 1953, outra vez retorno a Ngor para retomar os estudos ali, mas infelizmente Khangsar Khenpo faleceu justamente antes que tivesse terminado o total ensinamento o que foi concluído por seu sucessor.
Retornei a Sakya antes de setembro porque naquele ano eu testemunharia a cerimônia anual do ritual de Vajra Kila, que ocorre sempre no sétimo mês tibetano [mais ou menos em setembro]. A seguir iniciei um retiro de meditação de Hevajra no Palácio Dólmã [nota 13: Hevajra é o principal tantra Sakya. Tantra é um texto relacionado à prática de uma divindade, no caso Hevajra. O Tantra de Hevajra foi transmitido por Vajra Nayratma (consorte de Hevajra) ao mestre indiano Virupa (837 - 909) no ano de 897, ano de
Cristo. Após isto, Virupa se tornou um Mahassida, ou seja, um ser tão poderoso que era capaz de imobilizar o Sol com um sinal de sua mão. Os ensinamentos derivados do Tantra Hevajra são chamados de Lamdré (caminho que inclui o resultado)].

DITOS ELEGANTES

O PRECIOSO TESOURO DOS DITOS ELEGANTES (conclusão)
SAKYA PANDITA
(1182-1251)
Trad. Rogel Samuel



Quando a virtude falha, a doença surge.
Quando legítima descendência está ausente, um bastardo nasce.
Quando riqueza foi esvaziada, muitos desejos surgem.
Quando vida estiver gasta, os sintomas de morte aparecem.


Se a pessoa não cometeu nenhuma ação má,
Os deuses não podem pôr culpa.
Pode uma fonte ser bloqueada por amontoando de terra
Quando não foi seca previamente?


Até mesmo podem ser desviadas grandes mentes
Se guiadas de uma maneira atraente.
Os que não seguem o Dharma
Adotam as práticas de falsos professores.


Quando um homem fica muito famoso por suas riquezas,
Ele é destruído por sua riqueza.
É comum que são assaltados os homens ricos,
Mas os mendigos atravessam sem dano.

Se um homem fica renomado pela sua força
e habilidade,
Ele propõe a sua própria destruição.
Muitos dos que foram mortos na batalha
Foram fortes e hábeis.


Riquezas, inteligência, e força virão a você
Se você pratica ações virtuosas;
Mas, estas ações ausente,
Riqueza e força se tornarão sua ruína.


Um homem sábio, sempre que ele age,
Tem que considerar os efeitos morais.
Entre cem pessoas, é raro achado
Mesmo um de méritos morais realizados.


Quando um tanque cheio de água é quebrado,
Escoará certamente por todo lado.
Homens fracos que crescem ricos
Raramente deixam uma herança.


Raramente um homem tem riqueza e filhos.
O que tem ambos freqüentemente é destruído.
Quando a pessoa está sob todos os aspectos contente,
Ele é levado freqüentemente para a morte cedo.


Uma pessoa que é sob todos os aspectos próspera
É que adquiriu mérito.
Um homem que aumenta sabiamente a sua virtude,
Resulta em prosperidade.


Ele que pensa assim, “eu o enganarei",
De fato se engana.
Se uma pessoa mente até mesmo uma vez,
Ainda que posteriormente fale a verdade, será duvidado.


Ele que não examina o que é bom e ruim,
E prejudica o vizinho em um ajuste de raiva,
É como a andorinha
Que perdeu seu companheiro.


Aplique-se agora e na próxima vida.
Sem esforço você não pode ser próspero.
Embora a terra seja boa,
Você não pode ter uma colheita abundante sem cultivo.


Um homem inteligente tem que dar consideração devida
Até mesmo a assuntos pequenos.
Se ele tem sucesso, o que poderia ser melhor?
E, se falta, é bom ter agido prudentemente.


As mentes dos homens são muito diferentes,
E é difícil de satisfazer os desejos de tudo.
Mas o que é realizado em todas as qualidades boas
Vem mais perto de cumprir todos os desejos.


Aumente sua sabedoria, até mesmo em sua idade avançada.
Na próxima vida, será útil a você.
Sem sabedoria até mesmo suas esmolas não serão de nenhum proveito.


Você pode manter companhia com os que são realizados em conhecimento
Ou com homens ordinários.
Você pode facilmente levar uma garrafa com você,
cheia ou vazia.


Para que serve um homem
Que adquiriu pouco conhecimento?
Quem levaria um pote de água na sua cabeça pela metade
Quando poderia estar cheio?


