sábado, 30 de agosto de 2008

PRECE PELA FELICIDADE DE TODOS OS SERES


PRECE PELA FELICIDADE
DE TODOS OS SERES

Por Ngorchen Kunga Zangpô (1382-1456)


Possam todos seguir pela estrada
Aberta à eterna e única paz!
Ó preciosa Doutrina Onisciente
No espaço e no tempo permaneça
E cresça nas dez direções!
De ilimitado saber de que são feitos
Compassivos Gurus, virtuosos amigos, defensores
Da rara Doutrina dos Sugatas
Pelo bem de todos na Terra permaneçam.
Cuidando, praticando e ensinando
Viventes conduzindo no caminho
Possa a pérola Sangha edificar para sempre.
Obras crescentes nas dez direções.
Com a visão correta da existência
Sem medo da velhice, doença e morte
Alegres sentimentos apareçam
E o amor de todos por todos cresça!
Suaves brisas ondulem brancas bandeiras de rezas
Na gala extrema das cidades belas
Em toda gente sedas, jóias suntuosas
Que a riqueza prospere pelo mundo!
Luzes realcem as nuvens nos espaços
Dancem coloridos pavões sobre a florida serra
Frescas e claras as fontes, chuvas aconteçam
Por tudo se alegre e cante a Natureza!
Frescas flores grassem sobre os montes
Rebanhos, safras cubram o vale inteiro
Alegres cantem todos os seres
Conflitos e orgulhos emudeçam!
Governantes sábios e pacíficos sejam
E que seus súditos lhe tenham o respeito
Externas e internas lutas desapareçam
Em tudo retorne a era dos perfeitos!
Guardadas com estátuas do Onisciente
Escrituras sagradas em elevados templos
Possam divinas nuvens de ofertas piedosas
Criar a grande chuva de preciosas dádivas!
Ó mantos de açafrão! Ó portadores!
Que monges habitem monastérios!
Devotados à escrita, ao debate, ao ensino
Que cânticos e práticas acrescentem!
Monjas e monges, leigos e noviços
Prendados da conduta virtuosa
Que meditem, contemplem e que ouçam
Que floresça o Ensino do Sugata.
Longe da pressa, barulho, distração
Abandonando tais coisas prejudiciais
Que iogues pratiquem em pacíficos lugares
E aumentem realizações de qualidade.
Rezando com funda fé e devoção
Nós, praticantes do sagrado Dharma
Vida longa tenhamos, riqueza e progresso
E excelências, sem meio de vida incorreto.
Generosidade, moralidade, paciência, zelo
Meditação e sabedoria, ó supremas
Que tenhamos as virtudes de um Buddha
Aumentem as bênçãos das sagradas escrituras!
Pela generosidade, pelas palavras amáveis
Venha o povo falar do Dharma sabiamente
Que atentem todos aos pontos da Doutrina
Que o Ensino cresça para Universal Benefício!
Que obstáculos da prática desapareçam!
Que estejam todos os fatores excelentes
Tudo o que o Sábio tenha ensinado
Tais virtudes sejam a própria natureza!
Pelas bênçãos do Guru, a Compaixão
A Verdade própria dos Dharmas todos
Pelo poder do meu sincero coração
Possam essas preces serem realizadas!
Ó glorioso Sakyapá, Detentor do Ensino
Mahayana praticado no Tibet
Kunga Gyaltsen, Senhor do Mundo
Que suas bênçãos nos tragam boa fortuna!
Mestre dos seres, ó Pandita
Poderoso sábio, ó Manjusri Sagrado
Segundo Buddha, ó Glorioso Sakyapá!
Que suas bênçãos nos tragam boa fortuna!
Incontáveis Buddhas das dez direções
Senhor do Vajra e dos três segredos
Kunga Zangpô, do Buddha a Profecia,
Que o Ensino permaneça e traga boa fortuna!
Gloriosos Centros Sakyas da Doutrina
Ilhas de Sangha no oceano cresçam
Que as ondas do Dharma triunfantes vençam
A cidadela do mal sobre o topo do mundo!
Yak Rong, dois mestres de Mafampa
Sherab Zangpô, com seu poder de conhecimento
Dzong Kar, do Tripitaka o cimo da coroa
Possa o Ensino triunfar e a boa fortuna!
Ó Regente dos Sakyas! Ó Manjusri!
Rugir do leão de natureza imperturbável
Pise a cabeça do elefante louco
Que o Ensino de Goram vença o horizonte!
Pura chama sagrada em sua mente
Ó glorioso conquistador dos maras
Atual Vajradhara Tshar Mestre
Que o Ensino floresça no planeta!
Pelos Buddhas que vieram nesse mundo
Como sol e lua os Ensinos iluminam
Mestre-discípulo, a Sangha orquestrada
Possa o Ensino aumentar a boa fortuna!
Que os mestres gloriosos fiquem para sempre
Que possam atravessar a Terra inteira
Com poderosos e ricos patrocínios, o Dharma
Possa o Ensino aumentar a boa fortuna!
Pelas bênçãos compassivas dos Gurus
Pela Suprema Bênção da Tríplice Jóia
Pelos protetores do Dharma, devotados
Que todos esses desejos se realizem!
(Trad. R. Samuel)

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NGORCHEN VAJRADHARA KUNGA ZANGPÔ
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Foi o primeiro patriarca do trono Ngor da sub-linhagem Sakya e foi profetizado pelo próprio Buddha Sakyamuni. Ele proferiu o famoso texto O caminho e seus frutos que tem sido repetido desde aquela época até nossos dias por 69 gerações de Abades do Mosteiro Ngor a cada ano sem exceção. O atual Patriarca da tradição Ngor é Luding Khen Rinpochê.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Conselhos de Sua Santidade Sakya Trizin


Conselhos de Sua Santidade Sakya Trizin
aos praticantes de Dharma



Durante o Lam Dre Lob Shey em Vajradhara Gonpa, Austrália, em maio de 1997 Sakya Trizin concedeu uma pequena entrevista a um jornal de Dharma no meio de seu horário muito ocupado. Aqui está a entrevista.

Pergunta - Sua Santidade, em seus recentes ensinos em Vajradhara Gonpa você falou de bondade e compaixão. Você por favor poderia dizer algo sobre usar estas qualidades na vida cotidiana, especialmente nestes tempos difíceis?

Sakya Trizin - Toda vida humana está baseada em bondade e compaixão porque nós nascemos devido a bondade e compaixão e mantemos nossas vidas com isto e nós também terminamos com bondade e compaixão. Eu quero dizer, nossa existência diária como pessoa viva hoje é devido a bondade. Então como o todo de nossa vida depende de bondade e compaixão, se nós sentimos que isto é importante para nós também devemos praticar para os outros. Nós temos que mostrar bondade e compaixão. E isto não só está no Budismo. Muitas religiões enfatizam como a bondade e compaixão são importantes.

Particularmente nos ensinos do Buddha, ele fala sobre a bondade imensurável. Eu quero dizer, todo o mundo tem uma certa quantidade de bondade, até mesmo os animais mais ferozes também têm alguma forma de bondade, por exemplo, para com os próprios filhotes. Mas é dito que a bondade genuína, especialmente nos ensinos de Mahayana, não tem nenhum limite. A bondade e compaixão que você pratica não só é para as pessoas com quem você tem uma conexão, como seus amigos e parentes, mas até mesmo para essas pessoas que são desconhecidas ou que são objetos de raiva como seus inimigos. É pela prática de bondade e compaixão que se pode superar estas dificuldades e obstáculos. Usando bondade como uma arma mundana que o Buddha pôde derrotar todos os milhões de maras.

Pergunta - Para nossas vidas diárias você disse que nós precisamos ter uma compreensão correta da lei de causa e efeito. Você poderia explicar isto, Sua Santidade?

Sakya Trizin - Você sabe que o Buddha fala sobre a lei de causa e efeito. O todo de nossa vida, a experiência que nós temos agora, não é só coincidência, nem é sem causa. Cada coisa têm que ter sua própria causa especial, correta, completa, e condições. E o Buddha diz que todos nossos sofrimentos, dores físicas, dores mentais, todas as coisas miseráveis que estão em nossa vida, são o produto do que nós cometemos no passado, ações negativas que nós cometemos. Assim disto aprendemos como prejudicial é cometer ações negativas.

Ninguém deseja ter sofrimento. Todo o mundo deseja ser livre de sofrer. E se uma pessoa realmente desejar ser livre de sofrer no futuro, então é importante evitar as causas do sofrimento e tentar criar as causas da felicidade. Isto não está nas mãos de outra pessoa. Nenhuma força externa, nem mesmo a deidade mais poderosa, pode fazer você feliz a menos que você queira ser. Por exemplo, até mesmo o melhor doutor não o pode curar de sua doença a menos que você tome o medicamento e siga as instruções.

Semelhantemente, o tipo de vida que nós vamos enfrentar no futuro está completamente em nossas próprias mãos. Nós temos que evitar as causas erradas e nós temos que tentar criar as causas certas porque, na nossa vida, prosperidade, vida longa e felicidade são um produto de todas as ações boas que fizemos no passado. E se uma pessoa realmente desejar ter felicidade e ser livre de sofrer, é importante evitar as causas de sofrer e tentar criar as causas de felicidade.

Pergunta - Muitos de nós entendemos que o que nós experimentamos externamente é uma projeção de nossa própria mente. Mas como nós podemos interiorizar melhor estas experiências de forma que nós possamos entender e usar no caminho?

Sakya Trizin - Você vê, o todo de nossa vida é visão ilusória, é tudo ilusão. Primeiro é duro perceber que seja tudo ilusão. Exemplos muito bons são determinados como um sonho. Enquanto você estiver sonhando, o sonho é tão real quanto esta vida. Em seu sonho você pode estar contente, triste, você pode ter sofrimento etc, você pode ter raiva, todos os tipos de coisas, e é tão real quanto agora. Mas quando você está acordado, então todas as coisas que você viu, os países, os animais, as pessoas, os lugares onde estava, nada, não há nem mesmo um sinal do que você viu em seu sonho. Assim usando como exemplo, podemos entender que nossa vida presente aqui também é igual um sonho. Não é real. É visão ilusória. É criado por nossa mente. É nossa projeção natural. Assim através dessa compreensão, eu penso que isto o faz vir mais íntimo ao contato da realidade última.

Pergunta - Em seus ensinos você falou de usar a boa fortuna e as dificuldades como oportunidades. Mas alguns de nós achamos isto difícil de manter aquela perspectiva quando nós estivermos no meio do sofrimento. Você poderia dizer algo sobre isto, Sua Santidade?

Sakya Trizin - Quando nós enfrentarmos dificuldades, claro que é duro todo o mundo perceber que fomos associados desde o sem princípio com ações negativas e os resultados assim se aconteceram. Eu quero dizer, quando você estiver contente, todo o mundo pode compreender com isto, até mesmo as pessoas que não têm nenhuma idéia sobre qualquer influência espiritual pode compreender com felicidade.

Mas quando você enfrenta dificuldades e quando você enfrenta desastres, esse tempo é como uma tentativa. Naquele momento você pode enfrentar realmente a situação. Naquele momento é importante usar o conhecimento e a experiência que você ganhou pelo estudo de Dharma. Naquele momento é importante usar isto. Caso contrário, não é de nenhum uso. Apenas aprendizagem, apenas falar sobre o Dharma não é bastante. Nós realmente deveríamos usar o Dharma quando nós enfrentarmos uma tal situação. Então tem que ter uma compreensão do Dharma porque naquele momento o Dharma pode lhe dar a maior ajuda e a maior força.

Pergunta - Em 1988 você deu o Lam Dre Tsog Shey em Vajradhara Gonpa. Agora você voltou para dar o incomum Lam Dre Lob Shey aqui. Em ambos os eventos você enfatizou a importância da linhagem autêntica. Você poderia explicar como esta pode ser uma inspiração aos praticantes?

Sakya Trizin - Sim, especialmente nos ensinos de Varjrayana é muito importante ter a transmissão ininterrupta de qualquer linhagem. Do próprio Buddha até agora os ensinos foram passando de um mestre para outro. E então os grandes mestres são nossos exemplos, como nós deveríamos ser e o que nós deveríamos fazer. Também muitos deles eram no princípio pessoas ordinárias como nós, mas pela prática eles tiveram sucesso tendo tal grande realização. Assim nós temos que seguir nos passos deles. E assim eu penso que é muito importante saber as biografias dos mestres de linhagem.

Pergunta - Desde então sua última visita, Sua Santidade, que mudanças notou na prática do Dharma no Ocidente?

Sakya Trizin - Eu penso há muita melhoria. Eu posso ver agora que é muito mais maduro, muito mais familiar. Pessoas sabem muito mais sobre isto mas também na prática. Eu posso ver isso.

Pergunta - Com as expansões do Dharma no Ocidente, Sua Santidade, que conselho daria você a praticantes no caminho?

Sakya Trizin - Eu penso que é de verdade muito importante enfatizar as práticas preliminares. Aqui as pessoas ocidentais tendem a fazer muitas coisas de uma só vez. E até mesmo quando eles não estão preparados, gostam de entrar nas práticas muito altas e assim sucessivamente. E a pessoa não pode ir para tal prática alta sem uma fundação forte. Assim os ensinos de fundação e as meditações são muitíssimo importantes. Sem essas fundações sólidas de conhecimento e pratica, a pessoa não pode construir as práticas mais altas. Assim minha mensagem é que, não importa quanto tempo leve, é muito importante fazer a fundação, as práticas preliminares comuns e incomuns corretamente. E então se você fizer isso corretamente, eu penso que no futuro ensinamentos mais avançados poderiam ser muito efetivos.

Pergunta - Há qualquer outra coisa que você gostaria de dizer, Sua Santidade?

Sakya Trizion - Eu acho a Austrália um país muito bonito e também as pessoas são muito agradáveis. E a coisa mais agradável que eu acho aqui é que todas as raças diferentes, nacionalidades diferentes, filosofias diferentes e religiões todas vivem juntas em harmonia completa. Isto, eu penso, é mesmo, muito importante. E isto deve ser mostrado em outros países como exemplo de como raças diferentes e filosofias e religiões podem viver juntas, porque há necessidade agora para todo o mundo ser unido e com união e esforços unidos ajudar outros seres humanos da mesma categoria.


segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A PERFEIÇÃO DA MEDITAÇÃO: Khenpo Appey Rinpoche


Khenpo Appey Rinpoche



A PERFEIÇÃO DA MEDITAÇÃO



A quinta das seis perfeições é a perfeição da meditação, ou concentração. Concentração significa colocar a mente em um ponto, sobre um só objeto, sem que ela oscile para um outro objeto. Quando este estado de concentração se junta com o pensamento de conduzir todos os seres sencientes ao estado de liberação, e também com a visão da realidade última, nesse momento a prática da concentração torna-se a perfeição da concentração.
A força que se opõe à concentração é a dispersão, a mente oscilante ou dispersa. Mesmo se tivermos uma mente de concentração, se meditarmos sobre a visão incorreta, isto não nos trará o resultado. Mesmo se meditarmos da forma correta, com a visão correta e também com a idéia correta de virtude, se buscarmos apenas o resultado para esta vida ou para nossa liberação pessoal, não é uma prática de concentração completa.
Quando a mente está dispersa, não conseguimos realizar coisa alguma corretamente. Assim como um curso de água começará a transbordar, indo em várias direções, se não tiver um lugar adequado dentro do qual possa fluir, da mesma forma, se nossa mente estiver distraída, nossos pensamentos irão em diversas direções, e isto não é benéfico a nós. E assim como a água irá sempre fluir para baixo, como uma cachoeira, se não tiver um canal dentro do qual possa fluir, da mesma forma, quando nossa mente não está dirigida no sentido correto, nossos pensamentos estarão sempre em uma direção negativa, buscando sempre pensamentos e ações não-virtuosos.
Será, portanto, um grande erro nesta vida se não formos capazes de nos concentrar ou de manter nossa mente de forma correta. Também na hora de nossa morte, se não tivermos tido a capacidade de concentrar nossa mente de forma adequada, teremos uma grande lástima na hora de nossa morte, e isto irá também criar infelicidade naquele momento. Podemos ver, assim, que no decurso de toda a nossa vida, até a própria hora de nossa morte, o fato de termos uma mente dispersa irá criar muito sofrimento.
Em nossas vidas futuras, também, nossa mente estará muito dispersa, e não seremos capazes de superar a dispersão, ainda que tentemos meditar. Assim como um curso de água que é muito difícil de deter quando começa a cair de um penhasco, da mesma forma, na vida futura será muito difícil obstruir a dispersão de nossa mente. Além do mais, se não formos capazes de obstruir nossa mente na vida futura, é o mesmo que dizer que mais e mais atos não-virtuosos irão surgir, e que devido ao número sempre crescente de prejuízos, o resultado será o renascimento em reinos sucessivamente inferiores.
Assim também, se meditarmos com a visão incorreta, isto criará muitos obstáculos para nós. Temos que ter a idéia adequada dos métodos de meditação, do objetivo da meditação, e da visão com a qual nos pomos em meditação, especialmente a visão da realidade última, no momento da prática da meditação. Houve, por exemplo, um praticante que meditou por doze anos sobre uma forma de vacuidade que não era uma visão adequada da realidade última. Como resultado, diz-se que em sua vida seguinte ele nasceu como um gato.
Quando nos dirigimos a algum lugar, se cometermos o engano de tomar o caminho errado, isto irá tornar nossa viagem mais longa e mais difícil, pois teremos que voltar todo o caminho que já percorremos, novamente até o ponto de partida. Da mesma forma, sempre que praticarmos a meditação, é necessário que tenhamos a visão correta a acompanhá-la, de modo a não cometermos nenhum engano no caminho. Segundo o grande Bodhisattva Maitreya, quando vemos outros meditando sobre a visão errônea, não deveríamos criar a idéia de querer competir com eles. Deveríamos, em vez disto, meditar sobre a compaixão pelo fato de eles estarem indo no caminho errado.
Diz-se, também, que se nós apenas meditarmos sobre a bondade-e-amor e a compaixão, sem uni-la à visão da realidade última, jamais conseguiremos obter o resultado da liberação. A meditação sobre a bondade-e-amor e a compaixão é uma prática virtuosa. No entanto, ela não é completa porque não está conjugada com a visão última da realidade. Por outro lado, se fizermos nossa meditação apenas sobre a visão da realidade última, sobre o estado de vacuidade e não a acompanharmos com a bondade-e-amor e a compaixão, ela também não será completa. A razão disto é que embora possamos obter um resultado como a liberação do Arhat ou o resultado do caminho de menor escopo da tradição budista, não estaremos beneficiando os outros seres. Assim, para praticar adequadamente, tanto a compaixão quanto a sabedoria, ou tanto os meios hábeis quanto a vacuidade, precisam ser praticados conjuntamente.
Quando observamos o antídoto para a mente distraída, vemos que existem dois antídotos:
1. O antídoto com relação à causa:

Métodos para Superar as Causas da dispersão

APEGO A OUTRAS PESSOAS – Do ponto de vista da causa da mente dispersa, a mente é dispersa por causa do apego, especialmente o desejar outras pessoas e também o desejar nosso próprio benefício. Para superar a dispersão precisamos destruir ou abandonar este tipo de apego.
Vemos que há muitos erros no fato de ter apego a outras pessoas. Em primeiro lugar, isto obstrui nossa compreensão do sofrimento, das dores deste mundo de existência. O fato de não vermos que este mundo de existência é um estado de dor e de tristeza faz com que não queiramos abandoná-lo. Isto também se deve ao grande apego a outros, pois quando temos que nos separar deles, um grande sofrimento surge em nossa mente. Caímos, também, sob o domínio de outras pessoas, e em vez de usarmos nossa vida em nosso corpo humano que obtivemos para uma boa finalidade, estamos só desperdiçando nossa vida ao usá-lo apenas com o fim de realizar o desejo de outra pessoa. Devido a isto, a pessoa pela qual temos um grande apego se torna um grande obstáculo a que obtenhamos o estado de iluminação. É uma obstrução sob muitos aspectos.
Vemos, também, que as pessoas neste mundo são muito difíceis de agradar. Por uma questão pequena, podem ficar muito felizes ou muito zangadas. Podem até se tornar seu inimigo. Às vezes podem gostar de você, às vezes podem não gostar. Às vezes até quando você faz algo de bom para outra pessoa, pensando que lhe está agradando, ela pode se virar contra você e ficar muito contrariada com aquilo que você está a lhe fazer. Em vez de ficar feliz, ela pode ficar com raiva, surgindo um grande ódio em sua mente. Vemos, assim, que agradar a uma outra pessoa é uma tarefa muito difícil.
Vemos, também, que os seres viventes são realmente muito difíceis de se lidar. Os que estão em posição inferior à nossa ficam com muita inveja de nós. Se estamos ao mesmo nível deles, tornam-se nossos grandes competidores, trabalhando contra nós. Se estão em posição mais alta do que nós, olharão para nós com desprezo, devido a sua posição. Se os elogiamos, tornam-se muito orgulhosos. Se apontamos suas faltas ou lhes fazemos críticas, ficam rancorosos. Então, qualquer que seja o relacionamento, e não importa o que fizermos, nunca poderemos agradar-lhes completamente.
Vemos, também, que as pessoas são muito instáveis. Se tivermos, por exemplo, um poder muito grande, não importa o que dissermos, os outros nos ouvirão sempre, porque respeitam o poder que temos. Se puderem obter benefícios de nós, irão escutar-nos. Se não puderem se beneficiar, ainda assim nos escutarão devido ao poder que possuímos. Mas no momento em que perdermos nosso poder, ainda que lhes digamos palavras agradáveis, ou ainda que lhes tenhamos feito, no passado, muitas coisas boas, nesse momento eles nunca nos darão ouvidos. Em vez disto, irão criticar-nos. Da mesma forma, quando somos ricos temos muitos amigos. Eles ficarão felizes em vir nos agradar, em fazer o que podem por nós. No entanto, assim que perdemos nossa riqueza, jamais iremos ver seus rostos outra vez. Eles virarão a cabeça para o outro lado e se afastarão. Vemos, então, que é muito difícil, se não impossível, agradar a todos os seres viventes neste mundo.
Até o próprio Buda disse que os ensinamentos budistas, que são perfeitos sob todos os aspectos, são também criticados pelos outros. Até no tempo do Buda, as pessoas também o criticavam. Assim, se tivermos a idéia de que queremos fazer felizes a todos, e queremos que todos nos olhem com admiração e que estejam contentes conosco, este será um grande engano. É porque nunca conseguiremos satisfazer as mentes de cada um neste mundo, pois são tão diferentes e estão sempre a buscar as coisas mais diversas para si próprias.
Uma vez, Devadatta, primo do Buda e também seu grande inimigo, ficou muito doente e à beira da morte. O Buda foi abençoá-lo e, devido a essas bênçãos, ele conseguiu superar a doença. Quando se recuperou, disse ao Buda que ele era um médico muito competente, pois conhecia muito bem a medicina e, por esta razão, conseguiu ajudá-lo. Disse-lhe, também, que quando ele, o Buda, ficasse velho, nunca teria dificuldade em obter alimento. Com estas palavras, ele estava, na verdade, mostrando um grande desrespeito pelo Buda.
Também no tempo do Buda, havia um homem de nome Legpekarma que disse ao Buda que havia um mestre jainista que havia obtido o estado da onisciência e que não havia, além deste, ninguém no mundo inteiro que tivesse esta qualidade. Então o Buda lhe disse que esse mestre jainista que ele dissera ser onisciente ia morrer de indigestão dentro de sete dias. Quando Legpekarma voltou ao mestre jainista e lhe contou o que o Buda dissera, disse que era melhor que ele comesse muito pouco durante os próximos sete dias para provar que o Buda estava errado. Assim o mestre jainista quase não comeu nada durante seis dias. No entanto, ele se enganou nos cálculos, e pensou que o próximo dia, que era na realidade o sétimo, fosse o oitavo dia. Fez, então, uma boa refeição no sétimo dia e morreu de indigestão, renascendo como um espírito ávido.
O mestre jainista renascido como espírito ávido encontrou Legpekarma e disse-lhe que aquilo que o Buda havia dito era realmente muito extraordinário. O Buda é que era onisciente, e Legpekarma deveria desistir de sua descrença no Buda e ir buscar suas bênçãos e tomar refúgio no Buda. Mas Legpekarma continuava a resistir a esta idéia. Mais tarde, quando encontrou o Buda, disse-lhe que estava errado ao dizer que o mestre jainista iria morrer, porque o mestre jainista não morrera. O Buda respondeu que o mestre jainista não só tinha morrido nos sete dias como também o próprio Legpekarma havia falado com o homem morto. Legpekarma disse que o Buda estava enganado quanto ao fato de o mestre jainista haver renascido como espírito ávido, porque ele renascera em um dos reinos celestes. O Buda, então, perguntou-lhe quem era o espírito ávido com quem Legpekarma acabara de falar e que lhe dissera que ele deveria vir até o Buda e ter fé.
Nesta hora Legpekarma compreendeu que o Buda realmente possuía um estado de onisciência. Ficou, de fato, muito embaraçado e envergonhado com sua tentativa de enganar o Buda. Entretanto, embora ele compreendesse que o Buda tinha a qualidade da onisciência e pudesse realmente ver o futuro e o estado dos demais seres, mesmo assim ele ainda não teve fé no Buda. Apesar de ter visto o poder do Buda, ele foi-se embora. Então, embora o Buda seja completamente onisciente e um ser perfeitamente iluminado, ainda assim ele não pôde satisfazer a todos os seres viventes neste mundo.
O Buda também disse que nós não deveríamos ter apego sequer por nossos entes queridos, por nossos pais ou parentes próximos. Isto, porque um dia teremos que nos separar deles. Teremos que deixar esta vida sozinhos. Ninguém pode nos ajudar, nem mesmo aqueles que nos ajudaram nesta vida. Da mesma forma, não é conveniente ter ódio ou raiva dos inimigos, porque na verdade, neste mundo, todos estão sempre mudando. As coisas mudam a todo momento, até, às vezes, nossos amigos e entes queridos podem tornar-se nossos inimigos, e isto também pode ocorrer na próxima vida. As coisas estão sempre mudando.
A história que se segue ilustra esta questão de que tudo muda. Havia um casal que tinha uma filha. Então, o casal morreu, deixando a filha. O marido renasceu como peixe, e a esposa renasceu como cachorro. Uma vez, a filha estava sentada à beira da estrada comendo um peixe e, enquanto comia, aproximou-se um cachorro e tentou tirar-lhe um osso. Ela mordeu [o peixe] e chutou o cachorro. No colo, ela segurava um bebezinho junto a si.
Lá estava ela, sentada, abraçando bem o bebê, mastigando o peixe e ao mesmo tempo espantando o cachorro, quando um Arhat veio passando. Ele olhou para todos e, por conta de sua compreensão das coisas do mundo, sacudiu a cabeça e disse que o mundo era mesmo um lugar muito estranho. A mulher estava comendo seu pai, batendo em sua mãe e sentada com seu inimigo no colo. Então sob este ponto de vista, podemos ver que o apego aos outros nesta vida não é uma coisa que nós devamos praticar.

APEGO ÀS COISAS – O segundo tipo de apego é o apego aos objetos ou artigos nesta vida. Para obter as coisas nesta vida, diz-se que se pratica a não-virtude e também que se vai ao encontro de dificuldades. Em todas as três fases da aquisição das coisas – a fase de tentar obtê-las, a fase de tê-las obtido e depois a fase de perdê-las – o sofrimento está sempre envolvido. Por exemplo, no tempo em que se tenta acumular riqueza, temos que desempenhar uma quantidade de tarefas difíceis. Nós realmente sofremos para nos empenharmos em muitas ações não-virtuosas para acumulá-la. Às vezes, temos até que falar de uma forma ruim ou violenta. Nós até enganamos os outros ou nos prevalecemos deles. Então, sob todos os pontos de vista, no processo de acumular riqueza, estamos criando muitas imperfeições e neste processo não temos condições de praticar o dharma. Além disto, mesmo aqueles que nos são próximos, como nossos próprios parentes, podem tornar-se nossos inimigos e nossos inimigos podem tornar-se ainda maiores inimigos. Mesmo aqueles que não conhecemos podem tornar-se nossos inimigos.
Então, quando já obtivemos esses objetos, temos o sofrimento do medo de que os vamos perder. Temos, então, que protegê-los de muitas formas que criam sofrimento. Nossa preocupação de tentar proteger nossas posses torna-se tão grande que nos tornamos escravos dos objetos que desejamos. Então, em vez de possuí-los, eles começam a nos possuir. Temos que trabalhar para eles. E também, quanto queremos nos assegurar de que somos capazes de protegê-los e de mantê-los, tornamo-nos escravos das outras pessoas. Assim, estamos sempre empenhados em diferentes tipos de sofrimento. E também, pelo fato de tentarmos proteger as coisas que obtivemos, mais uma vez criamos muitos inimigos. Temos medo de que os outros possam tentar tomar nossas posses, e achamos que eles estão contra nós. Pelo fato de sempre tentarmos proteger as coisas que temos, criamos tantos maus pensamentos e más ações que isto cria grandes imperfeições e resulta em um mau renascimento.
Também, no momento de perder um objeto, temos um grande sofrimento, porque na hora de perdê-lo não conseguimos praticar qualquer ato virtuoso, o que exaure, dessa forma, nossa fonte de virtude. Tornamo-nos, também, muito infelizes e contrariados com os outros. Criamos raiva e ódio em nossa mente e, por conseguinte, mais imperfeições, sofrimento e atos não-virtuosos são criados. Assim, sob todos os pontos de vista, a perda de um objeto é um estado de sofrimento.
No entanto, isto não significa que tenhamos que nos livrar de tudo que possuímos. Os objetos que temos, por si próprios, não são um problema. O problema está em nosso apego a eles, e é este apego que precisamos superar. Assim, você não tem que jogar fora a chave do seu carro e tomar um ônibus para voltar para casa. Da mesma forma, se você é apegado a outros seres viventes, isto não significa que haja algo de errado com eles. O problema está em seu apego a eles. Não há nada de errado com as outras pessoas enquanto tais, você não precisa se preocupar com elas. Mas o seu apego a elas precisa ser diminuído ou destruído. Igualmente, temos que diminuir ou destruir nosso apego aos objetos que possuímos nesta vida. Diminuir ou destruir nosso apego a eles irá nos ajudar a superar nossa mente dispersa.
Quando se pergunta se nós podemos obter alguma felicidade com as posses que temos neste mundo, diz-se que as posses que obtivemos irão trazer-nos uma pequena quantidade de felicidade, mas os problemas que surgem são muito grandes. É igual a quando pomos mel sobre o gume de uma faca muito afiada e passamos a faca em nossa língua para tirar o mel. O sabor do mel é agradável, embora seja muito pouco em comparação com o fato de termos nossa língua sendo decepada. Da mesma forma, nosso apego aos diversos objetos ou pessoas neste mundo nos dá um pouco de felicidade, e junto com ela também nos dará um grande sofrimento. Nagarjuna disse que se temos áreas com forte prurido em nosso braço, ao coçá-las sentimos algum prazer. Vamos nos sentir muito bem coçando-as. Existe uma felicidade que surge daí. No entanto, se não havia, de início, um prurido, o prazer é muito maior. Da mesma forma, se temos apego a objetos e a pessoas, a felicidade que surge é muito pequena. Mas se não tivermos apego desde o início, a felicidade que surge daí será maior.

2. O antídoto com relação ao resultado:

Métodos para superar a Dispersão Diretamente

Encontram-se a seguir os métodos que tratam da dispersão diretamente. O método para superar uma mente dispersa é uma mente de concentração. Em outros termos, a meditação da concentração é o antídoto para superar a mente dispersa.
Existem três aspectos diferentes da meditação da concentração:

Meditação da Concentração Mundana – Com respeito à meditação da concentração mundana, há sete aspectos preparatórios ou preliminares e então, por cima destes, existem os quatro estados de dhyana e também os quatro estados do reino sem-forma. Em outras palavras, existem quatro estados de meditação que surgem do reino da forma e quatro estados de meditação que surgem do reino sem-forma.

Meditação da Concentração Hinayana – Do ponto de vista Hinayana, antes de tudo é necessário meditar sobre a natureza de sofrimento deste mundo de existência. E então, por cima disto, meditar sobre a concentração e então meditar sobre a sabedoria do insight. Da sabedoria do insight a meditação é expandida para incluir o que é conhecido como os trinta e sete fatores de iluminação.

Meditação da Concentração Mahayana – Na tradição Mahayana há duas tradições que são ensinadas – a tradição da Apenas-Mente (Mind-Only) que foi ensinada de acordo com o grande mestre indiano Asanga, e a tradição do Caminho do Meio (Middle-Way) que foi ensinada por Nagarjuna e Aryadeva e mais tarde por Shantideva. A explicação a seguir está de acordo com a tradição do livro de Shantideva, O Bodhicaryavatara.

Meditação da Concentração Segundo a Escola do Caminho do Meio (Middle-Way)
Segundo a escola do Caminho do Meio (Middle-Way), como está explicado no Bodhicaryavatara, diz-se que o método Mahayana para praticar a meditação é meditar diretamente sobre o pensamento da iluminação. Entretanto, para produzir o pensamento da iluminação de modo adequado, é necessário meditar sobre a bondade-e-amor e a compaixão. Embora não se ensine no Bodhicaryavatara que a pessoa medite primeiro sobre a bondade-e-amor e a compaixão, é necessário fazê-lo para que se produza o pensamento da iluminação.

MEDITAÇÃO SOBRE A BONDADE-E-AMOR – Quando meditamos sobre a bondade-e-amor, devemos pensar a respeito do objeto sobre o qual devemos meditar a bondade-e-amor. O objeto deve ser alguém que não possua a felicidade completa. Neste mundo, ninguém possui a felicidade completa, exceto o Buda totalmente iluminado. Além dele, todos os demais seres viventes neste mundo têm alguma forma de sofrimento. Assim, nossa meditação sobre a bondade-e-amor deve ser dirigida aos seres viventes neste mundo que não têm a felicidade completa. Quando meditarmos sobre a bondade-e-amor, o que devemos fazer é meditar sobre alguém por quem temos um grande amor e então igualar todos neste mundo a essa pessoa.
Por exemplo, se usarmos nossa própria mãe como nosso objeto de meditação, criamos uma idéia de bondade-e-amor para com ela, e então devemos pensar também que todos os seres viventes são parecidos com nossa própria mãe. Ou então, se você usar seu próprio filho, seu irmão, irmã ou alguém por quem você tem um amor especial como objeto de meditação, você cria uma idéia de bondade-e-amor para com esse filho, e então você torna todos neste mundo iguais a seu próprio filho.
Bondade-e-amor significa que a pessoa sobre a qual você está meditando deveria ter a felicidade e as causas da felicidade. A felicidade que eles devem obter deveria ser a felicidade que é livre de todas as imperfeições e livre, também, de todas as não-virtudes. Este tipo de felicidade é o tipo puro de felicidade. Possuir as causas da felicidade significa ser livre da prática de atos não virtuosos que são a causa da infelicidade.
Além disto, eles deveriam ter grande felicidade ou grande virtude. A grande virtude, neste caso, significa não apenas uma ação que seja livre de imperfeições, mas também uma ação que envolva a motivação Mahayana de trabalhar pelo bem dos seres sencientes. Nós meditamos que esta pessoa ou todos os seres sencientes que visualizamos à nossa frente obtenham este estado de felicidade e as causas da felicidade até o tipo de felicidade obtido pelo Buda completamente iluminado.
O próprio Buda disse que os benefícios que emanam da meditação sobre a bondade-e-amor são muito vastos e extraordinários. Diz-se que se nós pegássemos muitos mundos cheios de jóias e os oferecêssemos aos seres iluminados, haveria muitos méritos acumulados por este tipo de oferenda. Entretanto, maior ainda que esta oferenda é um momento de meditação sobre a bondade-e-amor. Desta forma, a bondade-e-amor tem os grandes benefícios de acumular mérito e também de beneficiar a si próprio e aos outros.

