quarta-feira, 30 de setembro de 2015

ANIVERSÁRIO DO SAGRADO GURU


OS GRANDES MESTRES TIBETANOS: Sua Santidade Sakya Trizin




OS GRANDES MESTRES TIBETANOS: Sua Santidade Sakya Trizin

Palestra Pública Proferida em Friday Harbour, WA/EUA, dia 28 de julho 1995

(Gravação e transcrição única em todo o mundo)

Primeiramente eu quero agradecer a oportunidade que vocês me deram para compartilhar de algumas histórias de vida dos antigos mestres. E já que o tema desta noite aqui é a vida dos grandes mestres do antigo Tibet eu gostaria de começar com uma prece dedicada aos grandes Mestres passados e enquanto eu recito os que receberam os Ensinamentos pensem nas imensas qualidades dos grandes mestres:

Paldem tsawei lama rinpoche
Dag gi chi wor pemei den sug ne
Kaadrin chen pe gone je sung te
Ku sung tug kyi ngo drub tsal du sol

Agora depois desta prece aos grandes mestres... Neste Universo no qual estamos residindo existem muitas diferentes raças, culturas, diferentes filosofias, mas uma coisa é comum a todos, é que todas as pessoas, todo ser vivo deseja estar livre do sofrimento. Todos desejam experimentar felicidades. Seja crente ou descrente, qualquer que seja a filosofia, qualquer que seja a tradição que você mantenha.
E para conseguir a felicidade todas as pessoas fizeram os seus melhores esforços. Para conseguir felicidade todas as nações construíram o progresso e para tanto muito trabalho foi realizado. Progresso científico e tecnológico. E houve muitas ações bem sucedidas, muitos problemas encontraram solução.
Mas é bastante claro que, sem desenvolvermos Sabedoria Profunda, o simples progresso material externo não nos dará muito sucesso quanto à paz e a felicidade que estamos perseguindo. Se o indivíduo não desenvolver a Sabedoria Profunda, o progresso material pode tornar-se mais um obstáculo do que um meio para consegui-lo.
E agora que estamos ingressando no novo Século ter Sabedoria Interior, progresso mental. Progresso material simultaneamente desenvolvendo a Sabedoria Interior, o Desenvolvimento Mental. Isto é muito importante. 
E para conseguir esta Sabedoria Profunda temos atingir a meta da Paz Real e felicidade que buscamos. E assim, para o desenvolvimento da grande sabedoria, neste mundo há muitas religiões. Eu pessoalmente acredito que todas as grandes religiões do mundo têm a sua beleza própria, a sua grandeza própria para desenvolver a bondade... mas como budista eu vou tentar apresentar o ponto de vista budista.
De acordo com o Ensinamento budista todos os seres viventes se tentarem seguir o desenvolvimento de um treinamento espiritual serão bem sucedidos, porque todos os seres viventes possuem a natureza búdica, o mesmo que dizer que a natureza mesma de nossas mentes, apesar de nunca estar totalmente livre de obscuridades, apesar de nunca estar livre de poluições, apesar disso a verdadeira natureza da mente é pura desde um tempo sem princípio, desde o sem princípio.
Mas neste momento nós não vemos a verdadeira natureza da mente que está completamente coberta de obscuridades e de poluição e de ilusões, divisões.
Em vez de ver a verdadeira natureza da mente é que, devido a não conhecermos a realidade é que nós nos inventamos como um "eu". E assim, devido a isto, para resolver o nosso sonho-de-um-eu nós nos aferramos a um "eu", como agregado do corpo, da mente, e tudo isso junto nós pegamos como um "eu" e isto é a fonte de toda a miséria e do sofrimento.
Para apropriadamente estarmos livres é preciso entrar no caminho espiritual e desenvolvendo aquela sabedoria profunda nós podemos eliminar as obscuridades, porque as obscuridades não são a natureza da mente, as obscuridades estão no nível da cobertura. Se as corrupções estivessem no nível da natureza da mente nada poderia ser transformado: o carvão não pode tornar-se branco por mais que o lavemos, porque a natureza do carvão é negra. Mas as corrupções não são a natureza da mente, elas são temporárias, assim com métodos corretos nós podemos eliminar as obscuridades, assim como uma roupa branca coberta de sujeira não deixa ver a real cor da roupa. 
No momento nós não podemos ver a real natureza da mente porque está coberta de poluições. 
