por
Rogel Samuel
O NASCIMENTO DO MAHASIDDHA VIRUPA
No dia do nascimento do filho Rupyachakra (837-909 de nossa era), o rei Suvarnachakra convocou os astrólogos da corte: - Digam-me se será um rei próspero. Mas os astrólogos responderam: - Ó rei Suvarnachakra, o príncipe terá grandes poderes espirituais. E assim, ainda criança o príncipe Rupyachakra entrou no mosteiro de Somapura, Norte de Bengala, ordenado pelo abade Vinitadeva e pelo Acharya Jayakirti. Estudou as cinco principais ciências, tornou-se erudito em doutrinas budistas e não-budistas, erigiu um templo de pedra no qual pôs imagens sagradas de Buda. Ele criou a tradição de fazerem-se oferendas regulares para purificar as ações negativas dos pais já falecidos. Quando concluiu os estudos, o príncipe partiu para a Universidade de Nalanda, onde o budismo estava estabelecido. Recebeu ali ordenação de Bhiku, do abade Dharmamitra, e foi-lhe dado um novo nome, “Shri Dharmapala”. O abade-mestre admirava o discípulo, por isso lhe transmitiu os ensinamentos secretos do Tantra de Chakrasamvara. Além disso, deixou em seu testamento que Shri Dharmapala deveria ser seu sucessor. De fato, quando o abade faleceu, Shri Dharmapala fez a cerimônia do funeral, tomou providências para que os restos mortais do abade, transformados em relíquias, fossem distribuídos entre os reis, patronos e monges. E o sucedeu. Dharmapala praticava Chakrasamvara todas as noites, de acordo com as instruções secretas que recebera. De dia dedicava-se ao ensino e à composição. Apesar de conceder ensinamentos sobre textos Theravadas e Mahayana, ele dedicava a maior parte de seu próprio tempo às práticas secretas do Vajrayana, o Chakrasamvara. Shri Dharmapala treinou assim por muitos anos: a vida toda. Mas aos setenta anos, contudo, apesar de tantos anos de treinamento, ele não tinha experimentado nenhum sinal de realização espiritual. E ainda teve de enfrentar várias doenças que infestaram seu corpo e mente. Enfim estava triste, assustado com o constante mal causado pelos espíritos yakshas e por outros maus espíritos. Para piorar, começou a ter pesadelos. Num desses maus sonhos, viu gigantesco incêndio na parte baixa e inundação na parte alta do mesmo vale. Sonhou com tempestades de granizo, glaciais, cones de gelo caindo, icebergs despencando do céu. Via seu Amado Guru, o Yidam e amigos espirituais pendurados de cabeça para baixo, faces destroçadas, sem narizes, olhos fora das órbitas, sangue a escorrer.
Assim interpretou os sonhos como maus presságios, concluiu que lhe faltava mérito para atingir a realização do caminho secreto. Decidiu abandonar as práticas tântricas. Na noite do vigésimo segundo dia do quarto mês lunar, ele desistiu da prática da Yoga da Deidade, e jogou seu rosário na latrina. Aqueles sonhos eram na realidade indicativos de que Dharmapala estava quase a atingir a maior realização espiritual. Mas ele não podia saber que já tinha adquirido mestria no Caminho da Acumulação, no Caminho da Preparação, e estava quase a atingir o Caminho do Ver. Naquela altura, sua energia vital e mente tinham mergulhado nas sílabas ksa e ma abaixo do Chakra do Umbigo, e por isto ele tinha tido aqueles sonhos. Ele não sabia reconhecer os sinais do que lhe sucedia porque seu mestre falecera antes de lhe transmitir a totalidade das instruções essenciais que teriam explicado as drásticas mudanças ocorridas no fluir das energias sutis do corpo. Shri Dharmapala decidiu que se dedicaria ao ensino, à escrita e a outros deveres para com a comunidade monástica. Mas naquela mesma noite do ano de 897 A D, entretanto, sonhou ele que a Deusa Nairatmya aparecia sob a forma de uma mulher azul, com vestido de seda, e lhe falava: - Nobre filho, não é bom que te comportes dessa maneira quando estás quase a atingir o Siddhi. Apesar de todos os Budas terem compaixão não-discriminatória, eu sou a deidade com quem tu tens fortes afinidades cármicas e abençoar-te-ei a fim de que atinjas o Siddhi rapidamente. Vai e recolhe o teu rosário, lava em água perfumada, confessa teus atos negativos e retoma a tua prática como deve ser. E