Aquele que entende bem
A diferença entre um homem excelente e um baixo
Sabe agir.
Esta é a grande fundação da prosperidade.


Tomando uma resolução firme para a perfeição,
Um homem humilde pode ficar grande.
Se um papagaio é bem instruído,
Ele pode aprender distinguir o valor.


Homens de poucas habilidades
Podem ter sucesso se eles dependem do grande.
Uma gota de água é uma coisa pequena;
Unida com um lago nunca seca.


Embora um homem não seja inteligente,
Ele pode consultar o sábio prudentemente.
A mão não pode matar um inimigo,
A menos que leve uma arma em aperto firme.


Até mesmo um inimigo perigoso pode ser feito um aliado
Se os próprios meios são conhecidos.
Uma quantidade grande de veneno dana o corpo,
Mas a mistura certa de veneno até mesmo trabalha para saúde.


Aceite humilde a comida e dinheiro oferecido a você para sua aprendizagem.
Escute os outros e deixe para trás o orgulho.
Você pode tirar a fruta do topo de uma árvore,
Mas se você alcançar mais alto, cairá.


Se você não tem força suficiente,
Seja paciente com seu inimigo.
Quando você é bastante forte,
Então faça o que parece ser melhor.


Trate com respeito devido
E recompensa liberal as pessoas ao redor de você.
É dito que com sacrifícios e oferecimentos
A pessoa recebe dádivas dos deuses como também de outros seres.


Quando feito corretamente,
Um príncipe pode taxar os súditos dele sem os oprimir.
Uma árvore seca
Se muito suco se lhe tira.


Cuidadosamente esconda o objetivo de suas ações;
Freqüentemente é uma fraqueza mostrar suas intenções claramente.
Teriam sido descobertos os olhos do ladrão,
se uma corda não tivesse sido amarrada
ao redor do pescoço dele?


De que uso são comida e bens
Rejeitados por outros?
Que homem sábio tocaria tais coisas sujas
Comidas por cachorros e suínos?

Nós nunca deveríamos usar expressões
Que possam ferir quaisquer inimigos.
Eles se voltarão imediatamente contra nós
Como um eco de uma pedra.


Se você deseja prejudicar um inimigo,
Faça-o perfeito com todas as qualidades boas.
Assim, seu inimigo será mortificado,
E seu você melhorará em virtude.


Só um bobo é bondoso com um inimigo,
Depois de ser tratado severamente por ele.
O que deseja curar seu corpo do câncer,
Tem que remover a porção maligna com uma faca.


Embora nossos aliados estejam bravos conosco,
Nós não os devemos abandonar.
Embora um inimigo nos trate com bondade,
Nós não devemos abraçar a causa dele.
Embora um corvo fira outro corvo,
Eles não apóiam uma coruja.


Um homem sábio, em grandes ou pequenos assuntos,
Tem que agir com consideração devida.
Se atacando uma lebre ou um elefante,
O leão não tem nenhum tempo para indecisão.


Residindo com homens excelentes,
Nós podemos ganhar assim,
Como pássaros do Sumeru
Que brilham como ouro.


Se você depende de um grande mas invejoso homem,
Você nunca obterá renome.
Veja como a lua declina
Depois de vir muito perto do sol.


Quem pode associar-se com um homem
Que não mantém nenhuma amizade?
Embora um arco-íris seja bonito,
Só um bobo confundiria isto com uma jóia.


O que nós não gostamos para nós mesmos,
Nós nunca deveríamos fazer para outros.
Quando somos feridos por outros,
Devemos refletir o que nós pensamos de nós mesmos.


Se a pessoa faz a outros
O que é agradável a si mesmo,
Outros, da mesma maneira,
Devolvem a bondade.


Homens de mente fraca pensam
Que tudo o que eles dizem está errado.
Os que pensam assim e falam pouco
São muito suspeitos para os outros.


Está sempre contente
Quem tem a oportunidade de depender do excelente,
De consultar o instruído,
E de conversar com o agradável.


Só fale no lugar e tempo próprio,
Depois de ter feito as devidas considerações.
Se você profere muito freqüentemente declarações elegantes,
Até mesmo estas perdem seu valor.


Os defeitos de um homem instruído
Raramente são considerados imperfeições.
Os que acusam traem,
São freqüentemente homens defeituosos.


Se tem um amigo sábio como companheiro,
Uma besta selvagem pode realizar ações úteis.
Mesmo se não tem riqueza ou criados,
Quanto mais poderia ser feito por um homem?