O meio de eliminar essas corrupções á através do desenvolvimento do chamado Método e Sabedoria. O Método depende muito da Sabedoria. Se Sabedoria nós não podemos acumular o apropriado Método. Para acumular o apropriado Método nós precisamos de Sabedoria. E também para fazer brotar a Sabedoria nós necessitados do suporte do Método.
Com os dois juntos, o Método e a Sabedoria, é que uma pessoa pode eliminar todas as obscuridades. E quando as obscuridades são eliminadas você vê a verdadeira natureza da mente com a qual podemos ter sucesso, o que quer dizer, em outras palavras, atingir a Iluminação, com a qual teremos todos os meios para conseguir realizar todos os nossos desejos, e porque todas as obscuridades foram eliminadas todas as qualidades poderão se desenvolver. E por isso nossos próprios desejos, os nossos próprios propósitos são realizados, e ao mesmo tempo, através do desenvolvimento das qualidades, nós poderemos desenvolver o socorro a todos os seres.
Para conhecer as práticas espirituais é muito importante conhecer a vida dos grandes Mestres para que nos inspiremos a seguir os seus exemplos. Porque também os grandes Mestres foram todos pessoas comuns como nós, e como nós estiveram cheios de corrupções e cheios de obscuridades. Mas porque entraram no caminho espiritual, e devido à prática que fizeram com esforço puderam eliminar as obscuridades e desenvolver a Sabedoria e assim tiveram sucesso em suas práticas. Por isso é muito importante conhecer a biografia dos Grandes Mestres.
Também para fazer nascer a inspiração para a prática é muito interessante conhecer os grandes Mestres. Como sabem, o Budismo começou na Índia. O Senhor Buddha nasceu na Índia e também atingiu a Iluminação na Índia. E também ali demonstrou suas grandes atividades físicas, suas grandes atividades verbais e suas grandes atividades mentais.
Mas a sua atividade mais importante ficou conhecida como "Girar a Roda", Girar a Roda do Dharma. O sentido disso é que a roda gira, pelo girar da roda é que nós atingimos nossa destino, ou seja, nós vamos de um lugar para outro.
Semelhantemente, girar a roda tem dois significados: um é que, grande realização tendo sido atingida pelo Buddha, através das palavras ele pôde transferi-la para nós, ou seja, assim como através da roda nós podemos viajar de um lugar para outro, através do girar a roda os seus Ensinamentos puderam se disseminar de um lugar para outro; outro sentido é que, primeiro nós ouvimos e aprendemos os Ensinamentos do Buddha, depois contemplamos, e a seguir meditamos sobre eles, e é através da meditação nós prosseguimos e vamos mais adiante no caminho espiritual. 
Primeiramente vem do Buddha para nós, e depois num momento posterior nós também prosseguimos. Este é o sentido de girar a roda.
Por isso o girar a roda do Dharma é a maior atividade realizada pelo Buddha, porque através do girar a roda os seres foram capazes de eliminar as obscuridades e conseguir o sucesso posterior no caminho. 
Depois que o Budismo se estabeleceu na Índia se disseminou em muitos países. Mas no Tibet, e graças à bondade de virtuosos Reis do Dharma, de seus ministros, de alguns panditas indianos, de tradutores, através deles o Tibet possui o completo Ensinamento do Buddha.
Ainda que em outras partes do mundo também possuam profundas doutrinas budistas, alguns têm apenas a parte hinayana, outras têm apenas a parte mahayana, outras têm a parte mantrayana (não completamente, mas têm).
O Tibet, porém, tem tudo, completo Ensinamento Hinayana, o completo Ensinamento Mahayana e o completo Ensinamento Mantrayana. E também tem as ciências relacionadas com a cultura budista, como a lógica, a arte e assim por diante.
O Tibet tem, não apenas o Ensinamento completo, mas o Mestres tibetanos tiveram a mesma realização que os Mestres indianos tiveram.
Diz-se que, certa vez um Mestre indiano chamado "Taba" Sangyê que era realmente um grande Mestre veio da Índia para o Tibet e ficou de um lado da montanha, quando do outro lado da montanha estava o grande Mestre tibetano Milarepa. Eles se conheciam e mandaram notícias um para o outro. Foi dito que de um lado da montanha estava o Mestre indiano, grande Mahasiddha, enquando se disse do outro lado que estava Milarepa. Ainda que naquele tempo não houvesse jornais (risos) mas havia algumas dakinis que levavam as mensagens de um para outro.
"Taba" Sangyê estava viajando para o outro lado para ver Milarepa, e Milarepa também foi do seu lado para o encontro.