desapareceu. Dharmapala acordou confuso, mas seguiu as instruções que recebeu em sonho, retomando sua prática naquela mesma manhã cedo. Logo depois, a Mandala do aspecto Nirmanakaya das Quinze Deusas de Nairatmya apareceram diante dele e lhe concederam as quatro iniciações completas. Ele atingiu de imediato o Caminho do Ver do Primeiro Bhumi. Percebia agora o verdadeiro significado dos sonhos, que eram o desfazer dos nós das veias que fizeram acontecer o Primeiro Mergulhar dos Elementos e sinais das energias vitais do calor Candali. As experiências não-convencionais que apareceram na sua mente conceitual resultaram do processo de readaptação das veias e mente. Como sinal do Mergulhar dos Elementos intermediário, as chamas do fogo Candali ascenderam e provocam a subida do néctar da Bodhicitta. Essa manifestação seria experimentada por ele como chamas do fogo na parte mais baixa do vale e a inundação que ocorria na parte mais alta. A circulação das gotículas sutis em muitas veias menores refletiu-se nos sonhos da tempestade de granizo, com icebergs caindo do céu. O Terceiro e Último Mergulhar revelaram a face nua da sabedoria transcendental perfeita, tendo como efeito o dissolver de todo o apego às aparências vulgares. Aquelas manifestações interdependentes refletiram-se nos seus sonhos como as faces destruídas do Guru e Yidams. E ele percebeu então que todos aqueles sinais foram experiências meditativas diretamente relacionadas com as três etapas do mergulhar dos elementos sutis dentro do corpo. Daí em diante, ele atingiu a cada dia um Bhumi mais alto, até que, na manhã do vigésimo nono dia do mesmo mês lunar, atingiu o Sexto Bhumi. Ele era agora um Mahassidha.
No dia do nascimento do filho Rupyachakra (837-909 de nossa era), o rei Suvarnachakra convocou os astrólogos da corte: - Digam-me se será um rei próspero. Mas os astrólogos responderam: - Ó rei Suvarnachakra, o príncipe terá grandes poderes espirituais. E assim, ainda criança o príncipe Rupyachakra entrou no mosteiro de Somapura, Norte de Bengala, ordenado pelo abade Vinitadeva e pelo Acharya Jayakirti. Estudou as cinco principais ciências, tornou-se erudito em doutrinas budistas e não-budistas, erigiu um templo de pedra no qual pôs imagens sagradas de Buda. Ele criou a tradição de fazerem-se oferendas regulares para purificar as ações negativas dos pais já falecidos. Quando concluiu os estudos, o príncipe partiu para a Universidade de Nalanda, onde o budismo estava estabelecido. Recebeu ali ordenação de Bhiku, do abade Dharmamitra, e foi-lhe dado um novo nome, “Shri Dharmapala”. O abade-mestre admirava o discípulo, por isso lhe transmitiu os ensinamentos secretos do Tantra de Chakrasamvara. Além disso, deixou em seu testamento que Shri Dharmapala deveria ser seu sucessor. De fato, quando o abade faleceu, Shri Dharmapala fez a cerimônia do funeral, tomou providências para que os restos mortais do abade, transformados em relíquias, fossem distribuídos entre os reis, patronos e monges. E o sucedeu. Dharmapala praticava Chakrasamvara todas as noites, de acordo com as instruções secretas que recebera. De dia dedicava-se ao ensino e à composição. Apesar de conceder ensinamentos sobre textos Theravadas e Mahayana, ele dedicava a maior parte de seu próprio tempo às práticas secretas do Vajrayana, o Chakrasamvara. Shri Dharmapala treinou assim por muitos anos: a vida toda. Mas aos setenta anos, contudo, apesar de tantos anos de treinamento, ele não tinha experimentado nenhum sinal de realização espiritual. E ainda teve de enfrentar várias doenças que infestaram seu corpo e mente. Enfim estava triste, assustado com o constante mal causado pelos espíritos yakshas e por outros maus espíritos. Para piorar, começou a ter pesadelos. Num desses maus sonhos, viu gigantesco incêndio na parte baixa e inundação na parte alta do mesmo vale. Sonhou com tempestades de granizo, glaciais, cones de gelo caindo, icebergs despencando do céu. Via seu Amado Guru, o Yidam e amigos espirituais pendurados de cabeça para baixo, faces destroçadas, sem narizes, olhos fora das órbitas, sangue a escorrer.