MEDITAÇÃO SOBRE A COMPAIXÃO – Em segundo lugar, devemos meditar sobre a compaixão. Em primeiro lugar, devemos compreender quem deve ser nosso objeto de meditação sobre a compaixão. Segundo o ensinamento de Maitreya, ele disse que há dez diferentes objetos sobre os quais podemos meditar a compaixão:
Aqueles que têm grande desejo ou grande apego aos outros.
Aqueles que praticam a virtude, mas que são obstruídos em sua prática da virtude. Por exemplo alguém que está tentando praticar o dharma, mas que está tendo muitos obstáculos, como ser perturbado por espíritos ou simplesmente não conseguir acumular as virtudes que decidira realizar.
Aqueles dos reinos inferiores que têm sofrimentos muito grandes.
Aqueles que têm grande ignorância. Por exemplo, aqueles que estão sempre praticando a não-virtude, como alguém que mata galinhas.
Aqueles que pensam que este mundo de existência irá trazer-lhes a felicidade e contam com ele para lhes trazer a felicidade.
Aqueles que trilham o caminho errado, o tipo de caminho religioso ou filosófico que não terá condições de ajudá-los.
Aqueles que, tendo obtido os estados de samadhi ou estados muito profundos de meditação, criam grandes obstáculos para si mesmos devido a seu apego àquilo que atingiram.
Aqueles que praticam, por exemplo, o caminho errado e pensam que já obtiveram o estado de liberação, quando, na realidade, não o obtiveram.
Aqueles que estão trilhando o caminho Hinayana.
Os Bodhisattvas que não realizaram as duas acumulações de mérito e sabedoria.
Maitreya também explicou que uma outra maneira pela qual podemos descrever o objeto sobre o qual meditamos a compaixão está em relação com as seis classes de pessoas que estão em oposição às seis perfeições. Assim, a respeito da perfeição de dar, aqueles que são avarentos e que são uma obstrução à perfeição de dar tornam-se nossos objetos de meditação sobre a compaixão. Podem, da mesma forma, ser nossos objetos de meditação sobre a compaixão aqueles que quebram seus votos de disciplina, aqueles que têm raiva, aqueles que são preguiçosos, aqueles que têm mentes muito dispersas ou muito agitadas, e, por fim, aqueles que são ignorantes.
Maitreya também disse que nós podemos combinar os objetos ou nossa meditação sobre a compaixão em dois grupos. O primeiro grupo consiste naqueles desta existência mundana e o segundo consiste naqueles que se situam no extremo do nirvana. Em outras palavras, aqueles da tradição Hinayana que lutam para obter sua liberação pessoal e ainda não a alcançaram e que não são capazes de trabalhar pelo bem dos demais seres sencientes. Meditamos sobre eles como objetos da compaixão, pois eles têm grande dificuldade para atingir o estado de total e perfeita iluminação de um Buda.
Dentro do primeiro grupo, podemos também dividi-los em duas categorias:
A primeira categoria compreende aqueles que estão criando as causas de sofrimento futuro – por exemplo, aqueles que estão praticando grandes ações não virtuosas para acumular riqueza ou para obter felicidade para si mesmos. Agindo desta maneira inadequada, eles estão criando as causas de sofrimentos futuro. Na próxima vida ou em uma vida futura, estes irão nascer definitivamente no reino mais baixo. Então, são suas ações que estão criando a causa do sofrimento futuro. Este é um grupo de pessoas sobre as quais meditamos a compaixão.
A segunda categoria compreende aqueles que têm o resultado do próprio sofrimento. Isto consiste naqueles que estão manifestamente experimentando o sofrimento neste momento. Por exemplo, aqueles que estão nos reinos inferiores como os infernos, e mesmo aqueles dos reinos mais elevados, como o reino dos humanos. Entre estes, incluem-se aqueles que são pobres, ou que têm grande sofrimento de medo, como o medo da doença ou da velhice, ou que estão separados das coisas junto das quais eles desejam estar, ou aqueles que desejam estar separados das coisas que estão junto a eles. Em outras palavras, aqueles que estão passando por más condições ou por sofrimentos. Este é um outro grupo de pessoas sobre as quais meditamos a compaixão.
Com relação ao método para criar a compaixão, diz-se que a compaixão surge como resultado de se ver o sofrimento. Ao vermos, repetidamente, os outros seres em estado de sofrimento, e sobre isto meditarmos, a compaixão por eles irá surgir dentro de nossa mente. O que devemos fazer é examinar com cuidado o estado de sofrimento dos outros, ver como os outros caíram nos três diferentes tipos de sofrimento, que são o sofrimento do sofrimento, o sofrimento da mudança e o sofrimento da natureza condicionada de que está impregnado este mundo. Além disto, podemos confiar em um mestre espiritual que nos dê ensinamentos sobre os métodos de produzir a compaixão. Quando virmos os vários estados de sofrimento, meditarmos sobre isto, e, ao mesmo tempo, recebermos o maior número de ensinamentos que pudermos por parte do amigo espiritual, aí, então, será fácil produzir o pensamento da compaixão. Se, antes disto, já produzimos o estado da compaixão em nossa mente, seja na vida anterior ou nesta existência, será, desta vez, bem fácil produzir em nossa mente um pensamento de compaixão.
O método para meditar sobre a compaixão é, antes de tudo, igualar todos os seres a alguém por quem você tenha um grande amor, seja sua própria mãe, seu próprio filho ou alguém muito próximo a você. Então, usando-os como objeto de sua meditação, você produz, com relação a eles, uma mente de compaixão. É necessário usar alguém por quem você tenha um grande sentimento porque quando você pensa em alguém que traz à sua mente sentimentos de felicidade, é mais fácil produzir um pensamento de compaixão por ele. Se você tentar meditar sobre seu inimigo, ou sobre alguém que esteja em um estado muito ruim, você pode sentir aversão ao vê-lo, porque você pode não gostar de sua aparência. Assim, para começar, você não conseguirá criar uma mente de compaixão.
Compaixão significa produzirmos um pensamento de que eles sejam livres de todo sofrimento e das causas do sofrimento. As causas do sofrimento significam a produção de imperfeições e também de não-virtudes. As imperfeições e as não-virtudes são produzidas pelo apego ao eu, visualizando o eu como sendo real. Então formulamos, neste ponto, o desejo de que “todos os seres sencientes sejam livres de sofrimento, e especialmente que sejam livres deste apego ao ego ou a um eu, que é a causa real de todos os demais sofrimentos.”
Com relação aos benefícios de se praticar a compaixão, o Bodhisattva Avalokiteshvara, em um dos sutras, perguntou ao Buda qual é a única prática do darma que pode ser igualada a todas as práticas juntas. O Buda respondeu que o único dharma que devemos praticar e que é, realmente, a combinação de todas as práticas do dharma postas em conjunto, é a prática da grande compaixão. Por meio desta única prática, todos os ensinamentos budistas são praticados juntamente. Como a compaixão é tão grande que foi até ensinada pelo próprio Buda, diz-se que sempre que praticarmos o dharma, esta prática deve ser, em todos os momentos, impregnada pela compaixão, em seu início, em seu meio e em seu fim. A compaixão é a fonte, a essência real de todo o caminho.

MEDITAÇÃO SOBRE O PENSAMENTO DA ILUMINAÇÃO – A seguir, meditamos sobre o pensamento da iluminação. O pensamento da iluminação é meditado de duas maneiras:

A NATUREZA IDÊNTICA DE SI-PRÓPRIO E DOS OUTROS - Com relação à meditação sobre a natureza idêntica de si-próprio e dos demais, você deve pensar que “eu mesmo trarei felicidade a todos os seres vivos neste mundo”, e também “eu mesmo libertarei todos os seres sencientes de todo o sofrimento neste mundo.” E quando qualquer felicidade chegar a você, você deve pensar, “que todos os seres sencientes obtenham o mesmo tipo de felicidade que agora obtive.” Sempre que tivermos qualquer tipo de sofrimento, pensamos, naquele momento: “que todos os seres sencientes sejam livres deste tipo de sofrimento pelo qual estou passando agora.” Desta forma, então, igualamo-nos a todos os seres sencientes, para levar-lhes felicidade e para libertá-los do sofrimento. Esta idéia da natureza idêntica de si-próprio e dos outros deve ser objeto de meditação repetida, até tornar-se um pensamento muito forte. No momento em que estivermos muito acostumados com a idéia de igualarmo-nos ao outros, aí, então, podemos começar a meditar sobre trocarmo-nos com os outros.

TROCANDO-SE COM OS OUTROS – Podemos meditar sobre a troca de nossa própria felicidade pelo sofrimento dos outros de duas maneiras, através de um método extensivo e através de um método curto.
O MÉTODO EXTENSIVO – Geralmente, quando vemos pessoas que são superiores a nós, ficamos com inveja delas. Pensamos que elas nos tratam mal, que elas não têm compaixão por nós, que elas nos olham com desprezo. Pensamos que elas nos criticam e nos apontam muitas falhas. Pensamos que a única razão pela qual elas fazem isto é porque pensam que são maiores do que nós. Desta maneira, então, criamos inveja daqueles que estão acima de nós. Com relação àqueles que estão ao nosso mesmo nível, temos um grande sentimento de competição. Pensamos que, pelo fato de estarem estas pessoas no mesmo nível que nós, precisamos competir com elas de todas as maneiras possíveis, de modo que elas nunca possam se tornar maiores do que nós. Com relação àqueles que estão em nível inferior a nós, criamos um grande sentimento de orgulho pelo fato de eles serem inferiores e não deverem ser objeto de nosso trato igualitário. Nós os desprezamos de muitas e diversas formas. Desta maneira, com relação àqueles que estão acima de nós, no mesmo nível que nós, ou abaixo de nós, criamos o pensamento da inveja, da competição e do orgulho, respectivamente.
Para praticarmos a meditação da troca, de trocarmos a nós mesmos pelos outros, temos que inverter ou que abandonar este tipo de pensamento para com estas três categorias de pessoas. Com relação àqueles de quem temos inveja, o método é trocarmos nossa posição com a da outra pessoa, de modo a nos colocarmos na posição superior e colocar a outra pessoa, que estava acima de nós, na posição mais baixa. Feito isto, você cria, então, inveja para com esta outra pessoa que é, na verdade, nós mesmos. Quando virmos as más conseqüências que isto cria, teremos vontade de desistir da idéia e de trocá-la, no sentido de que, em vez de termos inveja, desejaríamos afastar a inveja para longe daquela pessoa.
Com relação àqueles a quem sempre dirigimos nosso orgulho, trocamos de posição com a pessoa em nível inferior. Tornamo-nos, nós mesmos, a pessoa que está abaixo, e colocamos acima de nós a pessoa que estava abaixo, e que irá desprezar-nos com orgulho. Da mesma forma que teríamos orgulho ao olharmos com desprezo para esta outra pessoa, é ela, agora, quem nos está olhando com desprezo.
Com relação àqueles que estão em nosso mesmo nível, aqueles com quem estamos sempre competindo, trocamos de posição com eles. Começamos, então, a competir conosco. Desta maneira, você irá tentar beneficiar a outra pessoa, porque você estará pensando nos benefícios à outra pessoa como sendo seus próprios. Todo este método de se trocar com os outros em relação aos três tipos de pessoas – as superiores, inferiores e aquelas ao mesmo nível que nós – está explicado em detalhe no oitavo capítulo do Bodhicaryavatara.

O MÉTODO CURTO – O método de trocar-se com os outros em uma forma abreviada é pensar que toda a felicidade e a virtude que você tem é dada a todos os seres vivos neste mundo, e que todo o sofrimento, a não-virtude e a infelicidade que todos os demais têm neste mundo você toma para si. Você formula o desejo de “que toda a minha felicidade e virtude frutifiquem sobre os outros” e “que todo o sofrimento, infelicidade e não-virtude dos outros frutifiquem sobre mim.” Se você assim fizer, isto realmente cria uma grande meditação de troca de si com os outros. Diz-se que o mérito que surge disto é incrivelmente vasto. Nagarjuna disse que se nós pudermos dar uma forma, ou um formato, ao mérito que surge quando se pensa nesta troca de si com os outros ainda que por um só momento, diz-se que que seria ainda maior do que o céu dos três reinos de existência.
O método para realizar esta meditação sobre o pensamento da iluminação significa que continuamos a meditar repetidamente sobre este pensamento de sempre dar nossa felicidade e nossos benefícios aos outros de modo a que possamos dar-lhes um estado de total e perfeita iluminação. E, enquanto isto, nós também lhes conferimos todas as formas de felicidade em seu caminho para a iluminação, e desejamos que todo o sofrimento dos outros sempre frutifique sobre nós.
Quando meditarmos repetidamente sobre este pensamento de trocar-nos com os outros, seremos capazes de realizar a verdadeira meditação do pensamento da iluminação. Para realizar isto, é sempre necessário ver as falhas de se trabalhar apenas em seu próprio benefício, e compreender o grande benefício de trabalhar pelo bem dos outros. Quando compreendermos as falhas que emanam do fato de se buscar apenas beneficiar a nós mesmos e os benefícios que emanam do fato de se trabalhar pelos outros, isto irá nos ajudar a criar o pensamento da iluminação e também nos permitirá que realizemos esta meditação.
Para assegurar que o pensamento da iluminação não se altere, devemos examinar com muito cuidado o verdadeiro propósito e o benefício em que ele se baseia. Veremos que, por muitas e muitas vidas, estivemos trabalhando apenas em nosso próprio benefício, sem nunca pensar em beneficiar quaisquer outros seres viventes, e durante esta vida, a única coisa que ganhamos são os vários e diversos tipos de sofrimento. Toda a felicidade que estivemos sempre a buscar, nunca a conseguimos obter. Enquanto continuarmos a trabalhar somente pelo nosso próprio bem, buscando a nossa própria felicidade, jamais conseguiremos ganhar aquela felicidade que pensamos que poderíamos obter. Em vez disto, ganhamos apenas mais e mais sofrimento. Quando compreendermos que é apenas através do trabalho pelo benefício dos outros que podemos obter qualquer estado verdadeiro de felicidade, iremos compreender o propósito do pensamento da iluminação.
O que devemos fazer para estabilizar o pensamento da iluminação é sempre examinar o estado de nossa mente. Em outras palavras, devemos criar um espião dentro de nós mesmos para ver o que estamos fazendo. Assim, quando nos examinarmos com toda atenção e descobrirmos que temos algo que possa beneficiar os outros, devemos abrir mão disto e dá-lo a eles. Caso se crie a avareza, em que pensamos que o queremos para nosso próprio bem, devemos arrancar nossa avareza, porque sabemos que, assim fazendo, podemos beneficiar os outros.
Também quando estamos com inveja, devemos superar este pensamento de inveja para com os outros. Por exemplo, quando pensamos que alguém tem muito mais felicidade do que nós, o que devemos, então, fazer para superar isto é voltar esta inveja contra nós mesmos, em vez de dirigi-la à outra pessoa. Devemos pensar: “estou feliz demais, tenho felicidade demais em comparação com os outros, sou superior aos outros.” O que fazemos então é criar um pensamento de inveja para com a nossa própria superioridade e nossa própria felicidade em vez de dirigi-la aos outros.
Devemos, também, examinar e questionar a nós mesmos para ver o que estamos fazendo. Por exemplo, devemos perguntar-nos se o que estamos fazendo através de nosso corpo, nossa voz e nossa mente está-nos enviando para baixo, para o reino inferior, ou se estamos indo no caminho errado. Assim, você se questiona para ver como você está atuando neste mundo.
Você deve, também, perguntar-se para ver se está ou não praticando de modo adequado. Se alguém lhe faz um mal, você não deve pensar que este mal é causado por uma outra pessoa. Em vez disto, você deve pensar que o sofrimento que você está experimentando se deve a seu próprio carma e não ao mal que foi feito por uma outra pessoa. Quando você está fazendo alguma coisa contra os outros, naquele momento você deve pensar: “estou fazendo uma coisa que não é certa.” Examine-a com muito cuidado, e declare em voz alta para si mesmo ou para os outros que você cometeu um erro, de maneira a que você possa se deter.
Da mesma forma, então, se alguém o elogiar, e mesmo que o elogio seja verdadeiro, o que você deve fazer é trocar suas próprias qualidades com aquelas dos outros. Assim, em vez de produzir um pensamento de orgulho pelas qualidades que você tem, você deve pensar em dar suas qualidades aos outros e tomar para você as qualidades dos outros, embora sejam inferiores às suas. Você deve pensar que suas próprias qualidades pertencem, na verdade, às outras pessoas, e suas qualidades menores pertencem a você.
Mesmo que você tenha certas qualidades que sejam especiais, você deve pensar que as qualidades não são permanentes. Este é um método para destruir qualquer orgulho que possa surgir pelo fato de se ter alguma qualidade. Acima de tudo, você não deve exibir suas qualidades como uma exposição, mas em vez disto você deve esconder suas próprias qualidades. Você não deve se tornar orgulhoso das qualidades que você tem.
Em suma, vemos que todo o sofrimento que temos neste mundo se deve ao fato de tentar obter felicidade e benefícios somente para nós mesmos, e que nós sempre fizemos isto através do amor-a-si-próprio. O único benefício que já obtivemos através deste grande esforço foi sempre o nascimento dentro destes seis reinos de existência. Agora, então, se nós realmente desejamos obter o estado de Buda, o único método para fazê-lo é trabalhar pelo bem dos outros. Assim, deixando de lado todo o nosso amor-a-si-próprio e começando, em vez disto, a ter amor pelos outros como a nossa própria pessoa, seremos capazes de realizar este caminho e seremos realmente capazes de ganhar benefícios não apenas para nós mesmos, mas também para os outros.
Segundo os tibetanos, a palavra “meditação” significa habituar-se. Significa tomar alguma coisa e torná-la um hábito, habituar ou acostumar nossa mente a um certo modo de pensar. Por exemplo, se nós nos habituarmos com a idéia do pensamento da iluminação, ele se torna, então, uma realidade em nossa mente. Ele se torna uma tendência habitual. Disse, também, o Buda que ainda que tomássemos apenas um verso de seus ensinamentos, e nos aplicássemos de forma total a estudá-lo, contemplá-lo e meditar sobre ele, ele iria tornar-se uma tendência habitual e nós conseguiríamos realizar seus ensinamentos, mesmo por meio de um só verso.
Para realizar a verdadeira meditação da concentração, para que ela se torne uma perfeição verdadeira em nossa mente, temos que realizar as quatro qualidades daquela prática assim como abandonar os sete apegos, que criam obstáculos a ela.
Quando examinamos os benefícios da meditação, vemos que há benefícios nesta vida assim como nas vidas futuras. Nesta vida, através da realização da meditação:
Seremos capazes de colocar a mente em um estado unipolarizado de concentração.
Seremos capazes de superar as imperfeições mais grosseiras do desejo, do ódio e da ignorância, o que é como separar, com um corte, a cabeça do corpo, embora não sejamos capazes de destruir a raiz das imperfeições.
Seremos capazes de estabilizar nossa mente, diminuir a agitação de nossa mente.
Seremos capazes de igualar todos os oitos dharmas mundanos, como os pensamentos de felicidade ou tristeza, ganho ou perda, etc. Nunca teremos qualquer pensamento de querer algo às custas dos outros. Em vez disto, veremos tudo dentro de um estado de equanimidade. Por exemplo, a maioria de nós geralmente tem esperanças de ganhar alguma coisa, ou medo de perder algo. Através da realização da meditação, todas estas esperanças e medos são igualados, e nós não somos levados a diferentes extremos. Em vez disto, a mente é posta no estado de equanimidade.
Podemos levar felicidade ao nosso corpo e alegria a nossa mente.
Podemos obter vários estados de poder mágico como voar no céu, conhecimentos sobrenaturais como ler a mente dos outros, e diferentes estados de consciência sobrenatural, ou consciência superior.
As pessoas irão gostar muito de nós.
Para a vida futura, devido à realização da meditação nesta vida, teremos poderes miraculosos ou consciência sobrenatural. Será mais fácil atingir os diferentes estados de meditação ou samadhi.
No momento da realização do estado de Buda, as quatro purezas, que são algumas das qualidades do estado de Buda, irão surgir.
A pureza do corpo significa que o Buda totalmente iluminado pode, como e quando o desejar, assumir o nascimento neste mundo, ficar neste mundo e partir deste mundo.
A pureza do objeto significa que o Buda pode realizar diferentes poderes miraculosos ou feitos, para beneficiar os outros, como a capacidade de manifestar coisas que não existem e fazer com que desapareçam as que estão em existência. Ele pode, deste modo, realizar vários feitos para ajudar os outros.
A pureza da mente significa que o Buda é capaz de realizar todos os diferentes estados de samadhi que desejar.
A pureza da sabedoria significa que o Buda sabe completamente tudo que é conhecido neste mundo.