Quando Milarepa estava próximo de "Taba" Sangyê ele desapareceu e transformou-se numa flor. E quando "Taba" Sangye chegou àquele lugar viu logo que aquela flor era Milarepa e... ele colheu a flor (risos). E ele disse: "Você tem aparecer para mim na sua verdadeira forma e não permanecer na forma de uma flor. Eu devo ver o seu verdadeiro corpo". E foi quando Milarepa apareceu e trocaram muitas experiências. 
Finalmente, como por um milagre, os dois permaneceram sentados na postura de lótus sobre as folhas muito finas de uma espécie de capim. E, ainda que Milarepa fosse muito magro e pequeno, e ainda que "Taba" Sangyê fosse um homem muito grande e pesado, os dois se sentaram naqueles ramos muito finos e altos de capim sem vergá-los. Mas o peso de Milarepa parecia um pouquinho maior, pois o capim vergava um pouco. 
Então se perguntou porque aquilo estava acontecendo, porque o leve Milarepa parecia levemente mais pesado. Então foi dito que era porque "Taba" Sangyê vinha da Índia, a pátria de todos os Buddhas do passado, do presente e do futuro, que era considerada um pouquinho mais sagrada do que o Tibet, ainda que o Tibet pudesse ser considerado um lugar sagrado mas não se igualava à Índia. Aquilo não acontecia devido à realização dos Mestres, mas sim devido à pátria de onde eles vinham. Não havia nenhuma diferença entre os dois no tocante à sua realização. É por isso que se diz que o Tibet herdou os Ensinamentos na sua pureza, e não há diferença de realização entre os Grandes Mestres Indianos e os Tibetanos. A única diferença está no lugar onde aqueles e estes nasceram.
E assim como cada um desses dois países tiveram grandes Mestres, também dentro do Tibet cada uma das quatro escolas do Budismo tiveram igualmente grandes Mestres. A escola Ningma, Sakya, Kagiu e Gelugpa tiveram todas elas grandes Mestres. 
Da mesma forma a nossa tradição Sakya teve muitos grandes Mestres. Os antepassados da tradição Sakya tiveram Sete Grandes Khöns. Os Khön derivam diretamente de seres celestiais e mesmo naquele tempo antes do advento do Budismo eles eram emanações de Manjushri. Depois, quando o Budismo veio da Índia, essa tradição [Khön] cresceu na propagação do Buddha-Dharma e de fato um dos primeiros tibetanos a receber a completa transmissão e ordenação era um Khön, cujo nome era Nagarashita. Eram sete pessoas a receber a ordenação e ele era um dos mais jovens. Havia três velhos, um de meia idade, e três jovens. Nagarashita era o mais jovem. Todos eles se realizaram como monges completamente ordenados e isso foi muito auspicioso para o início da tradicão do mosteiro tibetano.
Nagarashita e seu irmão, Dorge Rinchem, receberam os profundos Ensinamentos diretamente de Guru Padmasambhava e por esta razão eles praticaram o se conhece como "antigos seguidores", o que em outras palavras eram os "Ningmapás".
Depois, o pai de Sachen Kunga Nyngpô, Khön Konchok Gyalpo, sentiu que devido às circunstâncias viera o tempo de estabelecer um escola separada; que, se ele começasse uma escola separada seria mais beneficioso; e assim a Escola Sakya foi estabelecida. 
Khön Konchok Gyalpo estabeleceu o primeiro Mosteiro [Sakya]. Os Ensinamentos ali foram confiados aos Tradutores, porque o Ensinamentos que vieram dos tradutores eram considerados autênticos. Os Tradutores viajavam do Tibet para o Índia e ali se encontravam com os grandes Mestres indianos e recebiam os Ensinamentos. 
Assim naquele tempo havia Dromi Lotsawa, um dos maiores tradutores. De fato, o grande Marpa, o fundador da Escola Kagiu, também estudou com Dromi Lotsawa. Dromi Lotsawa era um verdadeiro grande Mestre. Ele foi para a Índia e estudou com o grande "Karmalashila". Havia dois grandes Mosteiros naquele tempo na Índia. Um era Nalanda, e o outro era de "Karmalashila". 
Ainda que em "Karmalashila" houvesse muitos outros sábios, ali havia seis grandes e renomados panditas. Ele eram conhecidos como os guardiães das portas, porque naquele tempo havia os budistas e os heréticos que vinham debatem sobre filosofia. Assim cada pandita estava sentado em cada uma das portas de cada lado. Quem viesse do Leste, o pandita da Porta do Leste iria desafiá-lo. Da mesma forma no Norte, e outros pontos cardeais... e no centro havia duas colunas de sustentação que completavam os seis grandes panditas. Dromi Lotsawa recebeu Ensinamentos com todos os seis panditas, ele era um grande Mestre também.