Assim interpretou os sonhos como maus presságios, concluiu que lhe faltava mérito para atingir a realização do caminho secreto. Decidiu abandonar as práticas tântricas. Na noite do vigésimo segundo dia do quarto mês lunar, ele desistiu da prática da Yoga da Deidade, e jogou seu rosário na latrina. Aqueles sonhos eram na realidade indicativos de que Dharmapala estava quase a atingir a maior realização espiritual. Mas ele não podia saber que já tinha adquirido mestria no Caminho da Acumulação, no Caminho da Preparação, e estava quase a atingir o Caminho do Ver. Naquela altura, sua energia vital e mente tinham mergulhado nas sílabas ksa e ma abaixo do Chakra do Umbigo, e por isto ele tinha tido aqueles sonhos. Ele não sabia reconhecer os sinais do que lhe sucedia porque seu mestre falecera antes de lhe transmitir a totalidade das instruções essenciais que teriam explicado as drásticas mudanças ocorridas no fluir das energias sutis do corpo. Shri Dharmapala decidiu que se dedicaria ao ensino, à escrita e a outros deveres para com a comunidade monástica. Mas naquela mesma noite do ano de 897 A D, entretanto, sonhou ele que a Deusa Nairatmya aparecia sob a forma de uma mulher azul, com vestido de seda, e lhe falava: - Nobre filho, não é bom que te comportes dessa maneira quando estás quase a atingir o Siddhi. Apesar de todos os Budas terem compaixão não-discriminatória, eu sou a deidade com quem tu tens fortes afinidades cármicas e abençoar-te-ei a fim de que atinjas o Siddhi rapidamente. Vai e recolhe o teu rosário, lava em água perfumada, confessa teus atos negativos e retoma a tua prática como deve ser. E desapareceu. Dharmapala acordou confuso, mas seguiu as instruções que recebeu em sonho, retomando sua prática naquela mesma manhã cedo. Logo depois, a Mandala do aspecto Nirmanakaya das Quinze Deusas de Nairatmya apareceram diante dele e lhe concederam as quatro iniciações completas. Ele atingiu de imediato o Caminho do Ver do Primeiro Bhumi. Percebia agora o verdadeiro significado dos sonhos, que eram o desfazer dos nós das veias que fizeram acontecer o Primeiro Mergulhar dos Elementos e sinais das energias vitais do calor Candali. As experiências não-convencionais que apareceram na sua mente conceitual resultaram do processo de readaptação das veias e mente. Como sinal do Mergulhar dos Elementos intermediário, as chamas do fogo Candali ascenderam e provocam a subida do néctar da Bodhicitta. Essa manifestação seria experimentada por ele como chamas do fogo na parte mais baixa do vale e a inundação que ocorria na parte mais alta. A circulação das gotículas sutis em muitas veias menores refletiu-se nos sonhos da tempestade de granizo, com icebergs caindo do céu. O Terceiro e Último Mergulhar revelaram a face nua da sabedoria transcendental perfeita, tendo como efeito o dissolver de todo o apego às aparências vulgares. Aquelas manifestações interdependentes refletiram-se nos seus sonhos como as faces destruídas do Guru e Yidams. E ele percebeu então que todos aqueles sinais foram experiências meditativas diretamente relacionadas com as três etapas do mergulhar dos elementos sutis dentro do corpo. Daí em diante, ele atingiu a cada dia um Bhumi mais alto, até que, na manhã do vigésimo nono dia do mesmo mês lunar, atingiu o Sexto Bhumi. Ele era agora um Mahassidha.