Nós não deveríamos unir-nos com um inimigo
Que lutou muito tempo contra nós,
Embora ele queira nossa amizade.
Se o fogo se encontra com água quente,
Não será extinguido?


Nós podemos confiar em um inimigo
Se ele é agradável, íntegro, e honesto.
Eu ouvi que, recorrendo a um inimigo bom e suave para proteção,
A pessoa foi defendida por ele no fim da vida.


Embora você se familiarize bem com o assunto,
Faça tudo com a consideração devida.
O que isso negligencia
Deve pagar afetuosamente por sua indiscrição.


Se você recorre a um inimigo para proteção,
Mostre-lhe todo respeito e reverência.
O corvo, dependendo de um rato,
De acordo com o Puranas, foi salvo.


Como é possível falhar em seus negócios,
Ainda que você aja com discrição?
Se um homem perspicaz caminha discretamente,
Ele não evitará o precipício?



Quanto mais você deseja ser exaltado,
Mais você deve empreender ser útil a outros.
Os que desejam aplicar maquiagem
Primeiro limpam o espelho.


Se você empreende conquistar um inimigo,
Exercite todas suas qualidades boas.
Veja como eles são confundidos
Os que assistem seus inimigos preparar suas armas.


É impossível neste mundo
Obter seu desejo por abuso.
Embora egoísta em sua mente,
Seja afável a tudo falando.


Usemos de meios severos e suaves
Se nossa preocupação é para o bem-estar dos outros.
O Buddha não chamou isto astúcia
Empregar meios sábios em nossas ações.


Quando o homem prudente abaixa sua cabeça,
A falta cai no que abusa.
Quando uma vela é segurada para baixo,
Queima a mão do proprietário.



Cada coisa deveria ser colocada
De acordo com seu próprio uso.
Um chapéu não é usado nos pés,
Com sapatos não se fazem chapéus bons.


Ao fazer trabalho importante,
Ache um sócio bom.
Se você deseja queimar uma floresta,
Você precisa da ajuda do vento.


Não seja aflito se você é pobre,
Nem seja elevado com alegria se é rico.
Antes, considere as conseqüências
De suas ações.


O que presta homenagem a outro professor
Quando o Buddha, protetor de homens,
vive perto,
É como um homem que guarda um bem
No banco de um rio corrente.


Ações para as quais nós estamos bem acostumados
Não têm nenhuma dificuldade.
Como nós aprendemos bem nossas habilidades mundanas,
Assim nós podemos praticar virtudes sem dificuldade.



Para um homem que está contente com o pequeno,
A riqueza é inesgotável.
O que busca continuamente e nunca está satisfeito
Experimenta uma chuva constante de tristeza.


Dê os bens que você recebeu
Para os outros de acordo com a sua necessidade.
Como o mel da abelha,
Ali acumulou tesouros desfrutados eventualmente por outros.


Se você emprestar dinheiro, é incerto
Que será reembolsado;
Mas se você dá esmolas ainda que pequenas,
Seu retorno será cem vezes maior.


Temendo o empobrecimento da sua família,
Um homem tacanho acumula ansiosamente o pouco que ele tem.
Um homem sábio, enquanto esperando para uma posição boa,
Dá as esmolas para os outros, como agrados.


Embora as crianças sejam amadas pelos pais,
Elas não devolvem amor com respeito.
Depois que os pais cuidam muito tempo
das suas crianças,
São menosprezados quando envelhecerem.


Os que se tornaram os escravos do mundo
Correm atrás de riquezas ao preço da destruição.
O homem sábio, entretanto, obtém riqueza,
E está contente de dar isto a outros.


Se você quer lutar contra um inimigo que o prejudica,
Então subjugue suas próprias paixões.
Assim você fica perfeitamente livre de dano;
Por causa de suas paixões desde o princípio você tem vagado no mundo.


Se você deseja destruir todos seus inimigos,
Você nunca achará o fim de matar.
Mas se você pode subjugar seu próprio desejo,
Todo inimigo é destruído imediatamente.


Se você está bravo com homens poderosos e maliciosos,
Você só se ferirá.
Que razão é estar bravo
Com o virtuoso e o sábio?


Ervas que crescem no mesmo jardim
São espalhadas pelo vento nas dez direções.
Homens que nascem junto
Estão separados pelos efeitos das suas ações.



Se você apropriadamente deseja seu próprio bem-estar,
Primeiro busque o dos outros.
O que busca só seu próprio benefício
Não tem sucesso no seu propósito.