Principalmente Dromi Lotsawa recebeu de um Bikkhu (monge) chamado "Weel" Vajra o completo Tantra de Hevajra e completos Ensinamentos e instruções substanciais e a promessa de receber aquelas instruções em tibetano mesmo. Assim ele voltou para o Tibet e lá encontrou Gayadhara e de Gayadhara ele recebeu o Ensinamento LanDré. 
Dromi Lotsawa foi o primeiro tibetano a receber o Ensinamento Landré, que é o principal Ensinamento Sakyapá que é o "Caminho e o Resultado Todos Juntos". Ele recebeu o LanDré e se transformou em real Detentor do Ensinamento. Teve muitos discípulos. 
Dromi Lotsawa (992-1072) teve muitos discípulos. Mas houve sete discípulos principais que também atingiram a condição de Mahassidha, três homens e quatro mulheres. Todos esses conseguiram grandes realizações. Esses sete discípulos receberam o completo Texto, quer dizer o Ensinamento do Tantra de Hevajra.
Quatro discípulos receberam complertamente as Instruções Essenciais. Um deles foi Seton Kunrig (1025-1113). Seton Kunring é um dos principais Detentores da Linhagem das Instruções Essencias - em outras palavras, do Ensinamento LanDré.
Ele passou essas Instruções para Shangton Chunbar (1053-1136). Shangton Chunbar foi um grande iogue. Ele parecia uma pessoa comum. Ele não parecia um grande lama, não era visto sentado num trono etc. ou vestindo manto. Ele se vestia com roupas tibetanas normais, com capote e botas. Ele trabalhava no campo. Ele aparecia como um fazendeiro, muitas pessoas lhe pediam que trabalhasse em suas terras. Ele socorria a todas. Depois se descobriu que havia um Shangton Chunbar em cada campo (risos), ainda que houve apenas um Shangton Chunbar.
Depois veio Sachen Kunga Nyingpô (1092-1158), fundador dos Sakyapás. Ainda que seu pai, Konchog Gyalpo, tenha sido o construtor do Mosteiro Sakya [em 1073] , coube a Sachen Kunga Nyingpô [esta tarefa de ser o Iniciador].
Sachen Kunga Nyingpô recebeu o Ensinamento LanDré de Shangton Chunbar por muitos anos: o Ensinamento, as Instruções Essenciais e as Completas Instruções de Meditação por muitos anos. 
Quando Shangton Chunbar terminou a transmissão, disse: "Vou lhe mostrar uma coisa". E então se colocou dentro de um cesto e disse que o cesto fosse colocado de cabeça para baixo. Ele estava com vestimentas normais quando entrou no cesto. Então apareceu de dentro do cesto um animal como se fosse um veado, um animal que ninguém tinha visto antes, com uns olhos muito impressionantes. Ninguém podia reconhecer aquele animal, muito estranho, muito impressionante. Então aquele animal se multiplicou de tal forma que o inteiro vale foi coberto. Depois, cada animal se absorveu um no outro, restando apenas um animal que entrou novamente no cesto. Aí um pássaro saiu do cesto. Era um pássaro muito diferente dos outros pássaros, ninguém sabia o que era. E da mesma forma aquele pássaro se multiplicou e da mesma maneira depois um foi absorvido dentro do outro dentro do cesto. Depois desse acontecimento o próprio Shangton Chunbar apareceu e se multiplicou. Todo o vale se cobriu. Depois os corpos foram absorvidos um no outro e surgiu um Shangton Chunbar enorme, sentado com as pernas cruzadas, cujo corpo cobria todo o vale de Sapantins, que era o nome do vale. E aí ele voltou outra vez para dentro do cesto. Depois disso, apareceram três Bodissátuas: Manjushri, Avalokitesvara e Vajrapâni. E depois apareceram muitos e se absorveram um no outro e assim Sangton Chunbar voltou a aparecer com o seu corpo normal, com suas vestes normais. Ele costumava vestir-se de uma seda dourada forrada de lã, da mesma forma que se vestia uma pessoa comum para fazer compras. E ele disse: "Eu realizei todas essas coisas através da prática da meditação". Isto é o que se chamada "Inconcebível Segredo do Corpo", em outras palavras: a Totalidade das Formas. Ele podia aparecer com qualquer forma, qualquer que fosse a forma que ele quisesse. "Se você também por dezoito anos não revelar este Ensinamento para ninguém, depois de dezoito anos você se tornará Detentor deste Ensinamento." E foi assim que Lama Sakyapá [Sachen Kunga Nyingpô]. Ele também praticou.