O HOMEM QUE ABRIU O RIO GANGES
Shri Dharmapala era agora um grande Bodhisattva vivendo no Sexto Bhumi. Recebeu as quatro iniciações completas, que confirmava que o contínuo fluir das iniciações não tinha cessado; atingiu os seis Bhumis, que era a confirmação de que a linhagem era ininterrupta. Sua falta em reconhecer os sinais e na interpretação dos sonhos verificavam que ele não havia recebido as instruções essenciais, e que Vajra Nairatma não estava errada. A devoção de Dharmapala foi restabelecida. Ele confiava em atingir a realização d´Aquele que Atingiu a Iluminação Completa. Assim ele foi abençoado com as Quatro Linhagens Sussurradas. Pela gratidão ao seu Guru e Yidams, Shri Dharmapala pediu aos companheiros que preparassem a festa de oferendas Ganachakra. Carne e vinho foram incluídos entre substâncias requeridas para as oferendas. Os monges ficaram espantados quando viram carne e álcool entrando no quarto do abade. Alguns espreitaram pela porta, à noite. Dependendo do grau de pureza de suas mentes, cada um deles viu coisas diferentes no quarto. Alguns viram o abade rodeado por quinze mulheres; outros só viram oito. Alguns viram-no rodeado por quinze lamparinas; outros só oito. Aquelas visões noturnas levantaram as maiores suspeitas e comentários na comunidade. Mas os monges não se atreveram a falar diretamente com ele, que se tratava do abade, de reputação imaculada.
Shri Dharmapala, entretanto, já tinha decidido sair do mosteiro para evitar fofocas e prejuízo em relação à doutrina budista. Ele despiu-se diante de uma imagem de Buda, declarando: - ''Virupa'', o que significa ''sou mau''. E saiu do mosteiro, adornando sua cabeça com flores e folhas que tirou dos floristas. E começou a freqüentar bares e bordéis. Seu comportamento causava escândalo. O mosteiro assinalou então sua expulsão, por violação do código de conduta. Virupa respondeu cantando, alegre. Para proteger o Dharma ele admitiu que era corrupto. Após sua demissão, adotou o nome de Virupa (“mau”). E tornou-se famoso com esse nome. Seu nome de ordenação ''Dharmapala'' foi esquecido. Virupa partiu para Varanasi. Quando chegou ao rio Ganges, disse para o rio: - Ó águas do Ganges, eu sou sujo, deixem-me atravessar sem tocar, porque sois consideradas águas puras. Não quero conspurcar-vos. Depois de dizer isso, as águas do rio Ganges se abriram e, diante dele apareceu um caminho seco. Ele seguiu pelo caminho, cantando com alegria. Alguns monges tinham-no seguido até ao rio. Quando viram aquilo, compreenderam que Virupa já tinha atingido elevados poderes e pediram perdão ao abade solicitando-lhe que regressasse ao mosteiro. Virupa perdoou-lhes, mas não regressou. Virupa andava pelas florestas de Varanasi. Algumas fontes dizem que isto durou seis anos, outras se referem a seis meses. Como andava nu, sua pele adquiriu um tom azulado e era assustador olhar para ele. Os camponeses que o viam relatavam assim sua presença ao rei. Alguns disseram que era um Iogue Hindu, e outros um Iogue Budista. Assim o rei de Varanasi, Govindachandala, que era devoto dos Hindus, ofereceu hospedagem ao caminhante, desde que provasse que era Hindu. Assim, ele ordenou aos ministros que investigassem o desconhecido Iogue. Todavia, os ministros não puderam encontrar nenhuma pista quanto à identidade. Então o rei ordenou que o misterioso Iogue fosse trazido ao palácio para que o pudesse examinar pessoalmente. Pelo caminho, Virupa devorou indiscriminadamente vermes, pombos e borboletas que a seguir vomitou e aqueles animais voltavam a viver. Virupa foi finalmente trazido à presença do rei. O rei fez-lhe muitas perguntas, mas Virupa não disse palavra. Então o rei disse: - Uma vez que este Iogue não tem nem as qualidades de Vishnu, nem notáveis sinais de um Iogue Hindu, ponham correntes nos seus membros e o joguem-no no rio. Ele deve ser um Iogue Budista. Jogaram Virupa acorrentado ao rio. Porém, antes do regresso dos ministros ao palácio, Virupa já tinha reaparecido lá e estava em pé diante do rei. Isso se repetiu várias vezes, até que finalmente o rei se convenceu que o Iogue tinha o poder de controlar o elemento água. Então o rei ordenou a todos os açougueiros da cidade que apunhalassem o Iogue. Mas as facas e machados eram inúteis como se estivessem ferindo rocha e nada cortava o corpo de Virupa. A seguir os homens do rei cavaram um fosso e o enterraram ali e despejaram ferro e bronze derretidos sobre o corpo. Puseram terra por cima de tudo aquilo e deixaram que muitos elefantes passassem sobre o local. Mas mesmo assim ele reapareceu incólume perante o rei. Naquele ponto, o rei desenvolveu uma grande fé no poder espiritual de Virupa e se confessou. Depois Virupa converteu todos os cidadãos de Varanasi ao caminho Vajrayana.