Um homem tolo que não aprende
acredita tudo ser um milagre.
Um homem sábio, tendo estudado, admira tudo,
E, entretanto, velho,
Adquire conhecimento para seu nascimento futuro.


O bobo busca não adquirir conhecimento,
Não tendo nenhuma mente para entender.
Por esta mesma razão, deveria empreender ele
Melhorar a sua compreensão.


O que não ganhou conhecimento no nascimento anterior
É ignorante na vida presente.
O que teme ignorância na próxima vida,
Tem que estudar assiduamente.


“Medite! Não há nenhuma necessidade para aprender através de instruções,”
Diz o bobo. Contemplação sem instrução prévia,
Embora diligentemente procurada, é o modo da besta.


É pela perfeição de sabedoria
Que a onisciência difere do conhecimento comum.
Como esta doutrina infalível seria verdade,
Se, sem aprender, a pessoa pudesse ficar instruída?


Meditação sem ouvir,
Embora tenha sucesso durante algum tempo, falhará logo.
Você pode derreter ouro e pode pratear,
Mas, levado do fogo, eles endurecem novamente.


Embora um trabalho literário seja excelente,
O a quem falta compreensão não o apreciará.
Embora um ornamento de ouro atado com jóias é bonito,
Um boi olharia de perto isto?


Saiba bem o que é verdade—
Que é expresso nas declarações elegantes de homens instruídos.
Se você não entende e não pratica,
De que uso são outros estudos?



Embora um homem inteligente saiba muito por si próprio,
Ele estuda os textos de um professor instruído.
Embora metal precioso seja muito belo,
Seu valor grandemente aumenta depois que
foi fundido.


Embora haja muitas florestas,
O sândalo só cresce em lugares raros.
Embora haja muitos homens instruídos,
Raramente são achadas declarações elegantes.


São vistas as qualidades de ouro e prata quando são derretidos.
A bondade de um elefante aparece quando ele entra no campo de batalha.
Um homem instruído pode ser julgado
Pela composição dele de declarações elegantes.


Ele que se familiariza com os
modos do mundo
Exercita verdadeira religião.
O que pratica virtude
É a biografia viva de um santo.

domingo, 4 de maio de 2008

Sua Santidade Sakya Trizin


Conselhos de

Sua Santidade Sakya Trizin


aos praticantes de Dharma



Durante o Lam Dre Lob Shey em Vajradhara Gonpa, Austrália, em maio de 1997 Sakya Trizin concedeu uma pequena entrevista a um jornal de Dharma no meio de seu horário muito ocupado. Aqui está a entrevista.

Pergunta - Sua Santidade, em seus recentes ensinos em Vajradhara Gonpa você falou de bondade e compaixão. Você por favor poderia dizer algo sobre usar estas qualidades na vida cotidiana, especialmente nestes tempos difíceis?

Sakya Trizin - Toda vida humana está baseada em bondade e compaixão porque nós nascemos devido a bondade e compaixão e mantemos nossas vidas com isto e nós também terminamos com bondade e compaixão. Eu quero dizer, nossa existência diária como pessoa viva hoje é devido a bondade. Então como o todo de nossa vida depende de bondade e compaixão, se nós sentimos que isto é importante para nós também devemos praticar para os outros. Nós temos que mostrar bondade e compaixão. E isto não só está no Budismo. Muitas religiões enfatizam como a bondade e compaixão são importantes.

Particularmente nos ensinos do Buddha, ele fala sobre a bondade imensurável. Eu quero dizer, todo o mundo tem uma certa quantidade de bondade, até mesmo os animais mais ferozes também têm alguma forma de bondade, por exemplo, para com os próprios filhotes. Mas é dito que a bondade genuína, especialmente nos ensinos de Mahayana, não tem nenhum limite. A bondade e compaixão que você pratica não só é para as pessoas com quem você tem uma conexão, como seus amigos e parentes, mas até mesmo para essas pessoas que são desconhecidas ou que são objetos de raiva como seus inimigos. É pela prática de bondade e compaixão que se pode superar estas dificuldades e obstáculos. Usando bondade como uma arma mundana que o Buddha pôde derrotar todos os milhões de maras.

Pergunta - Para nossas vidas diárias você disse que nós precisamos ter uma compreensão correta da lei de causa e efeito. Você poderia explicar isto, Sua Santidade?

Sakya Trizin - Você sabe que o Buddha fala sobre a lei de causa e efeito. O todo de nossa vida, a experiência que nós temos agora, não é só coincidência, nem é sem causa. Cada coisa têm que ter sua própria causa especial, correta, completa, e condições. E o Buddha diz que todos nossos sofrimentos, dores físicas, dores mentais, todas as coisas miseráveis que estão em nossa vida, são o produto do que nós cometemos no passado, ações negativas que nós cometemos. Assim disto aprendemos como prejudicial é cometer ações negativas.