Lama Sakyapá, ainda que fosse emanação de Manjusri e Avalokitesvara, para os olhos do comum das pessoas ele parecia um ser normal. Ele também aparecia com um tipo de vida normal. 
Quando ele era jovem, ele recebeu instruções e quando ele entrou em meditação ele viu Manjusri e Manjusri lhe transmitiu o Ensinamento de Afastamento do Quatro Apegos [que se encontra nesta página], ou seja, em quatro linhas ele apresentou todo o Ensinamento Hinayana e Mahayana. Todo o Ensinamento em apenas quatro linhas. Sachen Kunga Nyingô também teve o poder de multiplicar seu corpo em sessenta lugares diferentes. Ainda que naquele tempo não houvesse comunicação, e as pessoas não tinha como saber o que estava acontecendo, mas depois, quando os discípulos se encontravam e conversavam, eles diziam: "Naquele dia Ele ofereceu o Ensinamento LanDré em tal lugar". O outro replicava: "Naquela data Ele estava consagrando o Templo tal". E um outro dizia: "Mas no mesmo dia eu recebi seus Ensinamentos em tal lugar", etc. E aí se descobria que tudo aquilo ocorria ao mesmo tempo. Mas no dia ninguém podia saber, pois não havia comunicação entre os lugares. Só depois os discípulos descobriam que tudo se passava no mesmo tempo. Sachen Kunga Nyingpô teve muitos discípulos, mas seus principais discípulos foram seus próprios filhos, Sonam Tsemo (1142-1182) e Jetsun Dragpa Gyaltsen (1147-1216).
Dromi Lotsawa (992-1072) teve muitos discípulos. Mas houve sete discípulos principais que também atingiram a condição de Mahassidha, três homens e quatro mulheres. Todos esses conseguiram grandes realizações. Esses sete discípulos receberam o completo Texto, quer dizer o Ensinamento do Tantra de Hevajra. Quatro discípulos receberam completamente as Instruções Essenciais. Um deles foi Seton Kunrig (1025-1113). Seton Kunring é um dos principais Detentores da Linhagem das Instruções Essencias - em outras palavras, do Ensinamento LanDré. Ele passou essas Instruções para Shangton Chunbar (1053-1136).
Shangton Chunbar foi um grande iogue. Ele parecia uma pessoa comum. Ele não parecia um grande lama, não era visto sentado num trono etc. ou vestindo manto. Ele se vestia com roupas tibetanas normais, com capote e botas. Ele trabalhava no campo. Ele aparecia como um fazendeiro, muitas pessoas lhe pediam que trabalhasse em suas terras. Ele socorria a todas. Depois se descobriu que havia um Shangton Chunbar em cada campo (risos), ainda que houve apenas um Shangton Chunbar.
Depois veio Sachen Kunga Nyingpô (1092-1158), fundador dos Sakyapás. Ainda que seu pai, Konchog Gyalpo, tenha sido o construtor do Mosteiro Sakya [em 1073] , coube a Sachen Kunga Nyingpô [esta tarefa de ser o Iniciador].
Sachen Kunga Nyingpô recebeu o Ensinamento LanDré de Shangton Chunbar por muitos anos: o Ensinamento, as Instruções Essenciais e as Completas Instruções de Meditação por muitos anos. 
Quando Shangton Chunbar terminou a transmissão, disse: "Vou lhe mostrar uma coisa". E então se colocou dentro de um cesto e disse que o cesto fosse colocado de cabeça para baixo. Ele estava com vestimentas normais quando entrou no cesto. Então apareceu de dentro do cesto um animal como se fosse um veado, um animal que ninguém tinha visto antes, com uns olhos muito impressionantes. Ninguém podia reconhecer aquele animal, muito estranho, muito impressionante. 
Então aquele animal se multiplicou de tal forma que o inteiro vale foi coberto. Depois, cada animal se absorveu um no outro, restando apenas um animal que entrou novamente no cesto. 
Aí um pássaro saiu do cesto. Era um pássaro muito diferente dos outros pássaros, ninguém sabia o que era. E da mesma forma aquele pássaro se multiplicou e da mesma maneira depois um foi absorvido dentro do outro dentro do cesto. 