Shri Dharmapala era agora um grande Bodhisattva vivendo no Sexto Bhumi. Recebeu as quatro iniciações completas, que confirmava que o contínuo fluir das iniciações não tinha cessado; atingiu os seis Bhumis, que era a confirmação de que a linhagem era ininterrupta. Sua falta em reconhecer os sinais e na interpretação dos sonhos verificavam que ele não havia recebido as instruções essenciais, e que Vajra Nairatma não estava errada. A devoção de Dharmapala foi restabelecida. Ele confiava em atingir a realização d´Aquele que Atingiu a Iluminação Completa. Assim ele foi abençoado com as Quatro Linhagens Sussurradas. Pela gratidão ao seu Guru e Yidams, Shri Dharmapala pediu aos companheiros que preparassem a festa de oferendas Ganachakra. Carne e vinho foram incluídos entre substâncias requeridas para as oferendas. Os monges ficaram espantados quando viram carne e álcool entrando no quarto do abade. Alguns espreitaram pela porta, à noite. Dependendo do grau de pureza de suas mentes, cada um deles viu coisas diferentes no quarto. Alguns viram o abade rodeado por quinze mulheres; outros só viram oito. Alguns viram-no rodeado por quinze lamparinas; outros só oito. Aquelas visões noturnas levantaram as maiores suspeitas e comentários na comunidade. Mas os monges não se atreveram a falar diretamente com ele, que se tratava do abade, de reputação imaculada.
Shri Dharmapala, entretanto, já tinha decidido sair do mosteiro para evitar fofocas e prejuízo em relação à doutrina budista. Ele despiu-se diante de uma imagem de Buda, declarando: - ''Virupa'', o que significa ''sou mau''. E saiu do mosteiro, adornando sua cabeça com flores e folhas que tirou dos floristas. E começou a freqüentar bares e bordéis. Seu comportamento causava escândalo. O mosteiro assinalou então sua expulsão, por violação do código de conduta. Virupa respondeu cantando, alegre. Para proteger o Dharma ele admitiu que era corrupto. Após sua demissão, adotou o nome de Virupa (“mau”). E tornou-se famoso com esse nome. Seu nome de ordenação ''Dharmapala'' foi esquecido. Virupa partiu para Varanasi. Quando chegou ao rio Ganges, disse para o rio: - Ó águas do Ganges, eu sou sujo, deixem-me atravessar sem tocar, porque sois consideradas águas puras. Não quero conspurcar-vos. Depois de dizer isso, as águas do rio Ganges se abriram e, diante dele apareceu um caminho seco. Ele seguiu pelo caminho, cantando com alegria. Alguns monges tinham-no seguido até ao rio. Quando viram aquilo, compreenderam que Virupa já tinha atingido elevados poderes e pediram perdão ao abade solicitando-lhe que regressasse ao mosteiro. Virupa perdoou-lhes, mas não regressou. Virupa andava pelas florestas de Varanasi. Algumas fontes dizem que isto durou seis anos, outras se referem a seis meses. Como andava nu, sua pele adquiriu um tom azulado e era assustador olhar para ele. Os camponeses que o viam relatavam assim sua presença ao rei. Alguns disseram que era um Iogue Hindu, e outros um Iogue Budista. Assim o rei de Varanasi, Govindachandala, que era devoto dos Hindus, ofereceu hospedagem ao caminhante, desde que provasse que era Hindu. Assim, ele ordenou aos ministros que investigassem o desconhecido Iogue. Todavia, os ministros não puderam encontrar nenhuma pista quanto à identidade. Então o rei ordenou que o misterioso Iogue fosse trazido ao palácio para que o pudesse examinar pessoalmente. Pelo caminho, Virupa devorou indiscriminadamente vermes, pombos e borboletas que a seguir vomitou e aqueles animais voltavam a viver. Virupa foi finalmente trazido à presença do rei. O rei fez-lhe muitas perguntas, mas Virupa não disse palavra. Então o rei disse: - Uma vez que este Iogue não tem nem as qualidades de Vishnu, nem notáveis sinais de um Iogue Hindu, ponham correntes nos seus membros e o joguem-no no rio. Ele deve ser um Iogue Budista. Jogaram Virupa acorrentado ao rio. Porém, antes do regresso dos ministros ao palácio, Virupa já tinha reaparecido lá e estava em pé diante do rei. Isso se repetiu várias vezes, até que finalmente o rei se convenceu que o Iogue tinha o poder de controlar o elemento água. Então o rei ordenou a todos os açougueiros da cidade que apunhalassem o Iogue. Mas as facas e machados eram inúteis como se estivessem ferindo rocha e nada cortava o corpo de Virupa. A seguir os homens do rei cavaram um fosso e o enterraram ali e despejaram ferro e bronze derretidos sobre o corpo. Puseram terra por cima de tudo aquilo e deixaram que muitos elefantes passassem sobre o local. Mas mesmo assim ele reapareceu incólume perante o rei. Naquele ponto, o rei desenvolveu uma grande fé no poder espiritual de Virupa e se confessou. Depois Virupa converteu todos os cidadãos de Varanasi ao caminho Vajrayana.