Ninguém deseja ter sofrimento. Todo o mundo deseja ser livre de sofrer. E se uma pessoa realmente desejar ser livre de sofrer no futuro, então é importante evitar as causas do sofrimento e tentar criar as causas da felicidade. Isto não está nas mãos de outra pessoa. Nenhuma força externa, nem mesmo a deidade mais poderosa, pode fazer você feliz a menos que você queira ser. Por exemplo, até mesmo o melhor doutor não o pode curar de sua doença a menos que você tome o medicamento e siga as instruções.

Semelhantemente, o tipo de vida que nós vamos enfrentar no futuro está completamente em nossas próprias mãos. Nós temos que evitar as causas erradas e nós temos que tentar criar as causas certas porque, na nossa vida, prosperidade, vida longa e felicidade são um produto de todas as ações boas que fizemos no passado. E se uma pessoa realmente desejar ter felicidade e ser livre de sofrer, é importante evitar as causas de sofrer e tentar criar as causas de felicidade.

Pergunta - Muitos de nós entendemos que o que nós experimentamos externamente é uma projeção de nossa própria mente. Mas como nós podemos interiorizar melhor estas experiências de forma que nós possamos entender e usar no caminho?

Sakya Trizin - Você vê, o todo de nossa vida é visão ilusória, é tudo ilusão. Primeiro é duro perceber que seja tudo ilusão. Exemplos muito bons são determinados como um sonho. Enquanto você estiver sonhando, o sonho é tão real quanto esta vida. Em seu sonho você pode estar contente, triste, você pode ter sofrimento etc, você pode ter raiva, todos os tipos de coisas, e é tão real quanto agora. Mas quando você está acordado, então todas as coisas que você viu, os países, os animais, as pessoas, os lugares onde estava, nada, não há nem mesmo um sinal do que você viu em seu sonho. Assim usando como exemplo, podemos entender que nossa vida presente aqui também é igual um sonho. Não é real. É visão ilusória. É criado por nossa mente. É nossa projeção natural. Assim através dessa compreensão, eu penso que isto o faz vir mais íntimo ao contato da realidade última.

Pergunta - Em seus ensinos você falou de usar a boa fortuna e as dificuldades como oportunidades. Mas alguns de nós achamos isto difícil de manter aquela perspectiva quando nós estivermos no meio do sofrimento. Você poderia dizer algo sobre isto, Sua Santidade?

Sakya Trizin - Quando nós enfrentarmos dificuldades, claro que é duro todo o mundo perceber que fomos associados desde o sem princípio com ações negativas e os resultados assim se aconteceram. Eu quero dizer, quando você estiver contente, todo o mundo pode compreender com isto, até mesmo as pessoas que não têm nenhuma idéia sobre qualquer influência espiritual pode compreender com felicidade.

Mas quando você enfrenta dificuldades e quando você enfrenta desastres, esse tempo é como uma tentativa. Naquele momento você pode enfrentar realmente a situação. Naquele momento é importante usar o conhecimento e a experiência que você ganhou pelo estudo de Dharma. Naquele momento é importante usar isto. Caso contrário, não é de nenhum uso. Apenas aprendizagem, apenas falar sobre o Dharma não é bastante. Nós realmente deveríamos usar o Dharma quando nós enfrentarmos uma tal situação. Então tem que ter uma compreensão do Dharma porque naquele momento o Dharma pode lhe dar a maior ajuda e a maior força.

Pergunta - Em 1988 você deu o Lam Dre Tsog Shey em Vajradhara Gonpa. Agora você voltou para dar o incomum Lam Dre Lob Shey aqui. Em ambos os eventos você enfatizou a importância da linhagem autêntica. Você poderia explicar como esta pode ser uma inspiração aos praticantes?

Sakya Trizin - Sim, especialmente nos ensinos de Varjrayana é muito importante ter a transmissão ininterrupta de qualquer linhagem. Do próprio Buddha até agora os ensinos foram passando de um mestre para outro. E então os grandes mestres são nossos exemplos, como nós deveríamos ser e o que nós deveríamos fazer. Também muitos deles eram no princípio pessoas ordinárias como nós, mas pela prática eles tiveram sucesso tendo tal grande realização. Assim nós temos que seguir nos passos deles. E assim eu penso que é muito importante saber as biografias dos mestres de linhagem.