Depois desse acontecimento o próprio Shangton Chunbar apareceu e se multiplicou. Todo o vale se cobriu. Depois os corpos foram absorvidos um no outro e surgiu um Shangton Chunbar enorme, sentado com as pernas cruzadas, cujo corpo cobria todo o vale de Sapantins, que era o nome do vale. 
E aí ele voltou outra vez para dentro do cesto. 
Depois disso, apareceram três Bodissátuas: Manjushri, Avalokitesvara e Vajrapâni. E depois apareceram muitos e se absorveram um no outro e assim Sangton Chunbar voltou a aparecer com o seu corpo normal, com suas vestes normais. Ele costumava vestir-se de uma seda dourada forrada de lã, da mesma forma que se vestia uma pessoa comum para fazer compras. 
E ele disse: "Eu realizei todas essas coisas através da prática da meditação". Isto é o que se chamada "Inconcebível Segredo do Corpo", em outras palavras: a Totalidade das Formas. Ele podia aparecer com qualquer forma, qualquer que fosse a forma que ele quisesse. 
"Se você também por dezoito anos não revelar este Ensinamento para ninguém, depois de dezoito anos você se tornará Detentor deste Ensinamento."
E foi assim que Lama Sakyapá [Sachen Kunga Nyingpô]. Ele também praticou.
Lama Sakyapá, ainda que fosse emanação de Manjusri e Avalokitesvara, para os olhos do comum das pessoas ele parecia um ser normal. Ele também aparecia com um tipo de vida normal. 
Quando ele era jovem, ele recebeu instruções e quando ele entrou em meditação ele viu Manjusri e Manjusri lhe transmitiu o Ensinamento de Afastamento do Quatro Apegos [que se encontra nesta página], ou seja, em quatro linhas ele apresentou todo o Ensinamento Hinayana e Mahayana. Todo o Ensinamento em apenas quatro linhas. 
Sachen Kunga Nyingô também teve o poder de multiplicar seu corpo em sessenta lugares diferentes. Ainda que naquele tempo não houvesse comunicação, e as pessoas não tinha como saber o que estava acontecendo, mas depois, quando os discípulos se encontravam e conversavam, eles diziam: "Naquele dia Ele ofereceu o Ensinamento LanDré em tal lugar". O outro replicava: "Naquela data Ele estava consagrando o Templo tal". E um outro dizia: "Mas no mesmo dia eu recebi seus Ensinamentos em tal lugar", etc. E aí se descobria que tudo aquilo ocorria ao mesmo tempo. Mas no dia ninguém podia saber, pois não havia comunicação entre os lugares. Só depois os discípulos descobriam que tudo se passava no mesmo tempo. 
Sachen Kunga Nyingpô tem muitos discípulos, mas seus principais discípulos foram seus próprios filhos, Sonam Tsemo (1142-1182) e Jetsun Dragpa Gyaltsen (1147-1216).

sábado, 12 de setembro de 2015

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Guardiães da Tradição Sakya







Guardiães da Tradição Sakya



Pelo Ven. Lama Sherab Gyaltsen Amipa




Mahakala, Guardião do Dharma

Do grande tradutor Bhari Lotsava, Jetsun Kun-ga Nyingpo recebeu a permissão para praticar a meditação em Panjaranatha (uma forma de Mahakala) na forma masculina solitária de Ekavira, junto com ensinamentos no tratado de Mahabrahmana A Vasta Sadhana. Ele ganhou entendimento sem defeito destes ensinamentos, e eles vieram a ser conhecidos como a primeira transmissão oral de Panjaranatha.
Na Índia há uma montanha chamada Malaya, o cume da qual é formado de ferro. Pela grande compaixão, o Bodhisattva Vajrapani se manifestou espontaneamente lá na forma de uma imagem de pedra, depois conhecida como a Pedra Mahakala dos Sakyapás. Em sua manifestação, os deuses fizeram uma chuva de flores sobre ela, e panditas indianos aplicaram cores à imagem onde as flores tinham caído. Até mesmo hoje a pessoa pode ver as impressões dessas cores nas formas de flores. Esta imagem abençoada foi dada Kun-ga Nyingpo por Bhari Lotsava.
A segunda transmissão oral de Panjaranatha aconteceu como se segue. Quando o Pandita Gayadhara indiano foi para o Tibet para explicar o Dharma a Dogmi Lotsava Sakya Shenyen, ele lhe deu a transmissão oral de Mahakala. Estes ensinamentos muito profundos incluem a permissão para meditar em Panjaranatha na forma de Ekavira de acordo com a tradição de O Caminho e Seus Frutos, por Virupa. Jetsun Dhagpa Gyaltshan compilou as três práticas tratadas com os ensinamentos anteriores no texto A Prática Meditational Descrita Como um Colar.