O HOMEM QUE PAROU O SOL
Virupa tinha partido para o sul da Índia. No caminho, pediu a um barqueiro que o levasse para a outra margem do Ganges. O homem não quis fazer, a menos que pagasse. Virupa disse ao barqueiro que lhe daria aquilo que o fizesse feliz. Perguntou ao barqueiro: - Queres que este rio seja grande ou pequeno? - Às vezes gosto deste rio grande, outras vezes gosto dele pequeno, respondeu o barqueiro. Virupa prometeu dar-lhe o rio como pagamento, e inverteu o curso do Ganges, apontando para o rio com um gesto ameaçador. O rio quase inundou casas e campos das proximidades. Os habitantes ficaram com muito medo que as suas propriedades fossem destruídas. Sabendo disso, o Rei Calabhadra e os habitantes da vila solicitaram a Virupa que devolvesse a água ao seu leito normal. Ofereceram-lhe toda a espécie de presentes para que ele mudasse de idéia, incluindo ouro, prata, gado, grão e flores. Em resposta, Virupa rompeu a cantar. Com o estalar de dedos, ele devolveu o rio ao seu leito normal e deu todos os presentes que recebeu ao barqueiro, que recusou os presentes. Em vez disso, o barqueiro tocou os pés de Virupa e pediu-lhe que o aceitasse como discípulo. Diz-se que o barqueiro, mais tarde foi conhecido como Dombi Heruka, foi o afortunado discípulo na libertação através do ''caminho súbito''. Virupa aceitou o barqueiro como discípulo e os dois rumaram para o sul, deixando os habitantes da vila a recolherem as ofertas abandonadas.
Quando os dois chegaram a Daksinipata, perto de Bhimesara, entraram na casa de uma vendedora de vinho que se chamava Kamarupasiddhi. Ali pediram algum vinho, mas a vendedora perguntou se eles podiam pagar. Virupa replicou: - Serve-me até eu ficar satisfeito, que pagarei aquilo que quiseres. A vendedora, então, perguntou: - Mas quando me pagarão? Virupa fez uma linha no chão com a sua adaga e disse: - Pagarei a conta quando a sombra desta casa chegar a esta linha. Assim a vendedora serviu os dois homens, mas Virupa serviu-se dos seus poderes para impedir que o sol percorresse sua trajetória habitual. Pediu mais e mais vinho, bebeu até não haver mais vinho na taberna. Muito tempo se passou, mas a sombra da casa não se aproximava da linha. A taberneira foi obrigada a buscar vinho das tabernas de dezoito grandes cidades para cumprir sua parte no negócio.