O VENERÁVEL KHENPO APPEY RINPOCHE recebeu seus primeiros treinamentos e educação monástica na província de Kham no Tibet Oriental, onde nasceu. Mais tarde mudou-se para o Mosteiro de Ngor no Tibet Central, onde continuou seus estudos. Foi o abade da Universidade de Dzongsar no Tibet Oriental antes de fugir para a Índia. Realizou vários retiros e deu muitos ensinamentos e iniciações. Fugiu do Tibet durante a invasão comunista e reside, desde então, na Índia, onde, até 1967, foi tutor de Sua Santidade Sakya Trizin. Ele e Sua Santidade Sakya Trizin foram as principais forças motivadoras para a fundação do Sakya College of Buddhist Philosophy em 1972 em Mossoorie, na Índia. Serviu como diretor e ensinou por muitos anos no Sakya College em Mussoorie, até mudar-se para o Nepal para dar início a um outro Sakya College em Boudhanath, no Nepal. É, hoje, o mais erudito Khenpo (Abade) vivo, e domina tanto o Sutra quanto o Tantra.

domingo, 24 de agosto de 2008

HISTOIRE SAKYA

HISTOIRE SAKYA


LA VENUE DU GRAND SAKYAPA, MAITRE DE LA DOCTRINE ET ISSU DE LA LIGNEE AUX 3 EXCELLENTS NOMS

Faire l'éloge de la lignée royale des rois "élus de tous" ainsi que de la divine famille des Khon Sakyapa apporte un mérite illimité, comme l'ont dit les sages.

Un jour, dans la région de Ngarité, terre élevée et pure, ou bien près du roi de Shétsha du Nord, trois frères dieux lumineux descendirent pour attirer du mérite aux êtres. Les cinq descen¬dants de la lignée de Yuring le deuxième frère, jusqu'à Yapongtchié sont appelés "la lignée divine de claire lumière". Yapongtchié ayant vaincu le démon Tchiareng sans verser son sang, épousa la femme de ce démon nommée Yandrou Silima, et un fils leur naquit, nommé Khonbartchié (celui qui est né au milieu de la bataille entre dieux et démons). Le fils de ce dernier, Khon Palpotché, devint le ministre du roi Thrisong.

C'est à cette époque que les sept premiers moines tibétains furent ordonnés. L'un d'eux était le disci-ple de Pémakara (Guru Rinpoché), c'était le fils de Khon Palpotché, appelé Khon Luong Soung. A partir du frère de ce dernier jusqu'à Shérap Tsulthrim et Khon Kentcho djialpo (frères), il y eut une lignée de dix membres de cette famille.

Tous les prédécesseurs de Khon Ro Shérap Tsulthrim étaient adeptes des anciens Tantras et obtin¬rent la réalisation par la pratique du Yidam Yang Phur. Khon Kentcho Djialpo étudia la nouvelle diffusion des Tantras et fonda le monastère de Sakya. Selon une prophétie du Bouddha, dans le Tantra de Djampéyang, il était dit qu'un monastère ''Sakya" dont les deux premiè¬res lettres étaient citées, embellirait la doctrine au Tibet. Une autre prophétie de Guru Rinpoché concernait l'endroit où serait construit ce monastère et les dis¬ciples qui y viendraient. Aux quatre directions, avant de construire le monastère, on bâtit quatre Stoupas en vue de purifier l'endroit et de le rendre propice. On dit aussi que, lorsque le maître Atisha se rendant de l'Inde au Tibet passa par ce lieu (encore désert), il se prosterna de nombreuses fois et fit des offrandes. C'est alors qu'il vit, sur le flanc de la montagne, un HRI, sept DHI et un HUNG. Il déclara que cet endroit verrait venir une incarnation de Tchenrézi, sept de Djampéyang et une de Tchanadorjé. Atisha, poursui¬vant ses prosternations et offrandes, prédit que le lieu serait source de bonheur pour tous.

C'est donc là que Kentcho Djialpo, en 1073, à l'âge de 40 ans, l'année du Boeuf d'Eau du premier cycle, fonda le monastère de Sakya. C'est à partir de ce moment que l'on parle des Sakyapas.

C'est ainsi que la pure renommée de cette lignée aux trois excellents noms (lignée divine, famille des Khon et Sakyapa) se répandit partout.

Son fils, Satchen Kunga Nyingpo se révéla être une incarnation de Tchenrézi, comme l'avait vu Nam Khaoupa et d'autres. Il naquit de cette lignée excel¬lente, l'année du Singe d'Eau mâle du deuxième cycle.

Dès sa naissance, il montra un grand amour pour tous les êtres. Encore jeune, il apparut à un disciple Khampa sous sa forme à mille bras et mille yeux, avec toutes les marques de Tchenrézi, et sa réputation d'être aussi l'incarnation de Birwapa se répandit par¬tout.1

Il possédait les dix forces et pouvait porter la responsabilité de la doctrine, il était le Bodhisattva suprême, maître des trois sphères, le guide de ceux qui aspirent à la libération, le maître de ceux qui sont entrés sur la voie, possédant la résolution ferme de la libération des êtres, capable de trancher tous les doutes, possédant la connaissance de tous les objets de savoir sans exception.

Il reçut l'immense océan de tous les enseignements de sa propre école et des autres. Grâce à sa pratique et à ses réponses, il éclaircissait toutes les incertitudes; habile à différencier le Dharma de ce qui ne l'était pas, il devint excellent à conduire les disciples sur la voie pure.

REVELATION DES INNOMBRABLES ENSEIGNEMENTS DES SUTRAS ET TANTRAS À SATCHEN KUNGA NYINGPO ET SA DESCENDANCE

La clé du bonheur et du malheur, dans cette vie et toutes les vies dans les différents mondes dépend de la présence ou non du noble Dharma. Le Dharma pur est celui qui est en accord avec les enseignements du Bouddha.

Sakyapandita a dit : "Dans les trois univers, nul n'est plus savant que le Bouddha Parfaitement Accompli. C'est ainsi qu'il faut s'en tenir fidèlement aux Sutras et Tantras, qui sont les paroles du Bouddha. Si l'on
ajoute faussement quelque chose aux Sutras et Tantras, on devient l'objet de la critique des êtres suprêmes.
Ainsi parle le maître Tchampa (Maitreya) dans le rGyud lama".

Le maître Bouddha Parfaitement Accompli, a enseigné à Varanasi, au Pic des Vautours, à Nyenyé et en d'autres endroits 84000 enseignements, remèdes à 84000 sortes de mauvaises dispositions en accord avec les tempéraments et inclinations particulières des disciples ordina¬ires. Du mdzod : "En antidote aux mauvaises dispositions, le Bouddha a énoncé les divers enseignements."

Le Bouddha enseigna :
- 21 000 enseignements de la Corbeille de la Discipline énonçant principalement l'entraînement dans la disci¬pline éthique en remède aux dispositions d'avidité chez les êtres.

- 21 000 enseignements de la Corbeille des Sutras énon¬çant principalement l'entraînement dans le Samadhi en remède aux dispositions de haine-agressivité chez les êtres.

- 21 000 enseignements de la Corbeille de l'Abidharma énonçant principalement l'entraînement dans la sagesse en remède aux dispositions d'ignorance chez les êtres.

- 21 000 enseignements de la Corbeille Profonde en remède à l'ensemble de ces trois poisons.

Tous ces enseignements peuvent se résumer dans le Petit Véhicule pour ceux qui aspirent à une voie étroite, et dans le Grand Véhicule pour ceux qui as¬pirent à une voie large. Quelles sont les caractéristiques respectives de ces deux Véhicules ?
Dans le Petit Véhicule, l'esprit aspire à la paix et au bonheur personnel, et, s'appuyant sur la voie des trois entraînements réalise l'éveil.
Dans le Grand Véhicule, l'esprit aspire à l'état de Bouddha pour le bien de tous les êtres et, s'appu-yant sur la voie des six Paramitas, réalise l'éveil parfait.

Le Grand Véhicule est éminemment supérieur au Petit Véhicule pour cinq raisons qui sont : la pra-tique, l'action en accord avec l'intention, la sagesse transcendantale, l'effort, l'habileté dans la méthode et par les deux fruits qui sont ceux de la réalisation par¬faite et de la grande action divine. Dans le Grand Véhicule lui même, il y a pour ceux qui aspirent à la cause le Véhicule des Paramitas qui prend la cause pour voie, et pour les disciples supérieurs qui aspirent à la fois à la cause et au fruit, le Véhicule des Mantras qui prend le fruit pour voie.

Ce profond et secret Véhicule du Dorjé, comme il est dit dans le 'Jam dpal sGyu 'phru1 dra ba est énoncé par la pensée commune de tous les Bouddhas des trois temps en vue des disciples non ordinaires. C'est ainsi que les grands Tantras enseignés avec les cinq certitudes, dans cette époque de querelles, le furent par notre maître à tous, dans l'apparence Hérouka du Corps de Félicité en harmonie avec la forme des disciples, bien qu'il demeurât cependant immuablement dans le Corps du Dharma. Il enseigna ces Tantras à Oudjien dharma Kendza, Shri dhanakata, au sommet du Mont Mérou et dans bien d'autres lieux, au milieu d'une assemblée de praticiens tantriques supérieurs qui répétaient après le Bouddha.

C'est ainsi que la différence entre les Sutras et les Tantras tient à l'absence ou à la présence de la visualisation de divinités pour notre propre bien et à l'accomplissement des rituels d'initiation et de consécration et autres pour le bien d'autrui. De façon générale, bien que dans les Sutras et Tantras, la vision à réaliser, le fruit à obtenir et l'intention qui est l'esprit d'éveil soient semblables, le véhicule des Tantras se distingue par : son habileté à réaliser la vision profonde, l'abondance des moyens pour la réaliser, la facilité de la réalisation de l'éveil et sa destination qui est les disciples à l'intelligence aiguisée.

Il y a de nombreuses diffusions différentes des Tantras en fonction des différents Panditas et sages; quant à la lignée des Sakyapas, elle suit la tradition du Tantra Explication de Kyé Dorjé ''rDo rJe Gur" qui divise les Tantras en quatre groupes : Les Tcha djiu (bya rGyud), tché djiu (spyod rgyud) nal djor djiu (rNal 'byor rGyud) et nal djor lanamépé djiu (rNal'byor bla na med pa'i rGyud)

En résumé, tous les enseignements des petit et grand véhicules des Arahats, de Tchampa, Djampéyang, Tchanadorjé et des autres furent consignés par les écrivains, enseignés par les Panditas, pratiqués et réalisés par les grands sages. Le grand Sakyapa (Satchen Kunga Nyingpo) devint le maître de toutes les doctrines des Sutras et Tantras, répandues au Tibet, et précédemment diffusées par de nombreux Panditas et sages authentiques de l'Inde. Il eut particulièrement la révélation de tous les enseignements du Suprême Nagarjuna et du Puissant Birwapa. A l'âge de 12 ans, il suivait l'enseigne¬ment de Bari Lotsawa, son Lama, et, au bout de six mois de pratique assidue et concentrée, le jeune élève rencontra Djampéyang et obtint ses prophéties. En vision, il obtint l'enseignement de la libération des quatre désirs, concentré dans un Shloka transmis par Djampéyang :

"Si vous aspirez à cette vie ardemment, vous n'êtes pas une personne religieuse ; si vous aspirez ardemment à la roue de l'existence, vous n'avez pas le dégoût qui mène à sa sortie, si vous aspirez ardemment à votre seul intérêt, vous n'avez pas l'esprit d'éveil. Si l'attachement à l'égo s'ensuit, vous n'avez pas la vision profonde."

Satchen Kunga Nyingpo comprit alors en un instant tous les enseignements de la voie des Paramitas.

Ses principaux maîtres furent:
Trongti Tarma Nyinpo
Tchong Rinchentra
Mé Lhangtsor
Bari Lotsawa Rinchentra et le Lama Nam Khaoupa disciple de Nyén Lotsawa
Mal Lotsawa Lodreu tra
Pouhring Lotchong
Dodjé Denpa
deux Panditas du Népal, Khon Djitchowa et son propre père, Kentcho Djialpo.

Les enseignements qu'il reçut de ces Lamas concernaient :
la métaphysique
- la science des caractéristiques ou logique
- Ouma ou philosophie profonde (Madhyamika)
- Les 5 enseignements de Maitreya
- les 3 enseignements de Sèmdrel (la nature de l'esprit)
- la médecine
- le Kandjiur
- le Tendjiur
- les initiations des 4 groupes de Tantras
- les enseignements sur leurs commentaires
- les enseignements profonds concernant la réalisation des pouvoirs inférieurs (liés au Samsara) et supérieurs (Bouddhéité).

Il étudia aussi ce qui concernait les Protecteurs du Dharma Ngenpo Kur et Ngenpo Tramzé, à la façon d'un "vase qui n'est pas percé" (caractéristique imagée du bon disciple qui retient l'ensei¬gnement). Grâce au pouvoir de Djampéyang en lui, il lui suffisait d'entendre une ou deux fois un enseignement pour en réaliser le sens profond sans erreur. Il reçut également Sangwa ndupa et Khorlo Dentcho dont la lignée initiatique remontait à Nagarjuna.

De quelle façon eut il la révélation des enseigne¬ments du puissant yogui Birwapa ?

Ce grand Lama, de même que l'immense océan n'a jamais trop d'eau, sans se contenter des seuls enseignements essentiels du sens des Sutras et des Tantras, reçut de son père et de Khon Djitchowa les enseignements profonds de Ndromi Lotsawa Shakya Yéché, enseignements essentiels. Avec confiance et beaucoup de foi, il reçut aussi les enseignements qui suffisent à mener les êtres à l'état de Bouddha, le Lamdré ou "voie incluant son fruit''.

Notre maître à tous avait de nouveau enseigné le sens résumé du Tantra fondamental de Kyé Dorjé 'Bumpa dans le brtag pa gnyis pa, ''les deux examens'' où il est dit qu'il faut :

pratiquer l'accumulation des vertus avec le rejet des erreurs, ainsi que le don tout d'abord

- puis, la philosophie du milieu (Ouma)

puis, tous les degrés des mantras

et enfin, Kyé Dorjé.

C'est ainsi que celui, qui, de sa propre force a diffusé la tradition de ces Tantras racines et explicatifs qui sont les sommets de tous les Tantras et Sutras, est le puissant yogui Birwapa, Siddha demeurant dans la sixième terre et protégé par Dorjé Daméma.

Il est dit dans la louange aux quatre-vingt quatre Siddhas : ''Prosternation devant le Lama Birwapa qui a divisé les eaux du grand fleuve et qui, pour prix de la bière, a arrêté la course du soleil".