Jetsun Kun-ga Nyingpo também concedeu os ensinamentos orais completos nas quatro autorizações da linhagem do grande Acarya Sarorujavajra, baseado em Panjaranatha com cinco deidades, Panjaranatha com oito deidades e o Sindurmandala. Estes ensinamentos foram dados a Lama Seton por Dogmi Lotsava, e ele os passou para Sangton Chobar, que os ensinou na sua totalidade para Jetsun Kun-ga Nyingpo. A transmissão oral de Mahakala conhecida como " O Cintamani Reino Protetor dos Sakyapas " também foi passada para Kun-ga Nyingpo pela linhagem de Puhreng Lotsava Dhagjor Sherab.
A terceira transmissão oral de Panjaranatha é o ensinamento que Jetsun Kun-ga Nyingpo recebeu de Lotsava Lodho Dhagpa. Esta tradição oral combina os ensinamentos escondidos, a linhagem que vem de Acarya Padmasambhava, a linhagem de Sardhana, e a de Canchenpo, como também a linhagem de Ghyijang. Considerando que as três linhagens precedentes só têm ensinamentos na forma masculina solitária de Panjaranatha, esta quarta linhagem trata da forma masculina solitária, a forma feminina solitária, as meditações que envolvem o lama e a deidade meditational, e Panjaranatha com um círculo de outras deidades. Com respeito aos ensinos orais de Panjaranatha, as primeiras três linhagens discutem só a prática exterior, considerando que a quarta contém ensinamentos vastos nas práticas internas, exteriores e secretas. Todas as quatro linhagens permanecem irrompíveis até nossos dias. Até o tempo de Jetsun Kun-ga Nyingpo, a permissão para meditar em Panjaranatha só era dada na frente da imagem de Sebag de Mahakala, e só foi dada aos que tinham espiritual amadurecimento para receber a autorização de Hevajra. Esta prática era determinada a partir de muito grande compaixão, e entretanto é extremamente perigosa, contendo a essência do Dharma inteiro. Além estes ensinos orais, Lotsava Lodho Dhagpa deu a Kun-ga Nyingpo representações físicas do corpo, fala e mente de Panjaranatha.
A maneira pela qual Mahakala foi convidado ao Tibet é como segue. O Tibetano rei de Ngari Para, Lha Lama Yeshe Wo, e Lhatsun Jhangchub Wo enviaram o tradutor Rinchen Zangpo para a Cachemira com as instruções de estudar o Sutras e Tantras em geral e especialmente para convidar o protetor do Dharma, Mahakala para o Tibet. Ele foi então para a Índia e permaneceu estudando por muito tempo lá e recebendo ensinamentos. De volta ao Tibet, e ele pediu para o Acarya Sardha permissão para meditar em Mahakala. O Acarya respondeu que ele deveria ir primeiro para o templo de Mahakala no portão norte de Boddh Gaya e lá deveria recitar com uma voz funda, bonita como de uma tigresa o elogio de Mahakala chamado "Forma Monstruosa ". Tendo feito assim, lá apareceu a ele a forma de Mahakala (como nós conhecemos hoje) tão imenso quanto o universo inteiro, e a mente dele entrou em um estado de samadhi. Mahakala lhe deu então ensinamentos orais e disse, " eu serei um protetor do Dharma no Tibet. Voltemos lá juntos ".
Depois disso, Acarya Sardha lhe deu a permissão pedida junto com a oral transmissão, e Rinchen Zangpo e Mahakala partiram para o Tibet. Quando estavam há um dia viagem do Tibet, Mahakala voou no céu e voltou. Então o tradutor pensou, " Embora a ordem do rei foi cumprida, não foi corretamente terminada, porque eu negligenciei em contar a meu lama ou sua ordem ". Ele voltou então a Sardha e lhe contou o que tinha acontecido.
O lama respondeu, " Este é um presságio que o Dharma se desenvolverá no Tibet. O Protetor de Dharma também tem futuros discípulos no Tibet. Devido à compaixão dos aryas, não haverá nenhuma dificuldade devido a interferências de outros seres, assim você deveria levar o protetor para lá por todos os meios ".