Pergunta - Desde então sua última visita, Sua Santidade, que mudanças notou na prática do Dharma no Ocidente?

Sakya Trizin - Eu penso há muita melhoria. Eu posso ver agora que é muito mais maduro, muito mais familiar. Pessoas sabem muito mais sobre isto mas também na prática. Eu posso ver isso.

Pergunta - Com as expansões do Dharma no Ocidente, Sua Santidade, que conselho daria você a praticantes no caminho?

Sakya Trizin - Eu penso que é de verdade muito importante enfatizar as práticas preliminares. Aqui as pessoas ocidentais tendem a fazer muitas coisas de uma só vez. E até mesmo quando eles não estão preparados, gostam de entrar nas práticas muito altas e assim sucessivamente. E a pessoa não pode ir para tal prática alta sem uma fundação forte. Assim os ensinos de fundação e as meditações são muitíssimo importantes. Sem essas fundações sólidas de conhecimento e pratica, a pessoa não pode construir as práticas mais altas. Assim minha mensagem é que, não importa quanto tempo leve, é muito importante fazer a fundação, as práticas preliminares comuns e incomuns corretamente. E então se você fizer isso corretamente, eu penso que no futuro ensinamentos mais avançados poderiam ser muito efetivos.

Pergunta - Há qualquer outra coisa que você gostaria de dizer, Sua Santidade?

Sakya Trizion - Eu acho a Austrália um país muito bonito e também as pessoas são muito agradáveis. E a coisa mais agradável que eu acho aqui é que todas as raças diferentes, nacionalidades diferentes, filosofias diferentes e religiões todas vivem juntas em harmonia completa. Isto, eu penso, é mesmo, muito importante. E isto deve ser mostrado em outros países como exemplo de como raças diferentes e filosofias e religiões podem viver juntas, porque há necessidade agora para todo o mundo ser unido e com união e esforços unidos ajudar outros seres humanos da mesma categoria.

CONSELHO PARA MIM MESMO

por

JETSUN RINPOCHÊ
(Jetsun Rinpoche Dragpa Gyaltsen)


Prosternações para Manjushri!
Eu sou apegado à corrupção e dedicado ao dharma mundano,
Desfruto conversa e avidamente descrevo as faltas dos outros.
Não percebo minhas próprias faltas e entro em competição com inferiores,
Que eu cesse este comportamento que contradiz os meios certos.
Diligentemente recorde o dharma mundano,
Fortemente me lembre dia e noite
De tomar refúgio na Tríplice Jóia Preciosa.
Cuidadosamente mantenha quaisquer votos de Pratimoksha recebidos.

Mantenha a linhagem de Bodhisattvas,
Seja extremamente dedicado à mente de Iluminação.
Recite a Oração de Sete-ramos e o Sutra de Três Montes três vezes.

Nas primeiras e últimas partes da noite,
Não durma, mas diligentemente execute iogas.
Ao surgir da meditação e entre as sessões
Pratique de acordo com os sutras e comentários.

Seja diligente mantendo samaya raiz e filial.
Diligentemente faça oferecimentos aos mestres professores santos.
Proteja as mentes dos seres vivos sem exceção.

Quando ondas de pensamento não-virtuoso surgir,
Fortemente aplique o antídoto e os remova.
Se você não se pede assim,
De onde a solicitação virá?

Até mesmo quando fortemente pedindo assim,
Praticar de acordo com as escrituras é extremamente raro.
Se eu não jurar empreender este comportamento,
Possam minhas ações brancas nunca trazem para resultado.

Aplicando esta solicitação de ego a mim,
Eu peço desculpa a meus professores por todos os enganos.


Estes versos conhecidos como " Conselho a mim mesmo " foram escritos pelo Sakya Upasika Dragpa Gyaltsen. (Sakya Kambum, Trabalhos Colecionados de Dragpa Gyaltsen,
volume Ta, página 308.)

sábado, 3 de maio de 2008

A MISSÃO DE PURNA


Olavo Bilac


(Do Evangelho de Buddha)
[Mantivemos a grafia original]



Ora Buddha, que, em prol da nova fé, levanta
Na India antiga o clamor de uma cruzada santa
Contra a religião dos Brahmanes, - medita.

Immensa, em torno ao sabio, a muldidão se agita :
E há nessa multidão, que enche a planicie vasta,
Homens de toda a especie, Aryas de toda a casta.