Birwapa naquit 1020 ans après le Nirvana du Bouddha, dans une caste royale. Il rejeta avec mépris comme on rejette des ordures, la perspective de gouverner le royaume. Il obtint les vœux de novice de l'abbé Teulwé Lha et du maître Djialwa Trapa dans le temple de Somapuri à l'est de l'Inde. Il fit ériger de nombreux supports de foi dans les monastères et obtint les vœux de moine de l'abbé du monastère de Nalanda, Dharmamitra.

Sous sa direction, il paracheva les activités de l'étude et de la réflexion; instruit dans l'immense océan de toutes les doctrines, il devint vite l'ornement de Nalanda et grand abbé de ce monastère. Le jour, il accomplissait la triple activité monastique de l'argumentation, l'enseignement, et la composition; la nuit il pratiquait la méditation des Yidams (Khorlo Dentcho par exemple).

Mais, au bout de soixante-dix ans de pratique assidue, comme il ne voyait aucun résultat mais, qu'au contraire, des événements désagréables s'étaient produits, il se dit qu'il n'avait aucune relation karmique avec le bouddhisme tantrique et ses Yidams. Dans cet état d'esprit, le vingt-deuxième jour du dernier mois Saga du printemps, il jeta son chapelet dans une fosse d'aisance et demeura l'esprit en paix. Le soir de ce même jour, il eut l'apparition de Dorjé Daméma en rêve. Elle lui parla ainsi :

"Noble fils, n'agis pas ainsi, reprends ton chapelet, nettoie le, remets toi à la pratique; je suis la divinité avec laquelle tu as une relation karmique, je t'accorderai mes vagues de dons."

Le soir suivant, Dorjé Daméma lui apparut encore, dans son propre mandala, avec quatorze déesses autour d'elle et il obtint alors réellement les consécrations et aussitôt la première terre avec la naissance de la connaissance transcendante.

C'est ainsi qu'ayant reçu les 4 consécrations, le fleuve de l'initiation ne fut pas interrompu.

Comme, lors de la consécration, il avait obte¬nu la connaissance transcendante, la lignée des vagues dons ne s'interrompit pas.

Grâce à l'enseignement de Dorjé Daméma, Birwapa comprit que ce qu'il avait pris pour de mauvais présages auparavant (vision de montagnes s'effondrant, etc.), ne se souvenant pas des ensei¬gnements de son Lama, étaient en réalité des signes de sa prochaine réalisation. Tous les obsta¬cles disparurent d'eux mêmes et en son esprit, naquit la compréhension juste des trois, canaux, souffles et esprit d'éveil.

Par cette compréhension, l'enseignement essentiel fut vérifié.

Comme une foi inébranlable envers Dorjé Daméma, aspect du corps de Dharma de connaissance transcendante des Bouddhas Parfaitement Accomplis, naquit en son esprit, il fut comblé de ferveur et respect et ainsi, il devint en possession des quatre lignées orales.
Dans cet état de vision intérieure, il progressa chaque jour d'une terre.

Le soir du vingt-neuf, il atteignit ainsi le degré d'un Bodhisattva de la sixième terre. Les moines qui l'observèrent eurent alors l'impression que des choses étranges se passaient. On le critiqua. Birwapa déclara lui même : "je suis mauvais" et, s'engageant dans l'action libérée des règles de conduite ordi-naire, il quitta le monastère de Nalanda en chantant: "Hélas, noble Sangha!"

Arrivé près du Gange, sur la route de Bénarès, il s'adressa au fleuve en lui commandant de se sépa¬rer en deux, puisqu'étant mauvais, il ne convenait pas qu'il le touchât; le fleuve obéit. Les moines qui le suivaient, ayant compris qu'il avait obtenu la réalisation, lui demandèrent son pardon. Il resta assez longtemps dans une forêt près de Bénarès, très détaché de tous soucis matériels (nourriture, vête-ments, etc.) dans le Samadhi.

Alors, le roi de Bénarès, Govinda Tsendra, de¬manda à ses sujets de prendre des renseignements sur ce yogui. Il ne put s'en faire une opinion, et, par prudence, ordonna de le jeter à l'eau, puis de le donner au bourreau et enfin de l'enterrer sous un monceau de ferrailles. Mais, avant même le retour des messagers auprès du roi, Birwapa était là, bien vivant. Alors, le roi et sa suite se rendirent à 'évidence et pleins de foi, lui demandèrent son pardon. Le roi avec ses sujets prit la voie du bouddhisme tantrique.

Birwapa, poursuivant sa route vers Bhimisara arriva au bord du Gange. Il y rencontra un passeur qui refusa de le faire traverser s'il n'était pas payé; Birwapa lui dit : ''je te donne ce fleuve en paiement", et, avec le signe de conjuration, il sépara pour la deuxième fois l'eau en deux parties; puis claquant des doigts, il lui fit reprendre son cours. Le passeur voulut devenir son disciple. On le connaîtra plus tard sous le nom de Drombi Héruka.

Birwapa et son disciple se rendirent à Dakinipata où il but beaucoup de bière dans une taverne dont la tenancière était Kamarupa Saddhida; Lorsqu'elle dema¬nda :
''Quand vas tu payer?", Birwapa fit un trait au sol entre l'ombre et la lumire, et dit :
''Quand la lumière aura dépassé ce trait, je paierai". On attendit; Birwapa avait bu toute la bière de la taverne, mais la lumière ne bougeait pas. Le soleil avait arrêté sa course. Les gens du pays s'affolèrent, titubant de sommeil. Tous comprirent que c'était une manifestation du pouvoir du puissant yogui, et le roi, payant le prix de la bière, pria Birwapa de bien vouloir relâcher la course du soleil. aussitôt, celui-ci se coucha.

C'est ainsi que sa réputation d'avoir par deux fois divisé le Gange en deux et arrêté la course du soleil se répandit dans toutes les directions.

Birwapa fendit un lingam de Shiva à Bhéméhasar au sud. Il accomplit de nombreuses actions merveil¬leuses grâce auxquelles il établit bien des êtres dans la voie. Parmi ses disciples, il y avait Napopa de l'est à la longue chevelure.


Birwapa, Drombi Héruka et Napopa, par leurs pouvoirs, accomplirent le bien des êtres. Birwapa donna à Drombi Héruka des vagues de dons qui l'éta¬blirent dans le même degré de compréhension que lui. Birwapa l'envoya à l'est, au pays de Rada auprès du roi Déha pour le convertir, et, avec Napopa, il se rendit à Diwikoti, près de la statue de Tchenrézi Khasapani qui lui parla ainsi :
"Noble être, tu as accompli largement le bien d'autrui par tes pouvoirs; tu dois aussi l'accomplir grâce à la compassion, car les êtres sont tous différents."

Aussi Birwapa fonda-t-il à Sowanathar au sud, temple et communauté de moines . Il protégea la vie de millions d'animaux en empêchant les sacrifices sanglants. Il transmit à Napopa l'essence du Lamdré (Dorjé Tshig¬kong) et celui ci obtint le même degré de compréhension que lui. Puis, des messagers vinrent l'inviter au pays d'Oudjien; là, il composa le grand traité de base "Treumé" sur la vision pro¬fonde. Ensuite, suivant les paroles de Tchenrézi, il s'absorba dans une statue de pierre à son image à Sowanathar, après avoir annoncé cet acte. La main droite de la statue faisait le Moudra de conjuration et cette main transformait le fer en or.

En résumé, personne comme lui n'a accompli le bien de la doctrine par ses pouvoirs miraculeux in-destructibles. Personne autant que le victorieux Tcheu Tra (Chos Grags) ne l'a tenu par son habileté dans l'ar¬gumentation. Personne autant que le roi du Dharma Nya ngen mé ne l'a tenu par sa puissance et sa réussite. Du 'Jam dpal rtsa rgyud :

''Par la lettre DHI, la venue d'êtres puissants... est prophétisée".

Bien que beaucoup comprennent cette prophétie comme l'annonce de la venue du glorieux Tcheu Tra, ceux qui suivent Ndromi Lotsawa disent qu'il s'agit du puissant yogui Birwapa.

Le disciple de Birwapa, Napopa de l'est, qui possédait l'enseignement du pouvoir d'émanation en des milliers de formes, a transmis ce pouvoir au yogui Damarupa du centre de l'Inde. Ce dernier eut le pouvoir d'apparaître dans tous les vingt-quatre pays et les trente-deux lieux au même moment en faisant résonner le Damaru.

Damarupa transmit son enseignement au roi de l'Inde centrale, Sengué Nampar Tsenpa qui obtint un rang élevé de compréhension. Comme on le voyait sou¬vent entouré d'enfants et que son comportement était souvent incompréhensible comme celui d'un enfant, on l'appelait Awadhuti.
Awadhuti a transmis son enseignement à Gayadhara d'une caste de scribes. Ce dernier obtint la liber-té parfaite sur la phase de création mentale. Il eut de nombreuses visions de corps d'émanation des divi¬nités et obtint le pouvoir de ''placer le Dorjé et la cloche dans le ciel'', ainsi. que celui de trans¬férer le principe de conscience d'un corps à un autre.

Gayadhara vint au Tibet à Mongkhar mugu chez Ndromi Shakya Yéshé. Depuis Birwapa jusqu'à Ndromi Shakya Yéshé, l'enseignement fut transmis avec les quatre lignées orales et avec le Lama prophétisant à quels disciples il faudrait le transmettre.

Ndromi Lotsawa Shakya Yéshé

A Trompadjiong, le roi tibétain Lhatsé Lhatsun envoya en Inde trois traducteurs jeunes, pleins de sagesse et de courage : Ndromi Lotsawa, Ling Lotsawa et Ta Lotsawa. Il leur fallait étudier la racine de la doctrine constituée par l'enseignement de la libération personnelle (Hinayana) ainsi que l'essence de la doctrine (les Paramitas) et le cœur de cette essence (le Véhicule tantrique).

Parmi ces traducteurs, Ndromi Lotsawa reçut les enseignements du Népalais Chiwazanpo ainsi que du grand Pandita Shintapa, gardien de la porte de l'est du collège de Nalanda (haut grade). Il étudia aussi auprès des autres Panditas de Nalanda, gardiens des cinq autres portes et il acquit la maîtrise sur tous les objets de savoir. A Diwikoti au sud, il obtint réellement l'enseignement de Tchenrézi Khasapani. Puis le grand sage Pawo Dorjé (lui même disciple du disciple de Drombi Héruka) lui donna les enseigne¬ments du Lamdré et l'explication de deux cent quaran¬te Tantras ainsi que les initiations, et explications libératrices. Il étudia ainsi pendant douze ans en tout en Inde et devint riche de tous les enseigne¬ments profonds et vastes.

Ndromi Lotsawa vint lui même, en accord avec la prophétie faite par le Siddha Awadhuti au seigneur
Gayadhara, enseigner le Lamdré complet pendant trois ans, au disciple choisi qui n'eut plus à se préoccuper de trouver ailleurs d'autres enseignements. Il fut un grand Pandita savant dans tous les objets de science. Il eut aussi comme disciples Ngeu Lotsawa et Marpa.

Grâce à ses vertus de possession. des enseigne¬ments et de réelle compréhension intérieure, il ob¬tint la maîtrise et la liberté sur le processus de visualisation, le pouvoir d'émanation, le pouvoir de s'asseoir dans le ciel dans la posture des jambes croisées et le pouvoir de transfert du corps à un autre. Par ces pouvoirs, bien qu'il pût obtenir le Mahamudra dans une seule vie, par la faute de certains de ses disci-ples, il n'obtint la réalisation du corps de connaissance transcendante que dans le Bardo.

Bien qu'il tienne l'enseignement essentiel en grande vénération (et donc hésitât à le donner), comme cependant son activité divine était très vaste, il eut d'innombrables disciples et ainsi, bien que dix huit traditions concernant le Lamdré aient surgi, son disciple principal est Sékhartchoungwa, qui le servit pendant dix-sept ans, lui faisant entièrement don de ses corps, parole, esprit, et qui reçut les enseignements à la manière d'un vase ''non percé''.

Comme les vagues de dons de Sékhartchoungwa étaient grandes ainsi que son enseignement profond, il eut deux cent disciples capables de "saisir le bout de la voie'', qui obtinrent la compréhension intérieu¬re. Dix sept disciples purent obtenir entièrement tous les commentaires des Tantras; parmi les huit qui reçurent les différentes versions plus ou moins ré¬sumées du Lamdré, Changten Tcheunbar, qui resta dix-huit ans à servir son Lama, paracheva les qualités de méditation, et de compréhension intérieure, bien qu'il ne le montrât jamais.

Après la disparition du Lama Sékhar, le grand Satchen Kunga Nyingpo, ayant entendu dire que Chang¬ten Tcheunbar en possédait tous les enseignements essentiels, pria ce dernier avec persévérance de les lui donner. Il reçut alors de lui, pendant quatre étés et quatre hivers, le Lamdré complet, puis, l'an¬née du Lièvre d'eau femelle, alors que Satchen avait trente deux ans, Changten Tcheunbar lui fit la recom¬mandation. suivante :

''Dans le véhicule tantrique, le plus important est la méditation. Je n'ai cependant pas médité aussi longtemps que cela, mais ce que je vais accomplir maintenant est pour te donner confiance."

Et il montra de nombreux miracles. Il lui dit ensuite:

''Si principalement tu pratiques, tu obtiendras la réalisation du Mahamudra dans ce corps. Si principalement tu enseignes, tu auras tel et tel disci¬ple. Mais pendant dix huit ans, ne divulgue pas même le nom de cet enseignement. Ensuite, quoique tu fasses, tu en seras le maître."

Plus tard, Satchen Kunga Nyingpo étudia chaque jour en entier le Dorjé Tshig Kong et le Lamdré complet à nouveau chaque mois. Pendant cette étude une maladie due à une mauvaise nourriture le reprit. Il en vint à oublier l'enseignement et comme ce pré¬cieux enseignement était transmis oralement seulement, il ne pouvait poser de questions à quiconque; pen¬sant que même en Inde cet enseignement serait diffi¬cile à trouver, il pria son Lama de façon concentrée. Ce dernier lui apparut. Il continua sa prière avec vigueur, et cette fois ce fut le puissant yogui Bir¬wapa, au corps marron foncé, resplendissant comme cent mille soleils, entouré de quatre disciples, qui lui appa¬rut de façon réelle et non comme en rêve ou présage, alors que Satchen avait quarante-sept ans, l'année du Tigre de terre mâle.

Et pendant un mois, Birwapa lui transmit les en¬seignements du Lamdré avec explications et les ensei-gnements de soixante-douze Tantras accompagnés des commentaires et initiations, ceci au moyen de six méthodes d'ensei¬gnements,, Il reçut ainsi les quatre enseignements profonds.

Après que les dix-huit ans ordonnés par son Lama furent écoulés, Satchen Kunga Nyingpo transmit cet enseignement aux disciples pourvus des qualités nécessaires et pour onze disciples détenteurs des explications des trai¬tés, il composa onze commentaires différents de Dorjé Tshig Kong.

Ses trois meilleurs disciples prophétisés se rendirent dans le paradis de Dorjé Naldjorma sans rejeter leur corps. Il eut aussi sept disciples parmi lesquels le principal est le vénéré Trapa Djialtsen, qui obtin-rent "la patience" sans devoir renaître.

Sept autres disciples obtinrent un degré de compréh¬ension intérieure très développé et d'innombrables autres disciples dont quatre connus pour leur érudition et leur sagesse, qui sont :
- Jenou Pal de Galo
- Balten de Nétsé
- Dorseng de Shen
- Kentcho Khar de Té.

Satchen Kunga Nyingpo, être de vertu incompa¬rable, était libre de la moindre souillure de rup¬ture des trois vœux qu'il possédait. Son esprit d'éveil était très épanoui; demeurant constamment dans le Samadhi des deux phases, il était au delà de la dualité, comblant ses Lamas par sa foi et sa pratique.

Comme il avait réalisé en lui tous les bons présages intérieurs, il rencontrait les Yidams et avait les dons de clairvoyance et beaucoup de pouvoirs. Par exemple, il pouvait paraître en plu¬sieurs endroits à la fois sous six formes différentes pour y enseigner le Dharma ou donner des consécrations, etc..

Il était sans différence avec les grands sages bouddhistes de l'Inde. Finalement, à 67 ans, l'année du Tigre de terre mâle, quatre corps de lui même partirent pour quatre paradis pour y accomplir le bien des êtres. Il est dit y demeurer encore.

Son fils (à la fois de chair et de religion) le grand Pandita savant dans les cinq domaines, Sonam Tsémo naquit l'année du Chien d'eau du deuxième cycle.

Sa naissance fut annoncée par des Dakkinis, écri¬vant son nom sur la porte du temple de Boddhgaya:
"Ko-uo Shambhi, Pandita Déwamati", comme celle d'un grand Pandita. En Inde, on le tint pour l'incarna¬tion de Mithoupdawa.

Il obtint de Satchen Kunga Nyingpo, toutes les initiations, explications et enseignements essentiels.

Pendant onze ans, il étudia à Songpunéoutho, auprès du Lama Tchapatcheuseng, l'enseignement des Paramitas, du Madhyamika), de la logique, de la discipline et l'enseignement de l'Abhidharma.

A l'âge de 18 ans, sa réputation de savant s'éte¬ndait au delà du Gange. Il accomplissait la triple activité de l'enseignement, de l'argumentation et de la composition pour le bien de la doctrine.

S'il avait un doute, il recevait directement une réponse de Tchenrézi et des autres divinités qu'il questionnait et il pouvait en un éclair se rendre dans les paradis de Oudiyana, Potala, etc..

Il obtint les plus grandes vertus, comme l'obte¬ntion de la deuxième terre...

Finalement, à 41 ans, l'année du Tigre d'eau mâle alors qu'il donnait un enseignement à quatre-vingt de ses dis¬ciples avancés, une odeur agréable et des sons de cymba¬le emplirent l'air et son corps se transforma en arc en ciel et disparut dans une grande lumière.