Como uma representação do corpo dos buddhas, ele lhe deu a imagem de Mahakala Sebag Yeshe Gonpo; como uma representação da fala dos buddhas', um pedaço preto de veste na qual havia muitos mantras impressos de buddhas e bodhisattvas; como uma representação da mente dos buddhas', um vajra de nove pontas do melhor ferro; e como uma representação da atividade e qualidade do buddhas, ele lhe deu a transmissão oral inteira da prática dos quatro tipos de atividades de seres iluminados (i.e. pacificando, se expandindo, ações poderosas e ferozes).
Então eles viajaram para Ngari To, Lotsava Rinchen Zangpo deu esta transmissão oral a Dhagpa Tengpa Tontan Tsulthim, que passou isto para Mahalotsava. Mahalotsava deu a permissão e transmissão oral na prática para Jetsun Kun-ga Nyingpo diante da imagem de Sebag de Mahakala. Como ele lhe deu a permissão, ele também lhe deu as anteriores representações do corpo, fala e mente dos buddhas. Então a imagem de Sebag se levantou, caminhou em direção a Kun-ga Nyingpo e o levou pela mão. " Em geral, o lama disse, é importante a todo praticante de Dharma se dedicar a um Protetor de Dharma bom. Em particular, há muitos sinais auspiciosos que este protetor, Panjaranatha, será de benefício a você e sua linhagem ".
O guru mais antigo na linhagem de Mahakala foi Brahmana Vararuci. O Buddha Vajradhara diretamente abençoou a deidade meditational dele - Mahakala na forma de Sebag Nagpo Phurshe - como viu que isto grandemente beneficiaria o Dharma. Na sua velhice, Brahmana Vararuci contou à sua deidade meditational: " Qualquer tarefas que eu exigi de você, você cumpriu, mas agora como eu sou velho, não mais preciso. Agora vá para Sakya e obedeça aos comandos de Kun-ga Nyingpo e de sua linhagem " . E Mahakala assim fez. Desde aquele tempo obedeceu Mahakala aos comandos do Sakyapas como um criado, mas às vezes ele exibia vários tipos de comportamento violento. Isto foi dito para o guru, que disse: "mesmo na Índia, não existe nada mais poderoso do que Mahakala. Mas em sua meditação se você visualizar Vajrapani ou a deidade meditational Bhutadamara no ombro de direito de Mahakala, isto terá resultados bons". Os lamas fizeram como aconselhado, e é por isso que hoje Bhutadamara é retratado no ombro direito deste Protetor de Dharma em pinturas e estátuas. Então o grande Sakyapa trouxe as representações físicas de Mahakala da Índia para o templo de Sakyapa chamado Gorum Zimci Karpo e fez em um de seus quartos pequenos a habitação temporária do protetor.
Quando Jetsun Kun-ga Nyingpo pensou em construir um templo novo para o protetor, Mahakala lhe falou, não há nenhuma necessidade de construir um templo novo. Este é um lugar satisfatório. Como eu sou o guardião do portão do norte de Boddh Gaya, eu assistirei isto daqui. E neste lugar eu suprimirei os inimigos de Dharma, protegerei o Dharma e cuidarei de sua preservação ".
Então o lama imediatamente composto o elogio de Mahakala intitulado " O Grande Serviço " no qual ele pediu para o protetor que permanecesse imutável naquele mesmo lugar. Pelos auspícios deste pedido para o serviço de Dharma, todas as condições aconteceram para a linhagem de Sakyapa florescer e nunca declinar na duração dos ensinamentos de Buddha Sakyamuni.
Assim Jetsun Kun-ga Nyingpo recebeu três transmissão oral de Mahakala.
Durante as vidas dos dois irmãos Sonam Tsemo e Dhagpa Gyaltshan, foram preservados estes ensinamentos mas nenhuma transmissão oral nova foi recebida. Depois disso, durante o tempo de Sakya Pandita, o Kashmiri Pandit Sakyasri veio ao Tibet e ensinou a meditational pratica de Ekavira, a forma masculina solitária de Mahakala, e de Mahakala cercado por quatro dakinis Nampar Tsigma, Marali, Gatshigma e Nagmo Chenmo. Os ensinamentos orais nestas práticas são conhecidos como " As Três Navalhas da Prática Secreta". Os lamas mantêm a pintura famosa de Mahakala conhecida como " O Retrato do Protetor dos Sakyapas " pintada por uma mestra índia com tais materiais preciosos como ambrósia que tinha sido colecionada pelo Acarya Brahmana Vararuci, e que o Kashmiri Mahapandit Sakyasri deu aos antigos lamas de Sakya.