Todos os que (a principio, enchia Brahma o espaço)
Da cabeça, do pé, da côxa ou do antebraço
Do deus vieram á luz para povoar a terra :
- Kchátrias, de braço forte armado para a guerra ;
Çakias, filhos de reis; leprosos perseguidos
Como cães, como cães de lar em lar corridos ;
Os que vivem no mal e os que amam a virtude ;
Os ricos de belleza e os pobres de saúde ;
Mulheres fortes, mães ou prostitutas, cheio
De tentações o olhar ou de alvo leite o seio ;
Guardadores de bois ; robustos lavradores ,
A cujo arado a terra abre em fructos e flores ;
Creanças ; anciãos ; sacerdotes de Brahma ;
Párias, Sudras servis rastejando na lama ;
- Todos acham amor dentro da alma de Buddha,
E tudo nesse amor se eterniza e transmuda...
Porque o sabio, envolvendo a tudo, em seu caminho
Na mesma caridade e no mesmo carinho,
Sem distincção promette a toda a raça humana
A bemaventurança eterna do Nirvana.

Ora, Buddha medita...
Á maneira do orvalho,
Que, na calma da noite, anda de galho em galho
Dando vida e humidade ás arvores crestadas,
- Aos corações sem fé e ás almas desgraçadas
Concede o novo credo a esperança do somno :
Mas... as almas que estão, no horrivel abandono
Dos desertos, de par com os animaes ferozes,
Longe do humano olhar, longe de humanas vozes,
A rolar, a rolar de peccado em peccado?...

Ergue-se Buddha :
"Purna!
O discipulo amado
Chega :
"Purna ! é mister que a palavra divina
Da agua do mar de Oman á agua do mar da China,
Longe do Indus natal e das margens do Ganges,
Semeies, atravez de dardos, e de alfanges,
E de torturas ! "
Purna ouve sorrindo, e cala...
No silencio em que está, um sonho doce o embala.
No profundo clarão do seu olhar profundo
Brilham a ancia da morte e o desprezo do mundo.
O corpo, que o rigor das privações consome,
Esqueletico, nú, comido pela fome,
Treme, quasi a cahir, como um bambú com o vento;
E erra-lhe á flor da bocca a luz do firmamento
Presa a um sorriso de anjo...
E ajoelha junto ao Santo :
Beija-lhe o pó dos pés, beija-lhe o pó do manto.

"Filho amado ! - diz Buddha - essas barbaras gentes
São grosseiras e vis, são rudes e inclementes ;
Se os homens (que, em geral, são máos os homens todos)
Te insultarem a crença, e a cobrirem de apodos,
Que dirás, que farás contra essa gente inculta ? "

"Mestre ! direi que é boa a gente que me insulta,
Pois, podendo ferir-me, apenas me injuria...

"Filho amado ! e se a injuria abandonando, um dia
Um homem te espancar, vendo-te fraco e inerme,
E sem piedade aos pés te pizar, como a um verme ?
"Mestre ! direi que é bom o homem que me magôa,
Pois, podendo ferir-me, apenas me esbordôa...
" Filho amado ! e se alguem, vendo-te agonisante,
Te furar com um punhal a carne palpitante ?

" Mestre! Direi que é bom quem minha carne fura,
Pois, podendo matar-me apenas me tortura...

" Filho amado ! e se, emfim, sedentos de mais sangue,
Te arrancarem ao corpo enfraquecido e exsangue
O ultimo alento, o sopro ultimo da existencia,
Que dirás, ao morrer, contra tanta inclemencia ?

" Mestre ! direi que é bom quem me livra da vida...
Mestre ! direi que adoro a mão boa e querida,
Que, com tão pouca dôr, minha carne cançada
Entrega ao summo bem e á summa paz do Nada ! "
" Filho amado ! - diz Buddha - a palavra divina,
Da agua do mar de Oman á agua do mar da China,
Longe do Indus natal e dos valles do Ganges,
Vae levar, atravez de dardos e de alfanges !
Purna ! ao fim da Renuncia e ao fim da Caridade
Chegaste, estrangulando a tua humanidade !
Tu, sim ! pódes partir, apóstolo perfeito,
Que o Nirvana já tens dentro do proprio peito,
E és digno de ir prégar a toda a raça humana
A bemaventurança eterna do Nirvana ! "



Bilac, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1916:243.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

PRÁTICA DE TARA VERDE com explicação


PRÁTICA DE TARA VERDE


REFÚGIO:
Eu me refugio, até alcançar a iluminação, no Buddha, no Ensinamento e na Assembléia de Gurus. Que, pelo mérido da prática da generosidade e das outras perfeições, eu possa atingir rapidamente o estado de Buddha pelo bem de todos os seres.
(3x)