Para a surpresa de todos os taberneiros, Virupa bebeu mais de quinhentas cargas de elefantes de vinho sem dar mostras de que a sua sede estava mitigada. Entretanto, a cidade de Daksinipata era perturbada pela permanência da luz do sol e toda a gente perdeu a noção do tempo. Os habitantes da vila estava exaustos, as colheitas secavam nos campos. Os lagos e rios diminuíam de tamanho, ninguém tinha qualquer idéia da sucessão dos acontecimentos. Sem saber dos poderes de Virupa, o rei ordenou aos seus ministros que investigassem o que tinha parado o sol. Quando ele descobriu que tudo isso se devia ao poder do Iogue, o rei pediu a Virupa para deixar que o sol retomasse a sua trajetória. Virupa concordou na condição de que o rei pagasse a conta. Assim ele libertou o sol. Já era então meia-noite do terceiro dia depois de ter ele parado o sol. Virupa ficou conhecido como aquele que não só dividiu as águas do Ganges por duas vezes como também parou o sol por três dias. Sua fama espalhou-se por todo o mundo. Entretanto, continuou sua viagem para Bhimesara ao sul da Índia e para encontrar Khrishnacharin, seu futuro discípulo de quem se diz ser o detentor do 'caminho-resultado'. Bhimesara era governada por um rei Hindu chamado Narapati, devoto de quinhentos Iogues de cabelo entrançado. Adoravam uma enorme Shivalinga e uma imagem de Mahadeva. Sacrificavam milhares de búfalos e cabras todos os anos. Virupa chegou e escreveu muitos textos laudatórios a Shivalinga em Sânscrito. O rei ficou muito impressionado com este erudito. Pediu-lhe que se tornasse o chefe dos quinhentos Iogues, oferta que Virupa aceitou.
Durante as cerimônias de adoração, os Iogues curvavam-se perante a imagem de Mahadeva e faziam oferendas de flores. Quanto isso se passava, Virupa costumava tirar um volume do texto de Prajnaparamita que guardava escondido no seu cabelo, e prestava-lhe homenagem. Nunca se inclinava perante a imagem de Mahadeva. Os Iogues ficaram desconfiados e contaram ao rei. O rei acusou os Iogues de inveja. - Ele é um grande erudito e professor dos Vedas. É impossível que um homem assim não preste homenagem a Mahadeva, rei de todos os deuses. Vocês devem estar com inveja dele, respondeu o rei. Porém os Iogues continuaram a falar mal de Virupa, até que o rei decidiu ir assistir às cerimônias. Lá, dirigiu-se a Virupa: - Porque não te curvas perante a imagem de Mahadeva? - Porquê o faria? perguntou Virupa. Ele não poderia suportar minha homenagem. O rei então disse: - Não existe nada mais poderoso que ele em todo o reino. Porque dizes que ele não pode suportar a tua homenagem? Tens que lhe mostrar respeito. - Como não tenho escolha e tenho de fazer o que um rei pecador me ordena, tens que perdoar-me, respondeu Virupa para a imagem. Logo que ele juntou as mãos em homenagem e disse, ''Namo Buddhaya'' (Presto homenagem ao Buda), e um terço da gigantesca imagem caiu aos pedaços. Quando ele disse, ''Namo Dharmaya'' (Presto homenagem ao Dharma), dois terços da imagem caíram e quando ele disse ''Namo Sanghaya'' (Presto homenagem à Sangha), toda a imagem foi ao chão.
O rei estava pasmo. Com misto de medo e de fé, o rei pediu a Virupa que reconstruísse a estátua. Virupa reconstruiu de imediato a imagem e pôs em cima dela uma imagem de pedra negra do Grande Compassivo, Avalokiteshvara. Virupa disse então para o rei: - A estátua ficará intacta enquanto ninguém mexer na imagem de Mahakarunika. Se alguém tirar esta estátua, a outra se quebrará instantaneamente. Então foi-se embora. Entre os quinhentos Iogues havia um que não estava satisfeito com o comportamento dos Tirthikas ou heréticos e desenvolveu uma profunda devoção por Virupa e tornou-se seu discípulo. Tratava-se de Krishnacharin do Leste que, apesar de nunca antes ter seguido o Dharma, agora decidira entrar.
Quando os dois chegaram a Daksinipata, perto de Bhimesara, entraram na casa de uma vendedora de vinho que se chamava Kamarupasiddhi. Ali pediram algum vinho, mas a vendedora perguntou se eles podiam pagar. Virupa replicou: - Serve-me até eu ficar satisfeito, que pagarei aquilo que quiseres. A vendedora, então, perguntou: - Mas quando me pagarão? Virupa fez uma linha no chão com a sua adaga e disse: - Pagarei a conta quando a sombra desta casa chegar a esta linha. Assim a vendedora serviu os dois homens, mas Virupa serviu-se dos seus poderes para impedir que o sol percorresse sua trajetória habitual. Pediu mais e mais vinho, bebeu até não haver mais vinho na taberna. Muito tempo se passou, mas a sombra da casa não se aproximava da linha. A taberneira foi obrigada a buscar vinho das tabernas de dezoito grandes cidades para cumprir sua parte no negócio.