Son frère cadet, Trapa Djialtsen, naquit l'année du Lièvre de feu du troisième cycle.

Il eut un grand nombre de maîtres parmi lesquels principalement : Satchen Kunga Nyingpo et Sonam Tsémo.

Constamment accompagné des vagues de dons de Djampéyang, il se révéla plein de science et possédant une vue profonde et étendue dans les enseignements des trois Corbeilles et de tous les Tantras. Son rang fut élevé comme érudit, saint et sage accompli.

Capable d'éclaircir aussitôt tout doute quant au sens profond, il était établi en méditation jour et nuit. Il avait tous les signes de réalisation ex¬térieurs, intérieurs et secrets.

Alors qu'un savant astrologue, Khatché Pentchen, annonçait une éclipse du soleil, Trapa Djialtsen fit savoir qu'il allait empêcher cette éclipse.
Pour ce faire, il arrêta le passage de l'énergie dans les deux canaux Roma et Tchiongma et fit passer les deux circuits rouge et blanc dans le canal médian. Par cette pratique yoguique, il empêcha l'éclipse.

L'astrologue s'écria que c'était une bien grande fatigue simplement pour le faire passer pour un men-teur. Il vint lui rendre visite. A sa venue, Trapa Djialtsen se leva en un éclair et plaça son Dorjé et sa cloche dans le ciel. En voyant ces signes qui dépassaient l'entendement, l'astrologue Khatché Pandita Shakya Shri nomma Trapa Djialtsen : ''Maha Bedzadhara'' (grand maître tantrique), demanda son enseignement et acquit la certitude qu'il était l'ornement unique de tous les ''détenteurs du Dorjé".
A l'âge de 56 ans, alors qu'il se trouvait dans le monastère de Niémo tsangkha, il eut la visite réelle de Satchen Kunga Nyingpo qui éclaircit pour lui le sens du Lamdré. Alors qu'il avait le pouvoir de se rendre dans différents paradis, sans s'intéresser aux différences de supériorité et d'infériorité entre les lieux et pays, il refusa plusieurs fois les invitations de nombreuses Dakkinis (à y rester); pendant longtemps il prodigua les vagues de dons de sa présence et eut huit disciples dont le nom se ter¬minait par Trapa, trois disciples grands traducteurs, quatre excellents disciples ayant l'enseignement du Gur ainsi que d'innombrables autres dont Mon Betza Radja.

Il énonça la prophétie que, lorsqu'il se serait incarné en tant que souverain Chakravartin dans une région de l'univers nommée "couleur de l'or" (Serndotchen),il réaliserait la plupart des terres et des voies et qu'il lui faudrait encore trois incarnations pour devenir Bouddha Parfaitement Accompli.

Le neveu de Trapa Djialtsen, fils de Khen Paltchen Uépo, fut le grand Sakya Pandita, émanation de Djampé¬yang. Comme le Bouddha avant de s'incarner, il fit cinq choix et entra dans la matrice sous la forme d'un roi des Nagas, à la tête ornée de précieux bijoux et sa mère connut un Samadhi inconnu auparavant.

Lors de sa naissance, une grande lumière emplit le ciel et il se mit à parler en sanskrit. En tant que signe visible de sa précédente accumulation incomparable du mérite, son corps était orné de toutes les marques physiques des Bouddhas, telles que la proéminence crânienne et le che¬veu blanc comme la conque, enroulé au centre du front, qui rendaient la vue de son corps une vue dont on ne se rassasiait jamais.

Il naquit l'année du Tigre d'eau mâle, du troisième cy¬cle. Pendant vingt-cinq naissances humaines successives en tant que Pandita, il avait été constamment accompagné par Djampéyang. En vérité absolue, il avait été prophétisé par Dolma à l'astrologue Khatché Pentchen qu'il était l'incarnation de Djampéyang. De même, le savant Tsongnapa et Chadjé bidzi reconnurent par de très nombreux signes qu'il était réellement cette incarnation. En vérité relative, pour guider les êtres, il écoutait les ensei¬gnements. Mais, quel qu'il soit, le sens de tous les objets de savoir était compris de son esprit une ou deux fois après en avoir pris connaissance, et il en acquit la certitude intérieure. Comme il voyait son Lama, comme étant réellement Djampéyang, il obtint la réalisation des bons présages extérieurs et intérieurs. Il reçut les enseignements d'innombrables maîtres de l'Inde, du Népal, du Cachemire, et du Tibet, et il devint comme un trésor de sagesse, d'étude, de réflexion, de Samadhi, et fut le maître de toutes les différentes doctrines.

A partir de l'instant où il reçut les vœux de moine du Pandita Khatché Chakya Shri Bhandra, et
jusqu'à la fin de sa vie, jamais il ne fut en contra¬diction avec la plus petite des règles, et, comme le Vénéré Nyéwar Khor, il gardait une discipline éthique éminente, qui comblait les Bouddhas.

Il était loué par tous les êtres mondains et hors de ce monde et il devint un saint digne d'offrandes. Il possédait toutes les bonnes vertus de savant, moine, généreux, ainsi qu'un grand esprit d'éveil et toutes les qualités de compréhension inté¬rieure. Grâce à cela, il fit le bien de beaucoup d'êtres. Sa réputation s'étendit partout.

Ayant parachevé l'étude de tous les objets de science extérieurs et intérieurs, comme il accomplis¬sait les œuvres du Dharma par l'enseignement, l'argu¬mentation, et la composition, sa réputation attira le fameux maître de l'Inde, Trodjé Gawo, et cinq autres maîtres hérétiques qui vinrent le confronter. Mais Sakya Pandita, par sa pratique de la science des caractéristiques, qui comprenait les trois éléments nécessaires, réduisit au silence l'un après l'autre, les six maîtres. Trodjé Gawo, vaincu, coupa sa chevelure en signe de soumission et fit la promesse de suivre la voie bouddhiste.

Sakya Pandita fut le premier au Tibet à vaincre des savants de l'Inde par l'argumentation et sa réputation se répandit comme l'air de l'est à l'ouest de l'Inde.

De l'âge de 9 ans jusqu'à sa mort à 70 ans, tous les jours il tourna la roue du Dharma. Il obtint :

trois disciples qui saisirent la lignée de la réalisation intérieure : Tso, Trup, Pha

deux disciples qui saisirent la lignée complète de l'enseignement essentiel : Lho et Mar

trois disciples qui saisirent la lignée des explications : Shar, Noup et Koung

vingt disciples de tous âges qui saisirent la lignée des vœux

quatre disciples qui connaissaient le sanskrit et le tibétain : Lo, Shang, Rong, Tcha

quatre disciples yoguis pratiquant secrètement (sans faire savoir) dont Djiatsa Loung

et enfin quatre à la fois savants et saints comme Tsang Napa.

Il eut pour disciple Djialwa Yong Guenpa et d'autres qui saisirent la lignée de la pratique (réalisation) avec aussi plusieurs milliers de savants qui furent détenteurs des trois Corbeilles.

Son activité de composition qui ne devait rien à la bienveillance d'autrui, était grande : de très nombreux traités enrichissant la connaissance sur les dix objets de savoir, dont les deux traités du Domsoum Rabyé (distinction entre les trois vœux) et du Tséma Rigpai Ter (visant à établir la vérité par la science de la logique), ainsi que de nombreuses explications aux traités du Tendjiur et traductions du sanskrit. Particulièrement, il fut le premier à initier la connaissance traditionnelle des trois objets de savoir. Il a lui même dit que ces enseignements avant lui, n'existaient pas au Pays des Neiges. La connaissance du nom et du sens des dix sciences ne tient qu'à lui.

Comme le grand maître de l'Inde Tcheudjé Trapa Sherdjoung Bépa Loten, sa réputation fut immense. Les qualités de son corps, de sa parole et de son esprit, comme des étendards (visibles par tous) se répandirent partout. Les puissants de ce monde eurent envie de rencontrer la "lune de son visage" et envoyèrent des messagers pour l'inviter. Grâce à ses prières antérieures et en vue du bien des disciples du Tibet, il put accomplir l'action suivante:

Le roi mongol qu'on nomme Koden, possédan¬t tout ce qu'il désirait et étant immensément riche, voulai¬t trouver un Lama pour le guider vers la libération et l'omniscience; il demanda avec insistance qu'on invite le maître du Dharma, Sakya Pandita, que nul ne dépassait en sagesse au Tibet. En accord avec la prophé¬tie de son Lama, Sakya Pandita, s'étant rendu en Chine, en devint l'ornement suprême.

Par ses actions inégalables du corps, de la parole, et de l'esprit, il répandit la doctrine dans de nombreux pays barbares. Il délivra le roi Koden de sa maladie et ce dernier eut grande foi en lui.

Mais, un jour qu'il donnait un enseignement et insistait sur le fait que "la tortue n'a pas de poils'' (comme il est dit dans le Soutra de Serwé Tampa), le roi et ses ministres décidèrent de le tester. A cet effet, un illusionniste chinois, sur la demande du roi, créa auprès d'un lac un temple magique où Sakya Pandita fut invité à se rendre avec le roi. Sakya Pandita jeta les fleurs de la consécration, l'esprit en profond Samadhi, et le magicien ne fut plus capa¬ble de détruire le mirage. Ceci emplit de foi le roi et sa suite. Le temple fut appelé ''temple magiquement émané du nord'' et, de nos jours, il est encore visible près de la montagne de Djampéyang en Chine.

Alors que ses disciples tibétains le priaient de revenir, Sakya Pandita composa en réponse le traité Thoupai Gongsal (''éclairer la pensée du Puissant) et1e leur envoya.

Il fit ainsi prospérer la doctrine du Bouddha dans toutes les directions et tous les temps et, à l'âge de 70 ans, l'année du Porc de fer femelle, à l'emplacement du temple magiquement émané, il se rendit sur la terre de Vajrayana (rang de Dorjé Chang) et réalisa toutes les terres et les voies, et, au paradis de Ngenga, il devint le Bouddha ''Trimamépa'', comme l'avaient pro¬phétisé ses déités et ses Lamas.

Après sa disparition, alors qu'un savant deman¬dait de ses nouvelles à Tcheudjial Phagpa, celui ci répondit :

''Plusieurs années se sont écoulées depuis que le maître du Dharma est devenu Bouddha''.

Le maître des êtres, Tcheudjial Phagpa (1235 1280) n aquit l'année du Mouton de bois femelle du quatrième cycle comme fils de Sangtsa, frère de Sakya Pandita.

C'était un grand Bodhisattva d'un plan très élevé. Il s'incarna selon son désir volontairement.

A l'âge de 8 ans, il donna un grand enseignement à environ mille grands Lamas qui pouvaient utiliser le parasol (signe de leur haut rang) et à des dizaines de milliers de moines sur le Tchiérabsoji (vies antérieures du Bouddha) et le Tantra de Guépadorjé, grâce à sa seule compréhension et de façon à ce que ceux qui l'écoutaient eussent l'esprit empli de foi. A partir de là, tous le qualifièrent d'être suprême (phagpa).

Il eut de très nombreux maîtres, principalement Sakya Pandita et il devint savant dans tous les enseignements connus au Tibet, des véhicules extérieur et intérieur, Tudjikhorlo, etc.. Il était un puits de science précieuse.

Le roi mongol, Setchen (de Chine) l'invita dans son pays. Il y accomplit de grandes œuvres en faveur de la doctrine et des êtres. Chaque année, il ordonna plusieurs di¬zaines de milliers de moines. En Chine, alors qu'il donnait un enseignement à soixante-dix mille moines, il. leur distribua de l'or et d'autres richesses matérielles.

Par sa science de l'argumentation, il fut victorieux des vues hérétiques des dix-sept maîtres Sinching (doctrines chinoises) qui critiquaient la doctrine du Bouddha et il les convertit au bouddhisme.

Pour répondre à la prière insistante adressée par le roi Kopé, il composa les lettres de l'alphabet mongol. En particulier, un jour, il prit une arme coupante, se coupa la tête et les membres et l'on vit ces cinq morceaux se transformer dans les cinq familles de Bouddhas émettant des rayons de lumière innombrables.

Devant la perfection de sa discipline éthique et les œuvres de son corps, de sa parole et de son esprit, le roi et sa suite eurent une foi immense et on l'établit comme premier destinataire des offrandes religieuses royales. Il devint le maître religieux et temporel des trois régions du Tibet ainsi qu'il avait été prophétisé par le Bouddha dans le Tantra "Djampal Tsadjiu".

Il fut le premier Lama tibétain à devenir roi et gouverna au Tibet avec impartialité envers les différentes écoles. Il eut trois disciples, Khong, Nieng, Chong, qui gardèrent la lignée de son enseignement, deux autres, Gadèn et Kunté, qui saisirent la lignée de révélation des Tantras. Deux autres, Chang et Kun, furent les détenteurs de la lignée des instructions essentielles. Quatre disciples réalisèrent parfaitement ses ordres et paroles.

Il eut aussi deux rois puissants pour disciples, et six grands disciples dont celui de l'est, Tunkhorwa.

Tous les Lamas, maîtres, savants et saints du Tibet de cette époque, dont Narthang Djiépa, le respectaient et le priaient de donner le nectar de son enseignement. Il gouverna la doctrine du Bouddha par sa triple activité (enseignement, argumentation et composition.) qui dépassait l'entendement de la plupart.
En particulier, dans la région du Tsang à Tchumérémor, alors qu'il donnait un enseignement à une assemblée de soixante-dix mille religieux et quelques milliers de détenteurs des Corbeilles ainsi que cent mille autres êtres, il distribua de l'or à chacun après l'avoir disposé devant lui. comme un tas de céréales, etc., et il leur donna les vœux de Boddhisattva en faisant en sorte que chacun en comp¬renne le sens.

Il était prédit, dans une prophétie du Bouddha qu'il viendrait et éclairerait la doctrine comme un soleil.

Le frère de Tcheudjial Phagpa, Ndroguen tchana, gouverna le Tibet religieusement et temporellement. Il avait le pouvoir de résurrection. des morts et le prouva à plusieurs reprises. Il pouvait placer ses vêtements religieux sur les rayons du soleil comme sur une table, et, alors qu'il ti¬rait une flèche dans le roc, elle s'enfonça et en fit sortir de l'eau. Ses vertus étaient très grandes. il était révéré comme une incarnation de Tchanadorjé.

Son fils Dharmapala gouverna le Tibet religieu¬sement et temporellement et mourut jeune. Après sa mort, son corps brûlé laissa des restes d'os qui se transformèrent en reliques et furent un support de la foi au Tibet et en Chine.

Il n'eut pas de descendance, mais l'un des fils de Sontsa (frère de Sakya Pandita), Yéché djoungné, eut quinze petits fils (de son fils) comme l'avait prophé¬tisé Dolma alors qu'il se trouvait en Chine.

L'aîné de ces quinze petits fils Tichri Kunleu, ainsi que ses frères se partagèrent en quatre maisons de Lamas "Ladrang" à Sakya (actuellement, il y en a deux). C'est du Ladrang Rintchen gongpa que naquit le saint Lama Sonam Djialtsen. Ce maître paracheva la triple activité de l'étude, la réflexion et la médi¬tation, et au Tibet, il ne se trouvait pas un seul sage qui ne fut son disciple. Il y eut dans sa descendance de très nombreux savants et sages dont Djagar Shérab Djialtsen et Datchen Lodreu Djialtsen.
De la maison "Lhakong", il y eut une descendance comprenant de nombreux sages et savants.

De nos jours, la descendance actuelle est celle de la maison de "Tuntché". Là, il y eut de nombreux
sages et savants, dont le grand Kunga Rintchen qui restaura les supports extérieurs et intérieurs de Sakya, établit les règles du monastère, initia et fit progresser les différentes façons d'enseigner les Tantras et fit évoluer la pratique essentielle. Il accomplit des œuvres utiles à la doctrine de Sakya.

Ensuite, depuis le maître Djamguen Améchab jusqu'à présent, il y eut deux maisons à Sakya, actuellement Dolma Phodrang et Phuntso Phodrang dont les descendants sont respectivement Dathri Rinpoché, l'actuel Sakya Tridzin et ses fils ainsi que Datchen Rinpoché avec ses fils et petit-fils.

Ils présentent les qualités d'érudition et les signes de la réalisation et tous ont les protecteurs du Dharma comme serviteurs ainsi que la possibilité de transformer les phénomènes sensibles comme ils le désirent.

Il est dit, dans les prophéties de Guru Rinpoché et de Palden Atisha, qu'ils avaient vu Satchen Kunga Nyingpo entouré dans les quatre directions des émanations de Djampéyang, ce qui signifiait que tous les descen¬dants authentiques de cette lignée étaient des êtres saints.

LA SUCCESSION DES GRANDS ETRES DETENTEURS DE LA DOCTRINE

Leur manière de la faire progresser

Les cinq vénérés Lamas Sakyapa, ayant établi cette nouvelle tradition d'enseignement, eurent des disciples innombrables qui en poursuivirent la lignée avec le Saint Lama qui possédait la révélation de toutes les explications et pratiques.

Les membres héritiers de la lignée divine spécifiquement Sakya, de père en fils, et leurs disciples possédant la connaissance, la discipline éthique, et la sagesse, furent aussi nombreux que les atomes du Gange et répandirent tous la doctrine au Pays des Neiges jusqu'à nos jours, selon la prophétie du Bouddha où il était dit que le Dharma serait fort développé au Pays du Nord (ou Tibet).

D'autre part, les nombreux yoguis disciples des cinq Lamas Sakyapa ont enseigné largement dans les régions avoisinantes de l'est et de l'ouest (du Tibet). Au Tibet même, les descendants des anciennes lignées Nyingmapa de So, Seur et Noub, ainsi que de nombreux découvreurs de textes cachés, dont Guru Tcheuwong, et de nombreux grands Lamas de l'école Kadampa, les Lamas Tchayulwa, Tokonwa, Tchimnamkhatra, Tchomdèn Ripé Raldri, etc., ont tous reçu le nectar de l'ensei¬gnement des cinq grands Lamas Sakyapa.