OS QUATRO PENSAMENTOS INCOMENSURÁVEIS:
Que todos os seres atinjam a felicidade, estejam livres de sofrimento, inseparáveis do êxtase da grande alegria e em equanimidade livres do apego e do ódio! (3x)

PROSTERNAÇÃO:
LHADANG LAMIN CHOPENGUY
SHATCHI PEMÔ LATUDE
PHONGPA KUNLE DROL DZEMA
DREULMÀ YUMLA CHANTSELLO

Com suas coroas, deuses e semi-deuses se inclinam para vossos pés de lótus. A vós, Mãe Tare, libertadora de todos os medos, rendo homenagem!
(várias vezes)

MANTRA:

OM TARE TUTTARE TURE SOHA
(várias centenas de vezes)

DEDICATÓRIA:
Pelo poder da virtude acumulada praticando o yoga de Tare, que eu possa alcançar rapidamente o estado sublime de Ária Tare, e assim conduzir todos os seres sem exceção a seu estado iluminado!
(Esta prática de Tare foi composta, segundo o Ensinamento, para os praticantes de
SAKYA KUN KHIAB CHÖ LING)

http://www.geocities.com/sakyabr4/TaraPrinc.htm

ORIGEM DO CULTO DE TARA
Por Tashi

A origem do culto de Tara é descrita pelo famoso escritor e historiador medieval Taranatha no seu livro de 1608, A origem do tantra de Tara.
Segundo Taranatha, tudo se passou numa Era (ou eon) era muito antiga. Um "eon" tem a duração do Universo. Ou seja, o tempo entre o aparecimento e o desaparecimento de todo o Universo - isto é um "eon".
Havia, pois, numa Era muito antiga, uma princesa chamada "Lua de Sabedoria", que era discípula de um Buddha, que era seu Guru. Ela tinha tanta devoção por seu Guru que um dia cobriu o equivalente a 19.000m3 de preciosos oferecimentos para ele.
Esta princesa atingiu as mais altas realizações espirituais, graças provavelmente à devoção que tinha ao seu Guru. Por isso diz-se que o Guru é a fonte de todas as realizações.
Assim alguém lhe disse que, como um dos muitos resultados de sua prática, ela ia renascer como homem. O nascer homem era considerado mais benéfico do que nascer mulher, pois assim poderia viver como iogue na floresta, ou numa gruta`deserta, sem ser molestada.
Mas a princesa não quis. Ela disse que havia muitos iluminados sob a forma masculina, e que ela queria tornar-se uma iluminada sob a forma feminina.
Após uma longa meditação em retiro ela atingiu o altíssimo estado de "Anutpada" ou "não origem". Aquele é o mais elevado nível de meditação existente, quando podia ver o real estado da mente e os fenômenos como "incriados", sem início, sem limites.
A partir de então passou a ser conhecida como Tara ("Tare"), ou "Drolma" que quer dizer "salvadora", ou "aquela que libera". Tara é uma palavra sânscrita.
Segundo a lenda, muito tempo depois, Ela prometeu ao Buddha Amoghasidhi defender a todos os seres na mais profunda vastidão das dez direções, passando a ter vários nomes, como "imediata"e "heróica", até se tornar por sua atividade a corporificação de todos os Buddhas.
A partir de então se inicia o culto e prática de Tara como a ação concentrada de todos os Budas, o seja, o culto da mãe Tara.
Foi o próprio Buddha Sakyamuni que na nossa Era revelou o Tantra de Tara, como a mãe de todos os Buddhas.
Tara é uma "deidade meditacional", corporificação da atividade de todos os Buddhas.
Tara é conhecida como ARYA TARE, a Nobre Tara, a Grande Rápida Protetora, a Eliminadora dos Oito Medos.
Segundo Geshe Lobsang Tenpa seu mantra significa:
OM - São as qualidades do corpo, palavra e mente dos Buddhas. É a meta.
TARE - Significa "aquela que liberta".
TUTTARE - "Que elimina todos os medos". Os oitos medos causados pelas oito ilusões: l. Apego (enchente). 2 - Ira (fogo). 3 - Ignorância (elefante). 4 - Inveja (serpente). 5 - Orgulho (leão). 6 - Avareza (correntes da prisão). 7 - Visões erradas (ladrões). 8 - Dúvida (fantasmas).
TURE - "Que concede todo sucesso".
SOHA - "Que as bênçãos de Tara contidas no mantra se concretizem"