Para a surpresa de todos os taberneiros, Virupa bebeu mais de quinhentas cargas de elefantes de vinho sem dar mostras de que a sua sede estava mitigada. Entretanto, a cidade de Daksinipata era perturbada pela permanência da luz do sol e toda a gente perdeu a noção do tempo. Os habitantes da vila estava exaustos, as colheitas secavam nos campos. Os lagos e rios diminuíam de tamanho, ninguém tinha qualquer idéia da sucessão dos acontecimentos. Sem saber dos poderes de Virupa, o rei ordenou aos seus ministros que investigassem o que tinha parado o sol. Quando ele descobriu que tudo isso se devia ao poder do Iogue, o rei pediu a Virupa para deixar que o sol retomasse a sua trajetória. Virupa concordou na condição de que o rei pagasse a conta. Assim ele libertou o sol. Já era então meia-noite do terceiro dia depois de ter ele parado o sol. Virupa ficou conhecido como aquele que não só dividiu as águas do Ganges por duas vezes como também parou o sol por três dias. Sua fama espalhou-se por todo o mundo. Entretanto, continuou sua viagem para Bhimesara ao sul da Índia e para encontrar Khrishnacharin, seu futuro discípulo de quem se diz ser o detentor do 'caminho-resultado'. Bhimesara era governada por um rei Hindu chamado Narapati, devoto de quinhentos Iogues de cabelo entrançado. Adoravam uma enorme Shivalinga e uma imagem de Mahadeva. Sacrificavam milhares de búfalos e cabras todos os anos. Virupa chegou e escreveu muitos textos laudatórios a Shivalinga em Sânscrito. O rei ficou muito impressionado com este erudito. Pediu-lhe que se tornasse o chefe dos quinhentos Iogues, oferta que Virupa aceitou.
Durante as cerimônias de adoração, os Iogues curvavam-se perante a imagem de Mahadeva e faziam oferendas de flores. Quanto isso se passava, Virupa costumava tirar um volume do texto de Prajnaparamita que guardava escondido no seu cabelo, e prestava-lhe homenagem. Nunca se inclinava perante a imagem de Mahadeva. Os Iogues ficaram desconfiados e contaram ao rei. O rei acusou os Iogues de inveja. - Ele é um grande erudito e professor dos Vedas. É impossível que um homem assim não preste homenagem a Mahadeva, rei de todos os deuses. Vocês devem estar com inveja dele, respondeu o rei. Porém os Iogues continuaram a falar mal de Virupa, até que o rei decidiu ir assistir às cerimônias. Lá, dirigiu-se a Virupa: - Porque não te curvas perante a imagem de Mahadeva? - Porquê o faria? perguntou Virupa. Ele não poderia suportar minha homenagem. O rei então disse: - Não existe nada mais poderoso que ele em todo o reino. Porque dizes que ele não pode suportar a tua homenagem? Tens que lhe mostrar respeito. - Como não tenho escolha e tenho de fazer o que um rei pecador me ordena, tens que perdoar-me, respondeu Virupa para a imagem. Logo que ele juntou as mãos em homenagem e disse, ''Namo Buddhaya'' (Presto homenagem ao Buda), e um terço da gigantesca imagem caiu aos pedaços. Quando ele disse, ''Namo Dharmaya'' (Presto homenagem ao Dharma), dois terços da imagem caíram e quando ele disse ''Namo Sanghaya'' (Presto homenagem à Sangha), toda a imagem foi ao chão.
O rei estava pasmo. Com misto de medo e de fé, o rei pediu a Virupa que reconstruísse a estátua. Virupa reconstruiu de imediato a imagem e pôs em cima dela uma imagem de pedra negra do Grande Compassivo, Avalokiteshvara. Virupa disse então para o rei: - A estátua ficará intacta enquanto ninguém mexer na imagem de Mahakarunika. Se alguém tirar esta estátua, a outra se quebrará instantaneamente. Então foi-se embora. Entre os quinhentos Iogues havia um que não estava satisfeito com o comportamento dos Tirthikas ou heréticos e desenvolveu uma profunda devoção por Virupa e tornou-se seu discípulo. Tratava-se de Krishnacharin do Leste que, apesar de nunca antes ter seguido o Dharma, agora decidira entrar.