Les Lamas Tchapa Tcheudjé Sengué et Niondrèn Tcheudjé Sengué ont reçu particulièrement les ensei¬gnements de libération, de sens profond, de la part des Lamas Satchen Kunga Nyingpo père et fils.

Le maître des êtres à l'origine de tous les Kadgiu pa, Phamo Trupa, est resté 12 ans à servir Satchen Kunga Nyingpo comme son disciple et a reçu lui les enseignements profonds. Il a composé le commentaire ''Dzémar'' au traité du Lamdré.

Le premier Karmapa, Tussoum Tchienpa, a reçu l'enseignement du Lamdré des deux disciples de Satchen Kunga Nyingpo (Palgalo et Asèng).

Les Lamas des Shangpa Kadgiu, Motchopa et Nyentèn Bépé Naldjor, ont tous deux servi longtemps Aseng et Trapa Djialtsen de leur corps, de leur parole et de leur esprit.

Le Lama Poutèn Rinpoché (qui fonda la branche Poulou) a reçu tous les enseignements de pratique des mantras et de la science des caractéristiques (Tsénié) de la part des Lamas Sakyapa, Tichri Kunleu et Sonam Djialtsen.

Le Lama Tcheukeu Weuser (de l'école Tchonangpa, une branche Kadampa), était disciple détenteur de l'enseignement de Sakya Pandita.

Le Lama Shèrab Djialtsèn de Tolpo a mis toute son ardeur à étudier la science des caractéristiques à Sakya.

De Chongten Dorjé Djialtsen (disciple de Tcheudjial Phagpa) jusqu'à Ponlo, Chalou Lotchen et Podong Tcholé Namdjial, tous sont aussi des maîtres Sakyapa. Au sujet de l'école de Podong Tcholé Namdjial, il faut se reporter à la biographie où il se présente lui même en tant que Sakyapa.

Les Lamas Nyingmapas, Djialsé Thomé Zangpo et Kuntchèn Lontchèn Pa ainsi que le Lama Kadgiupa Phamotroupa, ont reçu les enseignements du Lamdré et d'autres, du saint Lama Sonam Djialtsen.

Le sixième Karmapa, Thonwa Tèndèn, a reçu tous les enseignements sur les grands traités de base, du Lama Rontèn tchenpo (disciple de Ngortchen Kunga Zangpo).

Djé Rinpoché (Tsongkapa) et son disciple Djialtsab étaient disciples du grand Sakyapa Rèndawa. Parmi les disciples de ce dernier, sept avaient le degré de Ramdjampa (titre Sakyapa d'érudit). Djé Rinpoché et Djialtsab étaient deux parmi ces sept. Parmi les dix disciples de Rèndawa possédant le titre de ''Katchu mawa (autre titre moins élevé d'érudit), l'un était Khé Droup Djé (deuxième disciple de Tsongkapa). Djé Rinpoché avait reçu les enseignements profonds de Niawen Tamtché Tchenpa, du Saint Lama et de Sazon Mati Pentchen (tous Sakyapas).

Il est dit que la tradition de la science des caractéristiques de Tsongkapa vient des Sakyapas et que sa science des Mantras provient de la tradition Poulou. Ceci ressort de sa biographie. La plupart de tous les savants et sages du Tibet ont été, de façon directe ou indirecte les disciples de lamas Sakyapas. Ces faits sont bien connus de tous les savants impartiaux.

En ce qui concerne les explications données aux cinq catégories des grands traités, les savants Sakyapas et Guélukpas disent que la catégorie des Paramitas est attribuée à Yatèn (Lama Sakyapa), la partie concernant la philosophie du Madhyamika est attribuée à Rèndawa, la science des caractéristiques à Niawen, la discipline à Tcha, et l'Abhidharma à Tronté et Tchim Nam Kha Tra.

La plupart de ces grands maîtres détiennent la lignée du Dharma Sakyapa. C'est grâce à leur bienveillance que la triple activité d'enseignement, d'argumentation, et de composition a pu largement prospérer jusqu'à nos jours dans les collèges de toutes écoles.

Particulièrement, ceux que l'on appelle ''les six ornements du Tibet'' (par analogie avec les six ornemen¬ts de l'Inde) furent des Lamas Sakyapas : deux savants dans les Sutras, Yaten et Ronten, deux savants dans les Mantras, les deux Kunga, deux savants dans les Soutras et Mantras, Koram Sonam Sengué et Pandita Shakya Tchoden.

Tous ces savants ainsi que d'autres, innombrables comme les étoiles dans le ciel, avec leurs disciples en nombre incalculable, étendirent dans toutes directions, le domaine de la connaissance au Pays des Neiges.

En ce qui concerne l'explication et l'étude des différents traités des trois Corbeilles, pour les Sakyapas, elle est divisée en six grandes catégories, qui sont les Paramitas, la logique (science des caractéristiques), la discipline, l'Abhidharma, le Madhyamika, et les trois vœux.

En ce qui concerne la discipline, on trouve l'explication et l'étude des deux traités du Soutra de la libération personnelle (Prati Moksha Soutra) et du Vinaya Soutra.

En ce qui concerne la logique (traités) : Pramana Samuccaya de Dinnaga, Pramana Vartikar de Dharmakirti, Pramana Viniscaya de Dharmakirti, Pramana Yuktinidhi de Sakya Pandita.

En ce qui concerne l'Abhidharma : Trésor de l'Abhidharma (Abhidharma Kosha de Vasubandhu), Complète Compilation de l'Abhidharma (Abhidharma Samuccaya d'Asanga).

En ce qui concerne les Paramitas: les cinq enseignements de Maitreya à savoir l'Abhisamaya Lankara Soutra, le Soutra Lankara, le Madhyanta Vibhanga, le Dharmata Vibhanga et l'Anouttara Tantra ainsi que le Tchièndjou ou Bodhicaryavatara ("s'engager dans l'action de Bodhisattva'') de Shantideva.

En ce qui concerne le Madhyamika : le Mulamadhyamaka Karika de Nagarjuna (''traité racine sur la voie du milieu''), l'Oumadjoupa ou Madhyamaka Vatara ("s'engager dans la voie du milieu") de Candrakirti, et l'Ouma Jidjiapa ou Catuhsataka d'Aryadéva (''les 400 de la voie du milieu'').

En ce qui concerne les trois vœux: le Damssoum Rabyé (Trisam Vara Prabheda) de Sakya Pandita, traitant des vœux de l'Arahat, du Bodhisattva et de l'adepte du Vajrayana.

Ces dix-huit traités appelés ''les dix-huit fameux'', sont étu¬diés dans les collèges d'enseignement. A l'issue de cette étude, on peut acquérir le grade de Kajipa (4ème parole), de Katchoupa (10ème parole) ou de Ramdjampa (connaissant tous les traités).

Jusqu'à nos jours, on pouvait obtenir l'expli¬cation et l'étude de ces océans de connaissance (tous les traités) dans tous les grands collèges du Té, du Tsang et du U ainsi que de l'est, sans sortir de la branche Sakyapa.

De la même façon, dans les écoles de Ngor, Dzong et Tsar, on mit tous ses efforts à tenir haute la bannière de la pratique et plusieurs centaines de ri¬tuels et mandalas différents étaient pratiqués avec leurs enseignements, et initiations des quatre groupes de Tantras.

Et ainsi, beaucoup obtinrent les pouvoirs supé¬rieurs (rang de Bouddha) et un corps d'arc en ciel avec disparition du corps de chair, parmi eux, Sonam Tsémo, le sage Thangtong Djialpo et d'autres sages innombrables comme des oiseaux migratoires, et qui manifestèrent tous les signes de la réalisation. Ces grands êtres, gardiens de la doctrine, plaçant toutes leurs pensées dans le Dharma du Bouddha, fondèrent un nombre incalculable de monastères semblables à des joyaux ornant 1'océan, où les moines étaient détenteurs des trois Corbeilles.

Parmi les sièges monastiques principaux détenteurs des Tantras, celui de Ngor Ewam Tcheuden fut fondé par Ngortchen Dorjé Tchang Kunga Zangpo, l'un des deux Kunga "savants dans les Tantras", dans l'année de l'Oiseau de terre du septième cycle (1429). La venue de ce grand Kunga fut prophétisée par le Bouddha dans les Soutras de Phagpa Guèwe Tsawa Yonsou Dzopa et Péma Karpo.

Ngortchen Kunga Zangpo naquit l'année du Chien d'eau du sixième cycle. Par ses qualités incomparables de discipline éthique, de Samadhi et de sagesse (écou¬ter, réfléchir et méditer),ainsi que par sa largeur l'esprit, il a développé comme un deuxième Bouddha, les trois activités d'enseignement, d'argumentation et de composition. Il donna l'enseignement du Lamdré quatre-vingt fois, et les initiations du Dordjé Threngwa soixante fois. On ne peut compter les explications, initiations et enseignements essentiels qu'il dispensa; comme sa discipline éthique était parfaite, on lui demanda plus de dix mille fois les vœux de moines. Il est appelé le Dorjé Tchang de notre époque de querelles.

Il eut, parmi ses disciples, un nombre incalcu¬lable d'êtres réunissant les qualités de savants et de sages ayant obtenu les pouvoirs. Ses monastères, plusieurs milliers, essaimaient dans les régions du Té, du Mè et du U.

La première de ses dépendances (filiales de Ngor) fut Mu Tamoling où résidait le Lama Mutchen Kentcho Djialtsen. A partir de Mutchen qui fut abbé de Ngor Ewam 'I'cheuden jusqu'aux abbés des quatre maisons de Lamas de nos jours, une lignée de soixante-neuf Lamas se sont succédés sur le trône de Ngor Ewam Tcheuden (les quatre maisons se partageaient la tenue du trône tous les trois ans). Tous les ans, le Lamdré était donné sans interruption par le Lama détenteur du trône et Ngor comprenait en per¬manence environ cinq cents moines, sans compter ceux très nombreux qui venaient au Lamdré, de toutes les régions (surtout du Kham).

Un deuxième monastère fut Tsédong, fondé par Djamyang Namkha Tashi, l'année de l'Oiseau de terre femelle du huitième cycle (1489). Ce monastère fut pris en charge par la maison de Tuntché. De grands êtres, comme Thritchen Sonam Lhundrup y vinrent.

Plus tard, le grand abbé de Ngor, Dorjé Tchang Ngawang Lodreu Jenphen Nyingpo (Tampa Rinpoché), y vint donner l'enseignement du Lamdré Loché. Tsédong devint alors un collège d'étude et de pratique.

Le monastère de Phenyul Nalenda (Tsarpa) fut fondé l'année du Lièvre de bois du septième cycle (1435) par Kuntchen Ronten, l'un des "six ornements du Tibet''.

Ce grand Lama naquit l'année du Mouton de feu femelle du sixième cycle, dans la lignée royale de Taguisita au pays de Djialmo Rong, à l'est. Il est reconnu non seulement comme l'incarnation authentique de Maitreya par des prophéties et des enseignements, mais encore comme la réincarnation de nombreux Panditas de l'Inde et du Tibet, dont Kamalashila (Indien) dont il disait se souvenir.

Il possédait la connaissance de un million huit cent mille volumes et ses principaux maîtres furent Mipham Tcheudjé lama, d'autres savants tibétains et le Pandita indien Natié Rintchen ainsi que d'autres Panditas de l'Inde. De ces différents maîtres, il reçut les enseignements des traités des paroles du Bouddha et de leurs commen¬taires.

De 22 à 84 ans, il dispensa son enseignement avec un discernement qui plaisait aux savants et eut parmi ses disciples :

quatre ''piliers de la doctrine'', huit disciples dits ''ornements de la doctrine'', trois disciples capables d'égaler leur maître, dix-sept disciples qui vinrent vers la fin de sa vie, quatre disciples de très grande réputation et environ six mille disciples gardiens des trois Corbeilles.

Dans sa pratique de l'argumentation, il gardait toujours présent à l'esprit le sens du discours.

Dans la science des débats, il puisait dans le trésor des enseignements et de la réflexion profonde. Parmi les nombreux savants, il se montra particulièrement habile dans la science des débats, sans jamais commettre la moindre erreur. Il ne s'en remettait jamais à d'autres que lui même et était semblable à un trésor de vues larges.

Dans de nombreux collèges d'enseignement comme celui de Sangpeu Néou Tho, il montra son habileté dans la triple activité d'enseignement, d'argumentation et de composition, et toute l'assemblée des savants et des sages du Pays des Neiges l'honorèrent du nom de Ronten Mawé Sengué (la Parole du Lion).

Il composa de nombreux traités de méditation sur la pratique de la plupart des grands traités et d'extraordinaires commentaires à quarante grands ouvrages ainsi que différentes louanges, de nombreuses explications d'enseignements divers, des commentaires aux Tantras et un résumé de la signification de soixante traités. Il fut l'auteur de plus de trois cents ouvrages. Par les guirlandes de sa composition, il embellit la doctrine du Bouddha.

Comme signe visible de la vérité du Dharma, il avait le pouvoir de ressusciter les morts, le pouvoir d'émanation et celui de voler comme un oiseau.

. On peut voir, dans sa biographie, qu'il posséda¬it tous les signes des réalisés de la sixième terre.

A 84 ans, il partit, comme il l'avait annoncé, au paradis de Gaden. Son corps fut momifié.

Son disciple, Kuntchen Tashi Namdjial, donnait chaque jour trente-deux fois des enseignements à des groupes diffé¬rents. Il ne lui était pas nécessaire de préparer les explications la nuit. Il se mesurait dans les débats avec de très nombreux savants et en ressortait victo¬rieux. Il possédait à la fois les qualités d'un savant et celles d'un sage.

A partir du grand Rongten jusqu'au septième abbé de Tsar (pendant 20 années) il y eut environ deux mille à trois mille moines à Nalenda et quarante-cinq maisons de moines. Après cette première période, de nombreux obstacles ayant surgi, le nombre des moines était tombé à mille.

Au plus mauvais moment, Lodreu Djialtsen invita Tchienrab Tcheudjé Rinpoché qui était un sage éminent et qui possédait la lignée proche de l'initiation de Tu Tji Khorlo obtenue de Dorjé Naldjorma. Celui-ci prit la succession de Tsar comme huitième abbé. A partir de lui jusqu'à nos jours, le nombre de moines n'a jamais été inférieur à quatre cents et ce fut un lieu de collège d'en¬seignement et de pratique des Soutras et des Tantras.

Depuis lors, jusqu'à Rintchen Tchientsé Ongpo, il y eut une lignée de dix-huit détenteurs du trône de Nalenda, tous de la famille divine de Tché.

La lignée complète d'enseignement comprend vingt-six Lamas. Le frère de Tchienrab Tchampa, neuvième de la lignée des dix-huit détenteurs du trône, fut la quatrième incarnation de la lignée des Zim Ouo (autre maison de Lamas de Nalenda) qui se poursuivit jusqu'à Dorjé Chang Tchampa Kunga Tendzin.

A Nalenda, il y avait à la fois un collège d'argu¬mentation et un collège de Tantras, et nombreux furent ceux qui montrèrent les signes de la réalisation par leur connaissance sur les Tantras. Jusqu'à nos jours, ce fut le lieu d'enseignement de la lignées des Soutras et des Tantras. Il y avait sept cents moines, une grande salle d'as¬semblée, deux collèges de moines, cinq maisons et trois maisons de Lamas.

Les monastères filiales de Nalenda étaient nom¬breux du Tsang à Tsawarong, jusque dans l'Amdo à Djiarong (près de la Chine).

En ce qui concerne le monastère de Ndréyul Tchiétsal (Tsang), il fut fondé en 1449, l'année du Serpent de terre du huitième cycle, par le disciple du grand Rongten, Tchamtchen Ramdjampa Sandjié Phel.

Ce monastère devint un grand collège de la science des caractéristiques et de l'enseignement des trois fondations.

Le disciple de Tchamtchen, Djamyang Kunga Tcheuzong, gouverna ce monastère. L'assemblée des nombreux disciples de Tchamtchen emplit toutes les directions.

Parmi eux, se trouvait le très grand savant dans les Sutras et Tantras, Kuntchen Korampa.

Il restaura et fit prospérer le monastère de Tana Thoubten Namdjial Ling, ceci en 1478, l'année de la Souris de terre du huitième cycle.

Ce grand seigneur du Dharma naquit l'année de l'Oiseau de terre du septième cycle. Il eut comme maître le grand Rongten et son disciple ainsi que Ngortchen Kunga Zangpo. Il atteignit les sommets de la connaissance. Il diffusa les écrits des vénérés fondateurs Sakyapa (les cinq Lamas) et fonda le collège d'ensei¬gnement du grand temple de Sakya. Jusqu'au grand abbé ''Bouddha'', un très grand nombre d'autres collè¬ges d'enseignement furent fondés.

Le disciple de Korampa, Mu Thoudjié Palzong, fonda le monastère de Djé Thoubten Yontchen, dirigé par les abbés et Lamas Palzang et Pentchen Ngatcheu.

Le disciple de Tchamtchen Ramdjampa, Pandita Bomtra Sompa, fonda le monastère de Nyenyé Tchagué Chong.

Le disciple de Djamyang Kunga Tcheuzong, Jongdjia Ngeudroup Palbar, fonda le monastère de Tcheu Khor Lhunpo.

Pentchen Lhaong Lodreu fonda le monastère de Jéri Tchietsal Oma. Ce monastère fut un grand collège de la science des caractéristiques. Il eut tout d'abord six filiales dont chacune essaima à son tour.

Tenyé Palwé fonda Sélong. Le disciple de Rongten, Pentchen Shakya Tchoden, dirigea Sélong qui devint un grand collège de la science des caractéristiques, appelé Thoubten Serndotchen. Dans le pays de Penyul, il res¬taura le monastère du maître Longré Thongpa, grand maître Kadampa.

Le monastère de Zongden Tcheudé au Tsang, fut fondé par Kunpong Tcheutra et il y eut là une nombreu¬se lignée d'abbés ''Gardiens des trois Corbeilles'' et, tous les ans, ce monastère et les douze filiales qui en dépen¬daient se réunissaient pour la pratique et l'enseigne¬ment des Sutras et Tantras en conservant les coutumes antérieures.

Quant aux monastères du Lama Mutchen Khorlo Dampa dans le pays de Mu, ils s'appelaient Samling, Tamoling, etc..

Le monastère de Chékardjialtsé Tcheudé du pays de Niongté dans le Tsang fut fondé par Rabten Kunzang Pha. Il eut seize collèges de moines différents et jusqu'à nos jours, il connut un grand développement.

Dans la même région, il y eut les monastères des Lamas Rendawa, de Sazang Mati Pentchen, de Tatsang Lotsawa Mawa Shérab Rinchen.

Le monastère de Konkar Dorjé Den, dans la province du U, fut fondé l'année du Singe de bois du huitième cycle (1464), par le savant en mantras, Dzonpa Kunga Namdjial. Ce maître naquit l'année du Chien d'eau du septième cycle. Il possédait de façon inégalable les vertus de savant et de saint. Il y établit la tradition de la récitation des différents rituels de mandalas en accord avec les différents Tantras et la tradition des danses religieuses.

Il était protégé par les Protecteurs du Dharma et avait de grands pouvoirs. Jusqu'à nos jours, la tradition des techniques de libération y fut ininterrompue.

Quant au monastère de Paldjé Samyé, il fut d'abord fondé par les trois, abbé, maître et roi respectivement Boddhisatto, Gourou Rinpoché et Thrisong Détsen. Il se développa et, lors de la deuxième diffusion du Dharma, il fut restauré par les Lamas Sakyapas, Sakya Pandita, le Saint Lama, et Ngatchang Tchenpo. L'abbé de Samyé était choisi et envoyé par Sakya.

Le monastère de Tchichon Rawa Mé fut dirigé par Ta Kunga Paljor. Les deux filiales de ce monastère, Dopu Tcheukor et Shédrong Guen, furent fondées par le disciple du grand Rongten, Shédrong Pentchen Lodreu Tcheudjié Djialpo.

Le Lama Kuntchen Tashi Namdjial fonda Tapo Tradzong, et Nyémo Tchamguen fut fondé par Tchenrab Tcheudjé.

Namdjial Serkhang fut fondé par Kazi Katchu Shakya Lodreu.

Dans le monastère de Trathang où demeurait Trapa Ngenshé, le maître Khéong Tendzin Phuntso développa le "Fleuve du Dharma" de Sakya, Ngor et Tsar.

Katché Pentchen fonda le monastère de Tratsé Tsondeu. D'autres monastères comme Takhoupi, Thrangou Chiwa, Yarndro Ching Mong Rido, etc., furent fondés dans les provinces du U et du Tsang, plus nombreux qu'on ne saurait dire, semblables à des guirlandes de soleils, de lunes et d'étoiles, joyaux de la doctrine du Bouddha.

Le monastère de Ndar Trangmo Tché, dans le Tsang, fut la résidence du grand Tsartchen. A partir de lui jusqu'au grand abbé Ngawang Losal Phuntso, ce monastère fut dirigé par de grands êtres, maîtres de l'océan des Soutras et des Tantras.

Le monastère de Yarlung Tashi Tcheudé fut fondé par le disciple du grand Tsartchen, Khentchen Yolwa Jennou Lodreu et fut dirigé par d'inégalables incarnations. Il devint un grand collège de pratique et d'enseignement.

La tradition de Tsarpa comprend, entre autres, les treize enseignements d'or, les enseignements profonds de la lignée orale, et les différents enseignements des divers Protecteurs du Dharma.

Les enseignements furent transmis du Saint Lama à Ngortchen et à ses disciples principaux, ainsi qu'à la lignée divine des Khon (de Sakya) sans interruption jusqu'à Dorjé Tchang Lodreu Djialtsen qui les donna à Doring Kunpongpa Tchenpo qui les reçut comme un "vase non percé".

Doring Kunpongpa Tchenpo a tenu la bannière de victoire de la pratique en une seule réclusion à Khaou Tradzong et il a obtenu ainsi un rang élevé de compréhension intérieure.

Parmi ses nombreux disciples, le principal "bâton de vie" à tenir la lignée orale fut le grand Tsartchen Tcheudjé Djialpo Lossal Djiamtso. Ce dernier est né l'année du Tigre de bois du huitième cycle et il possédait toutes les vertus d'un savant et d'un saint. Il reçut les vœux de moine de Guendune Djiamtso.

Ayant étudié la science de la logique à Tashi Lhunpo, par sa parfaite connaissance semblable à celle de Shantidéva, il enleva toute force d'esprit aux savants de ce monastère. Obtenant les fruits de ses prières, il reçut les prophéties de Dorjé Naldjorma, lui enjoignant de se rendre à Khaou Tradzong y recevoir les enseignements du Lamdré Loshé du Lama Doring Kunpong Tchenpo. Ces enseignements lui furent transmis au moyen des quatre caractéristiques essentielles de transmission authentique. Il reçut aussi d'innombrables enseignements profonds, et par sa pratique, il obtint les signes de la réalisation. Plus particulièrement, comme Dorjé Naldjorma le protégeait, à Thropou, Sinpori et à Nalanda, il obtint un haut rang de réalisation et monta sur le trône de Pouten Rinpoché à Shalou. Il étudia auprès de soixante-trois Lamas, sans distinction d'écoles, et reçut tous les enseignements profonds de pratique qui existaient au Tibet.

Le grand Tsartchen devint le deuxième Dorjé Tchang de ''notre époque en déclin''.

Parmi ses innombrables disciples de toutes écoles, les deux principaux furent Tchientsé Ontchoup et Kuntchen Ludroup Djiamtso qui détinrent la lignée de Tsarpa.

De nombreux disciples obtinrent un haut rang de réalisation d'union du vide et de la félicité. Ses disciples tinrent de manière ininterrompue le cours des enseignements et c'est ainsi que la tradi¬tion de Tsar fut établie.

Le fils spirituel du disciple Tchabda Ongtchoup Rabten, lui même disciple de Tsartchen et de son disciple, s'appelait Guenpo Sonam Tchoden. Les deux principaux disciples de ce dernier furent Tchabda Chalouwa et le grand cinquième Dalaï Lama.

Ce fut à ce moment que les événements se dégra¬dèrent au Pays des Neiges (à cause des rivalités). Après une période de troubles, le grand cinquième Dalaï Lama fut établi dans ses fonctions et put diriger pendant une époque de paix revenue. Il reçut alors de Guenpo Sonam Tchoden, les enseignements du Lamdré Loshé très détaillés ainsi que les enseignements qui y sont rattachés. Ceci devint sa pratique principale. Il composa lui même un commentaire du Lamdré Loshé et compila les biographies des quatre Lamas Tsarpas et les fit imprimer.

Afin de répandre les enseignements profonds du Lamdré Loshé, le cinquième Dalaï Lama invita Shalou Khentchen à venir donner ces enseignements et il fournit à la fois les vivres et les offrandes pour tous les moines et Lamas. Il fit diffuser cet enseignement particulièrement dans le sud.

Parmi les principaux disciples ayant reçu l'ensei¬gnement du Lamdré, à cette occasion, se trouvaient Tchodjié Tchenrab Tchampa (Abbé de Nalanda) et Satchen Kunlo (deux des quatre principaux Lamas), etc..

C'est grâce à l'activité religieuse de ces quatre Lamas que la lignée orale du Lamdré Loshé demeure jusqu'à nos jours et c'est grâce au grand cinquième Dalaï Lama que les enseignements Sakya et Ngorpa sont répan¬dus dans toutes les écoles du Tibet.

Quant au monastère de Dergé, Lhundroup Teng, dans la région du Ndoté (Kham), ''Demeure de tous les Rois du Dharma'', il fut fondé par le grand sage Thangtong Djialpo et par le roi religieux Tashi Tchéyèn. Ce grand monastère comprenait un collè¬ge de pratique et un collège d'enseignement très réputés ainsi qu'une importante bibliothèque et imprimerie où furent publiés le Kandjour, le Tendjour, les écrits des Lamas, etc..

A Dergé, vivaient en permanence une moyenne de mille sept cents moines. Ce monastère fut le berceau spirituel de nombreux savants dont le grand Pandita Chutchen Tsulthrim Rintchèn. A Dergé, se faisait aussi la pra¬tique des trois traditions de Sakya, Ngor, et Tsar en ce qui concerne la façon de réciter les textes (mélodies etc..)

Le "deuxième Bouddha de notre temps de déclin'', Djamyang Tchientsé Ongpo, réunit les différentes Saddha¬nas en une seule collection et fit progresser les doc¬trines de toutes les écoles, mais particulièrement celles de Sakya, Ngor et Tsar.

Le disciple de ce maître, Sangda Loter Ongpo (un maître de récitation de Ngor) reçut des deux Lamas, Mipham Sengué Rabdjié de Tana et Ngawang Lédroup (maître de cérémonie de Ngor Ewam Tcheuden), tous les enseignements de la logique, du Madhyamika, des Paramitas, de la discipline, de l'Abhidharma et des trois vœux, ainsi que la tradition des cinq premiers Lamas fondateurs de Sakya.

Sangda Loter Ongpo composa, compila et réunit des commentaires aux cinq groupes de traités et fit beaucoup pour les diffuser. Entre autre, il réunit les enseignements secrets, tous les textes de pra¬tique des grandes initiations, explications, ensei¬gnements essentiels et commentaires des Tantras, tout en maintenant la tradition dans une collection de trente-deux volumes, intitulée Djiu Dé Kuntou. Ce fut lui aussi qui réunit le Lamdré Loshé en dix-sept volumes et contribua à leur diffusion dans le Té et le Mé (ouest et est du Tibet).

Particulièrement, le disciple de Loter Ongpo (et de son disciple) le grand Dorjé Tchang Ngawang Lodreu Jenphen Nyingpo, être saint, ''Maître de la Roue du Dharma'', transmit largement le Lamdré dans le Tsang et eut jusqu'à nos jours une grande assem¬blée de disciples.

Dans le monastère de Dzongsar Tashi Lha Tsèr (région de Dergé), l'incarnation de Tchientsé, Tcheudji Lodreu, a fondé un collège d'enseignement où l'on pouvait étudier les enseignements de toutes les écoles et principalement des dix-huit grands Traités Sakya¬pas. Il y fonda aussi un collège de pratique de tra¬dition principalement Tsarpa.

C'est ainsi que, dans cette région de Dergé, il y eut vingt-cinq monastères Ngorpa.

Le monastère de Thromdoguen, dans la région de Throm (Kham) fut fondé par Djialwa Tchangtchoup. Il contenait plus de mille moines.

Dans la région de Ga, le monastère de Tchiégou Tendroup ling (à Djié Koundo) le "deuxième Ewam'', fut fondé par Salo Djampal Dorjé. Ses collèges de pratique et d'enseignement furent réputés pour leurs règles sévères. Il comprenait environ mille cinq cents moines.

Celui qui fut le disciple de Djamguen Tchientsé, de Kontreul et de Djamyang Rintchen Dorjé, grand abbé de Thartsé parvint à "l'autre rive de l'océan des traités" et, dans sa pratique, l'esprit parfaitement concentré, il rencontra véritablement le seigneur du Dharma, Sakya Pandita, qui le conseillait chaque fois qu'il avait un doute au sujet du sens d'un enseignement.

Cet heureux disciple qui paracheva l'étude et la pratique du Lamdré, fut Djamguen Ngawang Lépa. Il pos¬sédait, dans cette incarnation, le rang de l'union de la vacuité et de la félicité.

Djamguen Ngawang Lépa avec son propre disciple, Mahapandita Adjam Rinpoché, ainsi que le disciple de ce dernier, tournèrent la Roue du Dharma dans leur monastère de Gatharlam Guenpa, "deuxième paradis des Bouddhas''.

Dans la région de Gava, il y avait vingt-et-un monastères Ngorpas dont également Thoupten Guen, et Thrindir Kalzang Guen.

D'autre part, dans le Kham et l'Amdo, se trouvaient aussi de nombreux autres monastères, Dzatchoukha, Tréhor, Nontchèn, Markham, Trayab, Lithang, Tarndo, Yenrou, Minya, Niarong, Tsarong et Djiarong, etc..

Dans la région de l'Amdo Ngapa, se trouvait le monastère de Dhipheu Tcheudjé, fondé par Tcheudra Zangpo et où fonctionnait un grand collège de Sutras et deTantras, comprenant plus de mille moines. Autour de ce centre, existaient cent huit monastères filiales.

Pour résumer, dans tout l'ouest du Tibet, du Laddhak à l'Inde et au Népal, de Ngari jusqu'à l'est et jusqu'à la Chine, fonctionnaient plusieurs milliers de monastères Sakyapas.

EMINENTES CARACTERISTIQUES DE CETTE TRADITION

En quoi la tradition Sakyapa se distingue-t-elle par ses qualités ?

Le Bouddha a dit :
"Nobles moines et savants, ce n'est pas par respect pour moi que vous devez pratiquer ma doctrine semblable à l'or pur, mais parce que vous l'avez par¬faitement examinée."

De la même façon, les vénérés fondateurs n'ont pas traité le Dharma des Sutras et Tantras en simple marchandise à vendre à la multitude.

Tout d'abord, leur lignée remonte au Bouddha et à Dorjé Tchang. Cette tradition de tous les Sutras et Tantras fut diffusée par les grands Panditas, de leur propre force, et par les grands maîtres de réa-lisation, et elle fut méditée et mise en pratique. Grâce au travail de traduction, d'explication, et d'ensei¬gnement, cette tradition est bien semblable à l'or purifié. Ses Lamas et Panditas ne se contentèrent pas de connaître un seul groupe de Soutras et Tantras, mais ils mirent tous leurs efforts à réaliser l'ensemble de toutes les traditions. Les nombreux disciples et tous ceux qui examinèrent ces enseignements avec habileté, connurent que l'on ne peut en mesurer les limites.

Cette tradition devint un grand trésor de Dharma de la doctrine parfaitement accomplie.

Son origine est authentique. La pratique de la triple activité (vision, méditation, et action) y est particulièrement éminente.

Les grands êtres et les innombrables savants et sages, gardiens de cette lignée des précieux fondateurs, furent comme l'arbre de vie de la parfaite doctrine du Bouddha, qu'ils embellirent de leur triple activité (enseignement, argumentation, et composition). Leur pra¬tique était intense. Ils respectaient dans tous les détails, les enseignements des trois Corbeilles et la pratique dans les trois entraînements. Avec la composition de traités et leurs compléments comme le Damssoum Rabyé de Sakya Pandita, ils firent la distinction parfaite entre les trois sortes de vœux, entre les dharmas justes et les faux dharmas.

Dans le traité Thoupé Gongsal, (Pensée du Puissant), on explique en détail la pensée de base de tous les Sutras et Tantras, ainsi que la nécessité des diffé¬rentes règles. En expliquant d'abord les distinctions entre les différents groupes d'enseignements, on peut les réunir tous ainsi dans une seule pratique et saisir qu'aucune des doctrines n'est contradictoire.

Capables de concentrer le sens de tous les grands traités dans une seule pratique (celle du Lamdré) et détenant les enseignements essentiels des Sutras et des Tan¬tras de façon authentique par la transmission d'une lignée ininterrompue, les Sakyapas furent dignes de la foi, et de la confiance des centaines de milliers de savants im¬partiaux qui voulurent bien examiner leur doctrine.

C'est donc ainsi que se distingue cette tradition.

La précieuse lignée orale du Lamdré, munie des quatre caractéristiques se distingue particulièrement par le traité du Tantra et de l'enseignement essentiel, et parce qu'il n'est nul besoin de chercher ailleurs dans d'autres Tantras, un sens qui n'existerait pas dans le Lamdré.

Si l'on se familiarise avec l'enseignement du Lamdré, on s'aperçoit de la profondeur du Tantra et de la lignée. Si on le pratique, on s'aperçoit que, même parmi les autres enseignements profonds, il est difficile d'en trouver dont la voie vers l'éveil soit aussi complète.

C'est ainsi que, si l'on sait pratiquer dans l'indifférenciation de la base, de la voie et du fruit, tous les sens profonds des Sutras et Tantras deviennent en un instant compréhensibles. On devient capable de transformer les fautes en vertus et les obstacles en pouvoirs.

Par la vertu de l'obtention des bons présages intérieurs, on obtient la certitude d'une connais¬sance dans tous les enseignements du Lamdré.

L'essentiel semblable à sa vie même, de la pratique du possesseur des trois vœux, dépend du respect des vœux essentiels et des engagements pris. En examinant le fait de prendre les quatre consécrations aux quatre périodes de méditation de la voie munie des quatre lignées orales dont la continuité du fleuve de l'initiation, etc., on s'aperçoit de son éminence.

Les savants et les sages de toutes écoles ont coutume de dire, au sujet de la tradition Sakya, que, grâce à la récitation journalière et continue de l'abrégé de la voie (Saddhana résumée de Guépadorjé) les Sakyapas se protègent contre les quatorze fautes racines et, s'en trouvant libérés, peuvent alors réaliser la bouddhéité en seize existences au plus.

Donc, cette tradition se distingue par ses grands bienfaits, et son risque moindre (absence du risque d'être souillé par les quatorze fautes racines).

C'est ainsi que les grands sages du passé, quels que soient les signes de réalisation qui survenaient en eux, les tenaient secrets.

Tout ce qui a été dit ci dessus, peut être tenu pour véridique. Quant au sens du mot Sakya, le vénéré Trapa Djialtsen a dit :

''Terre Blanche, semblable à la face d'un lion, vénérée Sakya semblable au corps d'un lion, là sont réalisés tous les désirs des six sortes d'êtres et là réside le vénéré seigneur Dorjé Tchang".

C'est ainsi que le nom du lieu servit aussi à désigner les adeptes.